Um dos maiores problemas de Rui Vitória na passagem pelo Benfica tem sido a falta de jogos (com triunfos) emblemáticos, daqueles que entusiasmam os adeptos e perduram na memória coletiva. Esta terça-feira, na Allianz Arena, o treinador encarnado pode ter uma oportunidade de ouro, até para conquistar o crédito de uma nova vida no comando da equipa.
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Não falta quem considere que o emprego de Rui Vitória no Benfica pode estar em risco na visita desta terça-feira ao reduto do Bayern de Munique. Mas perder na Allianz Arena dificilmente terá o impacto negativo suficiente para "despedir" um treinador, a não ser que se trate de uma goleada histórica. Acontece que os encarnados foram esmagados em três das quatro visitas anteriores ao terreno dos bávaros (duas vezes por 4-1, em 1981 e 1995, e uma vez por 5-1, em 1976).
No entanto, para o treinador das águias fará muito mais sentido pensar ao contrário: num jogo em que a sua equipa parece ter já pouco a perder em termos competitivos (nem sequer depende de si para conseguir o apuramento para a fase eliminatória da Liga dos Campeões), Rui Vitória tem quase tudo a ganhar: um triunfo em casa do Bayern seria um autêntico balão de oxigénio, que podia durar para o resto da temporada.
Convém recordar que o Bayern é um dos três maiores tubarões do futebol europeu atual e ocupa a terceira posição no ranking das formações com mais conquistas da Taça/Liga dos campeões (5).
Além disso, nunca perdeu em casa com uma equipa portuguesa - 10 vitórias e dois empates em 12 jogos, nos quais marcou 38 golos e sofreu nove, a uma média superior a três golos marcados e 0.75 sofridos.
Aliás, em toda a sua história, o Bayern somente perdeu duas vezes com equipas lusas (ambas com o Porto: em 1987, em Viena, na final da Taça dos Campeões e em 2015, no Dragão), num total de 27 encontros, dos quais venceu 16.
Ganhar hoje em Munique seria, pois, uma grande proeza para o Benfica e para Rui Vitória, que tem exatamente na falta de grandes triunfos (que não obrigatoriamente títulos conquistados), daqueles que ficam para a história e na memória do adepto para sempre, uma das suas maiores falhas na relação com os benfiquistas.
Senão veja-se: desde que chegou ao Benfica (no início da temporada 2015/16), Vitória perdeu ou empatou a maioria dos clássicos internos e dos jogos da Liga dos Campeões. Neste tipo de partidas soma 20 derrotas, 10 empates e somente 12 vitórias, o que corresponde, portanto, a menos de 30% de sucesso. Para que se tenha uma ideia, em competições internas apenas venceu o Porto numa ocasião em sete encontros e com o Sporting soma dois triunfos em nove partidas. Já na Liga dos Campeões conta com 14 derrotas em 26 encontros.
Claro que mais importante do que estes números são os dois campeonatos nacionais conquistados por Rui Vitória em três temporadas completas na Luz mas, nesta altura em que a maioria dos benfiquistas parece querer vê-lo pelas costas, Vitória precisa desesperadamente de um sucesso vistoso e o atual momento de forma do Bayern está mesmo a "pedi-las". O próprio treinador dos bávaros, Niko Kovac, tem o lugar em risco, devido ao pior arranque do clube na Bundesliga desde 2010, com três derrotas e três empates em 12 partidas, o que corresponde a um modesto quinto lugar na classificação, já a nove pontos do líder, o Borussia de Dortmund.
Apesar disso, é um facto que a crise se resume ao campeonato alemão, dado que o Bayern comanda o seu grupo na Liga dos Campeões (com três vitórias e um empate, precisando apenas de um ponto no jogo de amanhã para assegurar a passagem aos oitavos de final), ganhou a Supertaça alemã e mantém-se na Taça do país.
Um último fator de esperança para o Benfica: o desempenho caseiro menos consistente do que é habitual dos bávaros - nos derradeiros seis encontros em casa para todas as provas, apenas venceram uma vez (exatamente na Liga dos Campeões, 2-0 ao AEK - sendo que empataram a outra partida "milionária", 1-1 com o Ajax). Algo que já não se via desde 2009.