A ideia é de Jaime Marta Soares e parece o enredo de um filme de ficção científica, mas passou-se em Alvalade. As máquinas foram o fator surpresa da noite que elegeu Frederico Varandas como presidente do Sporting.
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Já passava das três da manhã quando Frederico Varandas, o recém-eleito 43.º presidente do Sporting, subiu ao palco para se dirigir às centenas de associados que o esperavam na Praça Centenário, junto ao estádio José Alvalade XXI. Até esse momento, nas horas que antecederam a consagração do novo presidente leonino, houve uma nova e estranha calma em Alvalade, mas também a mesma lentidão, e até confusão, do último ato eleitoral. Tudo isto por culpa das "máquinas".
A explicação foi dada por Jaime Marta Soares, aquando da apresentação dos resultados finais das eleições leoninas. No auditório Artur Agostinho, Marta Soares explicou que "o homem constrói a máquina e a máquina cria-lhe alguns problemas". E as máquinas são, nada mais, nada menos, que as urnas eletrónicas utilizadas para estas eleições.
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O processo parecia simples quando o presidente da Mesa da Assembleia-Geral o explicou, por volta das 19h40, depois de o último sócio ter votado: os votos seriam recolhidos, através de pens, de cada uma das urnas eletrónicas. Depois, seriam levados para a "sala dos computadores", onde estariam reunidos Jaime Marta Soares, técnicos da Universidade do Minho, funcionários do Sporting e delegados de cada uma das listas. O problema esteve nos computadores e nos cabos, que de alguma forma pareciam não ler as pens, e sem pens não havia votos.
Toda esta situação é, então, a justificação para que a revelação dos resultados tenha acontecido já perto das três da manhã, quando a primeira estimativa apontava para, no máximo, a uma da madrugada.
O dia de eleições, esse, correu sem grandes problemas. Todos os candidatos conseguiram votar pacificamente e, mesmo com o receio no ar de que Bruno de Carvalho pudesse aparecer em Alvalade, não houve confrontos a registar. As derradeiras horas que marcaram o ato eleitoral no Sporting não verificaram confusões ou momentos de tensão, em contraste com os últimos atos eleitorais no clube de Alvalade.
A Manuel "calhou" ser o último a votar
Passavam 40 minutos das 19h00, hora oficial de fecho das urnas, quando Jaime Marta Soares entrou na sala de imprensa do estádio José Alvalade XXI para anunciar que o programa do dia de eleições tinha sido cumprido. Às 19h00 em ponto era autorizada a entrada ao último sócio para votar.
De polo verde e calças de ganga, Manuel Monteiro nem deu conta do protagonismo acidental que acabou por ter. "Calhou", disse, quando questionado acerca do facto de que tinha sido o último (excetuando Marta Soares) a votar. Sócio desde 1965, Manuel garante que não fez nada de especial para ser o último, ao contrário de outros, que viram gorada a esperança de ser o último da fila.
Nas imediações do estádio estava pouco mais de uma centena de adeptos. Fernando Tavares Pereira reunia alguns membros da sua campanha à sua volta, depois de ter sido o último dos candidatos a votar. Por entre conversas paralelas dos sportinguistas que se deixaram ficar nas imediações do estádio, iam-se ouvindo os nomes dos três candidatos que pareciam reunir mais popularidade entre quem estava em Alvalade: Benedito, Varandas e Ricciardi. Dos outros candidatos, nem sinal.
As longas (e esticadas) horas
O vencedor apareceria mais tarde para festejar a vitória naquelas que foram as eleições mais concorridas de sempre do Sporting. Votaram 22.510 eleitores, divididos entre os 19.159 os eleitores que, segundo Jaime Marta Soares, foram "depositar o seu voto" nas urnas eletrónicas e os 3351 que votaram por correspondência.
Na rua, eram cada vez menos os sportinguistas que acompanhavam o desenrolar da noite, pelo menos até que fossem conhecidos os resultados. Nem a longa declaração de Sousa Cintra e Torres Pereira pareceu reunir especial atenção do grupo de (agora) pouco mais de uma dezena de sportinguistas que ficou junto ao estádio. A conversa entre adeptos era, inevitavelmente, sobre o ato eleitoral no qual tinham participado, mas também sobre o facto de Bas Dost ter ido votar, sobre o sistema de atribuição de votos aos sócios, baseado na antiguidade, e sobre os rivais da Segunda Circular.
Por volta da uma da manhã o número de sócios em Alvalade voltou a subir. A ansiedade para conhecer o resultado aumentava a cada minuto até que, uma hora depois, os sócios se fizeram mesmo ouvir. Dos portões da Praça Centenário vinham pedidos para que os portões fossem abertos e os resultados divulgados, isto quando o palco (que chegou ligeiramente atrasado à festa), já estava montado.
Meia hora depois, Jaime Marta Soares entrava no auditório Artur Agostinho para anunciar aquilo que, a avaliar pela festa na "sede de campanha" de Varandas, já se sabia: o ex-diretor clínico do Sporting vencia as eleições com 42,32% dos votos, seguido de João Benedito, com 36,84%.
Por volta das três da manhã, mais de sete horas depois do fecho das urnas, Varandas subia ao palco da Praça Centenário para o seu primeiro discurso enquanto presidente do Sporting.
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