Frederico Varandas cumpre este sábado os primeiros seis meses do seu mandato de quatro anos, como presidente do Sporting CP. O "check up" de um médico, para dar um novo rumo ao clube.
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Os sócios leoninos foram a votos a 8 de setembro e, no dia seguinte, os novos órgãos sociais tomaram posse no Estádio José Alvalade.
Frederico Varandas sucedeu na liderança do Sporting à Comissão de Gestão, que esteve em funções logo depois de Bruno de Carvalho ter sido destituído da presidência.
A tarefa não se adivinhava fácil, e confirma-se. Nestes primeiros meses como presidente leonino, o médico Frederico Varandas pegou num "clube doente" a precisar urgentemente de um "check up".
Mudar o treinador, começar um novo projeto
Um percurso, ainda curto, feito de conquistas e derrotas. Mas a primeira grande decisão surge com o despedimento de José Peseiro, durante a madrugada do dia 1 de novembro, depois dos leões perderem frente ao Estoril em casa, em jogo da Taça da Liga. Um resultado que não colocou em causa as ambições do Sporting na prova que viria a ganhar, alguns meses depois.
O despedimento de José Peseiro foi a primeira chicotada na Liga 2018/2019. O Sporting tinha sofrido a quarta derrota da época no total de 14 jogos oficiais. Peseiro deixava o clube leonino no quinto lugar do campeonato, a dois pontos dos líderes FC Porto e Sporting de Braga e um de Benfica e Rio Ave, e na segunda posição do Grupo E da Liga Europa, apenas atrás do Arsenal.
José Peseiro também tinha conseguido a qualificação para a quarta eliminatória da Taça de Portugal e, apesar da derrota com o Estoril na Taça da Liga, estava na luta para passar à próxima fase. Mas as exibições cinzentas da equipa, não agradavam aos sócios e à direção.
Paulo Sousa, Jorge Jesus, Leonardo Jardim foram alguns dos nomes apontados para a liderança técnica do Sporting, enquanto Tiago Fernandes, membro da equipa técnica de Peseiro ficava como treinador interino.
Mas a surpresa foi geral, quando Frederico Varandas apresenta como treinador o holandês, Marcel Kaizer. O técnico chegava do Al Jazira, depois de ter liderado a equipa do Ajax.
Urgente amealhar dinheiro
Um Sporting que precisava - precisa - de dinheiro. E dias depois de tomar a liderança, Frederico Varandas arrecadou 26,1 milhões de euros com o empréstimo obrigacionista, que tinha um valor máximo de 30 milhões de euros.
Os leões deram conta deste valor em comunicado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), sublinhando que "tratou-se de um 'sprint' considerável em cima da meta". Até porque o Sporting tinha que reembolsar os obrigacionistas por um empréstimo anterior, e que já tinha sido adiado, no valor de 30 milhões de euros.
Faltavam 4 milhões de euros. Franciso Salgado Zenha, vice-presidente com o pelouro financeiro, desdramatizou a questão, referindo que o "clube tinha liquidez própria para fazer face a essa diferença."
Saída de 10 jogadores, mas apenas 4,5 milhões em caixa no mercado de inverno
Frederico Varandas que aproveitou nestes primeiros seis meses para arrumar o plantel. Entradas e saídas, mas neste caso foram muitos "acenos de adeus" de jogadores que deixaram o Sporting no mercado de transferências de inverno. Incluindo o capitão Nani, que foi jogar futebol para "terras do Tio Sam". Mais uma vez o plano de Frederico Varandas, em prol de um novo projeto desportivo passava por aliviar o clube de ordenados elevados, e assim desce o valor anual da massa salarial.
Com tantas mexidas o clube foi obrigado a informar através de comunicado que a maioria dos negócios foram feitos sem qualquer valor envolvido.
Foram sete os jogadores que deixaram o Sporting a custo zero. A começar por Bruno César, que rumou ao Vasco da Gama. Além do brasileiro, também saíram Kouyaté, Euclides Cabral, Fabrice Fokovo, Montero, Nani e Castaignos
Quanto a vendas, Marcelo rendeu 440 mil euros, Tiago Djaló saiu por 500 mil euros, rumo ao Milan, mas o maior encaixe veio da Turquia, com o Alanyaspor a exercer a opção de compra por Demiral, tendo pago 3,5 milhões de euros.
Mas vamos aos "olás". Para novas entradas, Frederico Varandas autorizou o gasto de 12,375 milhões de euros na contratação de oito jogadores.
A contratação mais cara foi o costa-marfinense Idrissa Doumbia, por quem o Sporting pagou 3,8 milhões de euros aos russos do Akhmat Grozny, além 480 mil euros de comissão, totalizando assim um investimento de 4,28 milhões de euros no médio.
O segundo mais caro foi o colombiano Cristián Borja, por quem os leões investiram 3,1 milhões de euros por 80% do passe. Já Tiago Ilori foi adquirido aos ingleses do Reading, com o Sporting a pagar 2,4 milhões de euros por 60% do passe.
