A luta pelo título conhece este domingo o penúltimo capítulo de uma história que tem tudo para acabar bem para o Benfica. Mas depois das incríveis reviravoltas a que assistimos nas meias-finais da Liga dos Campeões, o melhor é não dar nada como certo, mesmo que os dados históricos estejam do lado encarnado.
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Vamos entrar nas duas últimas jornadas e continua tudo em aberto em relação à disputa entre Benfica e Porto pelo título de campeão nacional. Conforme o campeonato se aproxima do fim, a águia torna-se cada vez mais favorita, sendo que agora até pode empatar em Vila do Conde este domingo no fecho da jornada 33, desde que depois ganhe em casa na última ronda ao Santa Clara. E há, claro, a possibilidade do Porto perder pontos, dada a deslocação (também no domingo, mas antes do jogo do Benfica) ao terreno do hiper-aflito Nacional, e a receção ao terceiro classificado Sporting, na derradeira jornada
Nas atuais condições, nunca uma equipa perdeu o campeonato
A favor dos encarnados estão igualmente os dados históricos. Nunca na existência da liga portuguesa um líder que à entrada da penúltima jornada detivesse vantagem pontual sobre o principal rival, sem ter que defrontar um dos grandes até ao fim da prova, perdeu o campeonato. É o caso deste Benfica que tem dois pontos de avanço sobre o segundo e não joga contra qualquer grande.
Por acaso, o Benfica até se deu mal nas duas últimas ocasiões em que era líder na penúltima jornada e teve que jogar com um dos outros dois grandes. Foi assim que perdeu o campeonato de 2012/13, para o Porto, devido à derrota no Dragão na penúltima ronda, aquando do célebre ajoelhar de Jesus após o golo de Kelvin.
De igual forma, perdeu o campeonato 1985/86 para o Porto, apesar de entrar na penúltima jornada com mais dois pontos do que os portistas, sendo que dessa vez foi vencido pelo Sporting, na Luz.
Casos parecidos aconteceram em mais três ocasiões na história do campeonato:
- ao Benfica, em 1959 (derrota com o Sporting na penúltima ronda, o que possibilitou ao Porto ser campeão)
- ao Belenenses, em 1955 (empate do Belenenses em casa com o Sporting na última jornada, que deu o título ao Benfica)
- ao Sporting, em 1943 (derrota na Luz na penúltima jornada, que tornou o Benfica campeão)
Em todos estes cinco casos, contudo, os líderes foram obrigados a jogos contra grandes nas duas derradeiras rondas. O que não se verifica com o Benfica na presente situação.
Deve no entanto referir-se que existe um exemplo único de um clube que perdeu o campeonato sendo líder na penúltima jornada, sem ter que defrontar grandes: foi o Porto, em 1978/79, que, apesar disso, não tinha qualquer ponto de vantagem sobre o segundo classificado (o Sporting) à entrada da penúltima ronda. Dragões e leões estavam empatados, embora com superioridade portista no confronto direto. Por isso mesmo, bastou um empate do Porto na Póvoa perante o Varzim para os leões passarem para a frente da liga e serem campeões, graças a vitórias em Guimarães e em Alvalade perante o Leiria.
Ora sabemos que, na situação atual, um empate em Vila de Conde mantém o Benfica na liderança, permitindo-lhe depois ser campeão em casa com o Santa Clara.
Para ser campeão, o Porto teria que fazer o que nunca fez na sua história
Mas há ainda outro dado histórico que "funciona" contra as pretensões portistas ao título. Como vimos há umas semanas, para o Porto ser campeão teria que fazer algo que nunca fez na sua história: perder os dois jogos com o rival mais direto e mesmo assim chegar ao título. Recorde-se que o Porto perdeu com o Benfica na Luz por 1-0 e em casa por 2-1. Em nenhum dos 28 títulos conquistados pelo Porto se verificou tal situação.
