Ana Rente é considerada a melhor atleta portuguesa de sempre na modalidade de trampolim. A ginasta de Tomar concilia o desporto de alta competição com a profissão de médica.
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Ana Rente sempre teve jeito para o desporto. A mãe, que é professora de Educação Física, também ajudou a incutir o gosto pelo exercício físico. "Tenho três irmãos e sempre fomos muito da brincadeira, de jogar à bola. Sempre fui daquelas raparigas maria-rapaz", revela.
A atleta foi experimentando várias modalidades, até acertar. Começou pela ginástica acrobática mas acabou por passar para o trampolim acrobático quando o atleta com quem fazia par foi viver para Lisboa. "Eu era aquela pessoa que andava lá aos pinotes, a fazer uns mortais, uns pinos, umas coisas giras e depois, de repente, já tinha de ser a pessoa que vinha cá para baixo e que mandava os outros ao ar. E isso não gostei muito".
Aos 12 anos, trocou o tapete pelo trampolim mas a adaptação ainda demorou algum tempo. "A acrobática deu-me muitas bases para ser uma boa ginasta mas também deu-me muitos erros que nos trampolins não podem ser cometidos".
Ana Rente confessa que passou por "muitos sacrifícios, muitas alegrias, muitas tristezas", mas o trabalho extra e o espírito competitivo ajudaram a ultrapassar as dificuldades. "Desde cedo que eu tenho esse espírito competitivo. Desde que entrei para a ginástica que sinto esse espírito e tenho necessidade. Treinar só por treinar não me dá muito gozo", confessa.
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Carlos Nobre, um dos treinadores de Ana Rente, lembra que quando a atleta veio de Tomar para estudar em Lisboa já trazia nome feito no salto de trampolim. "Já tinha sido campeã da Europa de juniores. Nós conhecíamos muito bem a Ana, não só em termos nacionais como em termos internacionais, portanto não foi nenhuma surpresa", conta o técnico do Lisboa Ginásio Clube.
A médica ginasta
Carlos Nobre conta que a atleta tem "aquele ar muito decidido" quer no trampolim, quer nos estudos. Ana Rente é médica, e durante muito tempo, teve de conciliar os livros e os saltos no Lisboa Ginásio Clube. "No treino nós não sentíamos dificuldade nenhuma por parte da Ana. Muitas vezes em competições o que nós víamos é que no avião, ela ia a estudar. Quando estávamos em estágio, ela estava a estudar enquanto os outros, muitas vezes, estavam a descansar", recorda.
Ana Rente considera que a gestão da vida de atleta e de estudante foi difícil. Ainda assim, "aquela fase era mais fácil do que agora", porque está no último ano da especialidade de medicina geral e familiar, o que exige mais dedicação. "[Quando] estamos a trabalhar a coisa não é tão fácil. Neste momento, eu tenho de cumprir 40 horas semanais e tenho de cumprir as horas de treino".
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No ano passado, Ana Rente viu o esforço recompensado ao receber uma bolsa de mérito da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. "Acho que este apoio é fundamental para o desporto português poder evoluir porque sentimos aquela pressão extra em ter bons resultados quer na carreira desportiva, quer também a carreira académica. Depois só conseguimos revalidar a bolsa se tivermos 50% dos créditos feitos", explicou.
Três jogos olímpicos
Ana Rente é considerada por muitos como a melhor atleta nacional de sempre na categoria de trampolim. Uma fama com proveito, já que a ginasta foi a única portuguesa da modalidade a conseguir apurar-se para três jogos olímpicos.
"Os meus primeiros jogos olímpicos foram os de Pequim. Claro que era tudo maravilhoso", recorda, referindo que "o facto de estarmos numa aldeia olímpica com atletas de todo o mundo, de todas as modalidades possíveis, com os melhores do mundo concentrados ali numa aldeia, foi uma sensação espetacular".
Depois de Pequim em 2008, seguiram-se os Jogos Olímpicos de Londres onde atingiu a 11ª posição, voltando a alcançar a mesma classificação nos jogos do Rio em 2016.
O treinador explica que a prova é curta e restrita. "Estão só os 16 melhores do mundo. Só o conseguir estar lá é uma coisa gigante. Ela conseguiu lá estar três vezes", conta com orgulho. Carlos Nobre acrescenta que são os detalhes que decidem a competição. Nos Jogos Olímpicos do Rio "ficou a dois décimos de entrar na final", acabando por ficar na 11ª posição. "Parece que não tem assim grande expressão, mas é uma coisa fantástica mesmo".
Aos 30 anos, Ana Rente deixa em aberto o futuro da carreira desportiva. "É uma decisão muito complicada de quando terminar uma coisa que nós começamos há 20 anos, e quando sentimos que ainda temos mais para dar. Mas essa sensação pode durar uma vida inteira. Acho que é muito importante saber quando temos de parar", referiu.