A 6 de dezembro de 1959, no Estádio da Luz, o Benfica venceu o FC Porto por 2-1, numa partida a contar para a 10.ª jornada do campeonato nacional. Mais um motivo para os portistas, campeões em título, continuarem a chorar a "traição" do mago Bela Guttmann, que se passara para o arquirrival.
Corpo do artigo
Em toda a história da liga portuguesa, com mais de 80 anos de existência, só um treinador foi campeão em épocas consecutivas por clubes diferentes: o seu nome é Bela Guttmann e é ainda hoje uma das maiores lendas do nosso futebol.
Em 1958/59 o húngaro chegou ao Porto já no decorrer da temporada mas ainda conseguiu levar o clube ao título nacional após uma célebre disputa com o Benfica. No fim da Liga, os portistas venceram graças à diferença de golos. Ou melhor, devido a um golo de diferença, o marcado por António Teixeira no último minuto da última jornada, em Torres Vedras, frente ao Torreense.
Este ficaria conhecido pelo "Campeonato do Calabote", mas a vingança benfiquista seria terrível: convenceram o treinador campeão, Bela Guttmann, a mudar-se de armas e bagagens para o Estádio da Luz, para liderar um projeto que viria a transformar-se num império, também europeu.
Os portistas, esses, que viam Guttmann como um autêntico milagreiro, capaz de devolver ao clube a grandeza de outrora, tiveram que aceitar a partida do húngaro, que se desculpou dizendo que o clima húmido do Porto era muito prejudicial à sua saúde (há versões que dizem ter sido a saúde da esposa de Guttmann que serviu de pretexto, mas para o caso pouco interessa).
Seja como for, a realidade é que depressa o Benfica começou a tirar partido dos conhecimentos e do carisma do treinador nascido em Budapeste. Apenas perdeu um ponto nas primeiras dez jornadas do campeonato 1959/60 (em Guimarães), uma série que encerrou exatamente com a vitória (2-1) sobre o FC Porto no Estádio da Luz, com dois golos do "matador" José Águas, afundando os campeões em título no sétimo lugar da classificação com cinco derrotas em 10 encontros.
O resto é História e toda a gente a conhece: Guttman conduziu o Benfica ao título nacional logo na sua primeira época no clube (após disputa acesa com o Sporting, sendo o Porto quarto classificado, atrás do Belenenses, que foi mesmo a única equipa a vencer os encarnados na prova), a que se seguiram dois títulos europeus em 1961 e 1962, em finais perante Barcelona e Real Madrid. Com maldição europeia ou sem ela, a verdade é que o húngaro deixou um legado na Luz que permitiria ao Benfica dominar o futebol português durante as décadas seguintes.
Já o Porto, seguiu o caminho inverso, caindo de novo numa fria mediania, até que um treinador que fora jogador de Guttmann nas Antas, José Maria Pedroto, o resgatasse de novo para o calor do sucesso, no final da década de setenta.