Mas há mais: em toda a história da liga portuguesa (cujo o início remonta a 1934, há 85 anos) só por uma vez o campeão perdeu os dois jogos contra o segundo classificado. Aconteceu em 1974, quando o Sporting impediu o tetra do Benfica pela quarta vez consecutiva (1962, 1966, 1970 e 1974), mesmo perdendo os dois jogos com o Benfica (2-0 na Luz e 5-3 em Alvalade). Os leões foram campeões com mais dois pontos do que os encarnados, na época em que Yazalde bateu (até hoje...) o recorde de golos marcados numa edição do campeonato: 46...
A jornada verdadeiramente decisiva?
Seja como for, a verdade é que se há jornada realmente decisiva é esta penúltima. Ninguém imagina o Benfica a perder o campeonato na última ronda, perante o seu público, frente a uma equipa descansada na tabela.
Além disso, o Porto, que entra primeiro em ação (domingo, 17h30), terá que defrontar um Nacional em desespero total, completamente dependente de terceiros para poder ficar na I Divisão, mas que, para tal, tem que fazer também o seu trabalho.
A equipa de Costinha está num momento péssimo, apenas conseguindo dois pontos nos últimos oito jogos. Os insulares têm a pior defesa da liga, com 66 golos concedidos, a uma média superior a dois golos por jogo. Apesar disso, nos jogos em casa não sofrem tantos golos (18), mas marcam muito pouco (12, o que corresponde ao pior ataque caseiro). Este Nacional constitui mesmo uma das equipas menos agressivas (em todos os sentidos) da liga, sendo ainda a formação que comete menos faltas.
Acresce dizer que os portistas venceram nas duas últimas deslocações à Choupana, embora haja casos recentes de escorregadelas portistas muito comprometedoras como o empate a uma bola em 2014/15 (quando estavam na luta pelo título com o Benfica), mas é um facto que nos 10 últimos jogos na Choupana para o campeonato o Porto venceu oito, empatou um e perdeu outro.
Pouco menos de uma hora depois de terminar o jogo na Madeira, inicia-se o Rio Ave-Benfica. Conforme o resultado portista, o Benfica poderá entrar mais ou menos pressionado em campo, mas, de qualquer forma, terá pelo menos que empatar para celebrar logo o título ou ficar dependente de si próprio para a última jornada.
Outra certeza é que se os encarnados mantiveram o desempenho recente fora de casa - desde que Lage chegou ao comando técnico - não têm que se preocupar, já que apresentam oito jogos fora e oito vitórias, incluindo no Dragão, em Alvalade e Braga. O saldo de golos fora de casa é igualmente impressionante: 23 golos marcados, perto da média dos três golos por jogo.
Apesar disso, deve referir-se que o Rio Ave tem sido uma das equipas que mais tem pontuado neste fim de temporada, logo a seguir aos três grandes, com uma performance semelhante a Boavista, Aves e Marítimo.
Venceu três dos seus últimos quatro jogos (em Moreira de Cónegos, em casa do Belenenses, e no seu reduto perante o V. Guimarães), e empatou com o Porto em Vila do Conde. Conseguiu assim alcançar o sétimo lugar e ainda pode chegar ao sexto (está a quatro pontos do V. Guimarães), que pode ser um lugar europeu, dado que o Moreirense não se inscreveu nas provas da UEFA.
Para este desempenho recente contribuíram muito os regressos do central Borevković e do avançado Nuno Santos, que marcou em três desses últimos quatro encontros.
O rioavista mais influente na Liga continua a ser Gelson Dala com cinco golos e cinco assistências, enquanto Wenderson Galeno (emprestado pelo Porto) tem vindo a perder protagonismo, apesar dos seus cinco golos e três assistências.
Do lado do Benfica, há mais um motivo de interesse nesta parte final do campeonato: a luta de Seferovic para se afirmar como o melhor marcador do campeonato. O suíço tem feito uma temporada incrível, nomeadamente desde a chegada de Lage: marcou 17 golos nos últimos 15 jogos realizados. Feitas as contas, tinha apenas quatro golos apontados à jornada 15.
Nota: Este foi um dos destaques do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20h30) - que pode ouvir aqui, na íntegra - no qual abordamos ainda os jogos da luta pela manutenção na jornada 33 do campeonato, entre outros temas.