Os leões comunicam ainda que exerceram a opção de compra do guarda-redes Renan Ribeiro junto do Estoril, no valor de um milhão de euros. O equatoriano Gonzalo Plata, recém chegado a Portugal, representou um investimento de 1,075 milhões de euros por 50% dos direitos económicos, tendo ainda sido paga uma comissão de 400 mil euros pelo negócio.
Por sua vez, o avançado brasileiro Luiz Phellype custou aos cofres leoninos 500 mil euros pela contratação ao Paços de Ferreira, tendo ainda pago uma comissão ao empresário do atleta no valor de 206 mil euros.
Entradas e muitas saídas. Frederico Varandas arruma a casa ao seu estilo, depois da Comissão de Gestão liderada por Sousa Cintra, ter planeado a época durante o verão mais conturbado da vida do clube.
A reconquista da Taça da Liga, o primeiro troféu de Varandas
Mas também houve espaço para uma conquista. O Sporting de Marcel Kaizer encantou no início. Os leões esmagavam os adversários, com goleadas atrás de goleadas. Mas depois da "lua de mel", os primeiros resultados adversos - e exibições menos conseguidas - começam a surgir com a viragem do ano.
Foi neste sentimento misto de dúvida e capacidade de Marcel Kaizer, que os leões reconquistam a Taça da Liga. Foi o primeiro troféu do treinador holandês à frente da equipa principal de futebol dos leões.
Depois de afastar nas meias finais o SC Braga, o Sporting marca na agenda a final com o FC Porto. O jogo entre dragões e leões chegou ao final empatado a um golo. Sendo necessário recorrer a grandes penalidades, no Estádio Municipal de Braga, tal como tinha acontecido na época anterior.
O VAR foi decisivo para o desfecho da prova, isto porque, foi com uma decisão através do "écran", quando o videoárbitro aos 88 minutos deu indicação a João Pinheiro para ver as imagens televisivas, que o juiz da partida assinalou um penálti de Óliver sobre Diaby, e que Bas Dost não falhou. Estava feito o empate a um golo. A partida foi para o desempate na "marca dos onze metros", onde os leões foram mais eficazes.
Frederico Varandas levanta o primeiro troféu como presidente leonino
"Não vi ninguém do Benfica a negar conteúdo dos e-mails"
Depois de ser campeão de inverno, surgia no futuro próximo leonino um duplo embate com o rival de Lisboa, o Benfica. O jogo para o campeonato em Alvalade, e o encontro na Luz para a primeira mão das meias finais da Taça de Portugal.
Antes desse duplo confronto, Frederico Varandas faz um balanço dos primeiros meses na cadeira de sonho verde e branca, mas também aponta críticas ao Benfica e ao "velho dirigismo", palavras do doutor.
"Estou a ser acusado de querer incendiar vésperas do dérbi, mas vou ser muito claro sobre a razão que me levou a dizer o que disse. Quer como médico, quer como oficial do exército, eu tenho os meus princípios e valores. E como presidente do Sporting não vou alterar nada nem abdicar deles", disse Frederico Varandas numa entrevista.
O mais recente líder leonino, continuou a apontar "farpas" aos encarnados, referindo "que não misturo o Benfica com o seu presidente e os seus dirigentes. Tenho o maior respeito pela instituição Benfica. Um clube só é verdadeiramente grande se tiver um grande rival e o Benfica é o nosso grande rival histórico. Agora, não misturo a instituição com o seu presidente. Mas um clube só é grande com um grande presidente".
Frederico Varandas falava pela primeira vez, de forma dura sobre o caso dos emails, em véspera de jogar com o Benfica em Alvalade, num encontro determinante para as contas do clube na Primeira Liga.
As águias acabam por vencer o dérbi por 4-2. Um resultado, que permitiu ao Benfica, na altura, segurar o segundo lugar, atrás do líder FC Porto. O Sporting ficou longe do título, na quarta posição, atrás do FC Porto, Benfica e Sporting de Braga.
Os lenços brancos surgem nas bancadas. Era o adeus ao título, e o reinício dos protestos em Alvalade, que pioraram depois do Sporting ter ido à Luz perder com as águias por 2-1, na primeira mão da meia final da Taça de Portugal.
E voltamos ao dinheiro. O emblema "leonino" precisa de 41 milhões de euros até Junho
Os resultados não ajudam, mas o dinheiro também está em falta. Foi com um comunicado que Frederico Varandas, informou os sócios e adeptos do clube leonino que o Sporting está numa situação financeira muito delicada e que para fazer face aos seus compromissos a breve prazo não tem outra solução que não seja antecipar receitas.
No comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) a SAD do Sporting revela que necessita de 65 milhões de euros nos próximos 12 meses, sendo que destes, 41 são necessários já até Junho.
Frederico Varandas prepara-se para antecipar receitas, nomeadamente as televisivas, relativas ao contrato de cedência de direitos de transmissão dos jogos da equipa principal de futebol estabelecido entre a SAD e a NOS.
O presidente do Sporting deixa o aviso. O clube vai tentar angariar novos patrocínios para a equipa principal de futebol, o Estádio José Alvalade ou a Academia em Alcochete, mas neste caso não existem "receitas médicas" que o doutor possa receitar para solucionar o problema. Caso toda esta operação não seja bem sucedida, só resta um caminho: a venda de jogadores.