O costa-riquenho, afastado do plantel até 13 de novembro, bateu o penálti decisivo da vitória do Sporting contra o FCP, nas "meias" da Taça da Liga. Os leões estão na final de sábado contra o V. Setúbal.
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Era uma vez um poeta que vivia numa aldeia recôndita num lugar longe daqui. O talento era a escritura num jeito meloso, com a cadência a piar como um relógio suíço e o verbo pouco arrojado, embora sublime. Esteve na moda em tempos, mas a chegada de outros escritores ao reino, poemas menos felizes e os humores do seu mentor colocaram-no na prateleira. Guardou a máquina de escrever, mas continuou a escrever, à mão. Por lá ficou, à espera de um poema certeiro. A oportunidade de voltar a escrever voltou a 13 de novembro, quando regressou à elite. Passados pouco mais de dois meses, um poema mudou a história recente da aldeia. É o herói do povo outra vez. Esta é a história de Bryan Ruiz, o homem que bateu o penálti decisivo na meia-final contra o FC Porto, depois de um zero-zero, num jogo pobre e demasiado faltoso (56 faltas).
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As novidades chegaram no onze de Sérgio Conceição, com as entradas de Iker Casillas, Soares e Sérgio Oliveira. Jorge Jesus colocou em campo o mesmo onze pelo terceiro jogo consecutivo. Ou seja, Rúben Ribeiro continua na equipa principal, relegando Battaglia para o banco. Há mais pés, há mais capacidade de ter a bola. Na teoria, pois este jogo teve tudo menos ideias, paciência e pensamento.
Há aqui algo intrigante. Sérgio Oliveira voltou a ser titular, o aconteceu apenas pela sexta vez. Mas os rivais para os quais é chamado não são para brincadeiras: Mónaco, Sporting, Leipzig, Besiktas, Benfica e Sporting. Ou seja, o médio é chamado para os desafios mais exigentes. Faz lembrar uma história de Gary Neville contada pelo próprio no documentário "The Class of 92". Uma vez Alex Ferguson disse-lhe que ia ficar três jogos de fora para estar pronto para um certo jogo. Neville, com um humor olímpico, disse que ficou baralhado: "Ele está a dizer que sou muito bom e que vou jogar aquele jogo ou que sou mau e não jogo estes três?". Foi mais ou menos isto. Com Sérgio Oliveira parece o mesmo...
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Resumindo o jogo: o Sporting entrou melhor e o FCP foi equilibrando. No segundo tempo os dragões estiveram melhor, embora Coates tenha enviado uma bola ao poste. Ambas as equipas tiveram infelicidade no que toca a lesões, perdendo duas pedras chave: Danilo e Gelson. Óliver e Battaglia foram os substitutos.
O Sporting ia tendo mais bola, tinha mais paciência a começar a jogada, com William perto dos centrais, Coates e Mathieu, mas essa serenidade esfumar-se-ia. Muitos duelos, muitas bolas perdidas, foi o que se viu durante quase toda a partida. O FCP até costuma estar mais confortável neste contexto, lançando os avançados em ataques rápidos venenosos, mas não saía nada. Os criativos tinham pouco protagonismo, o que ia valorizando os homens mais agressivos nos duelos, nomeadamente Fábio Coentrão, que para os enviados da TSF a Braga foi o melhor em campo.
Rúben Ribeiro ia sendo dos melhores com a bola no pé, jogando para os colegas, tentando chegar à frente com qualidade, oferecendo sempre a opção, o que mostra bem o caráter deste reforço de inverno. Mas também o seu papel ia sendo diluído num jogo pobre, principalmente quando o Sporting começou a apostar na bola longa para Bas Dost.
Aos 37' Soares, isolado por Sérgio Oliveira, meteu a bola na baliza de Rui Patrício, houve festa rija... mas o vídeo-árbitro anulou o golo por fora de jogo. Ou seja, na frente dos marcadores só os nervos e as faltas.
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O segundo tempo começou com um ping pong de bolas perdidas pouco digno, com o campo a ficar pesado, a cabeça errante e as pernas a chorar, que possibilitou a Marega cruzar para Soares. Valeu o grande corte de Coates. O Sporting de Jesus estava ainda mais desconfortável com a bola. Aos 61' já haviam sido apitadas 40 faltas.
Quando o Porto estava melhor, o poste da baliza de Casillas tilintou. Foi Coates, depois de um belo cruzamento de Fábio Coentrão: a bola ressaltou caprichosamente para as mãos de Iker. O futebol vive muito do que se passa na cabeça dos jogadores, como costumam dizer. Nas duas jogadas a seguir viu-se um Sporting mais à sua imagem, melhor com a bola no pé, a tentar chegar à frente com mais categoria. Mais uma vez, esse sentimento fugiria a sete pés de Braga.
Nos minutos seguintes iriam entrar Aboubakar, Bryan Ruiz, Waris e Montero -- o FCP começou a ser mais venenoso nas linhas. Os reforços de inverno, os dois últimos, foram chamados à responsabilidade. O ganês ex-Lorient até cabeceou, já perto do fim, com perigo, mas saiu ao lado. A frustração e a falta de pernas iam dando sinais. Já depois da hora, Marega decidiu mal e preferiu chutar quando tinha Waris e, talvez melhor posicionado, Brahimi mais atrasado. Se tivesse cabelos, o argelino arrancava-os todinhos. Fez uma exibição pálida para o que estamos habituados.
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Ponto final: 0-0. Tal e qual como no campeonato, num jogo muito diferente, com outro nível. Esta meia-final seria decidida nos penáltis, talvez por isso Jesus, que admitiu pensar nos penáltis durante o jogo, tenha colocado em campo Bryan Ruiz.
Quem marcou: Alex Telles, Bas Dost, Marcano, Bruno Fernandes, Mathieu, Waris e Bryan
Quem falhou: Herrera, Coates, Aboubakar, William e Brahimi
Esta noite, no seu 100º jogo pelo Sporting, a redenção de Bryan Ruiz morou nos seus pés, os tais que o traíram naquele Sporting-Benfica, que está na biblioteca negra como um dos poemas falhados do poeta. A vida é assim, Bryan.
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