Abusos sexuais na patinagem artística. O escândalo que está a atingir o desporto em França
Um livro publicado por uma ex-campeã da patinagem artística veio denunciar um esquema de encobrimento de crimes sexuais contra jovens atletas no desporto francês.
Corpo do artigo
A polémica veio a descoberto com a publicação do livro "Um Tão Longo Silêncio", recentemente lançado pela antiga patinadora artística Sarah Abitbol, que foi dez vezes campeã nacional de França. Hoje com 44 anos, a ex-atleta conta que foi vítima de abusos sexuais, no seio da Federação Francesa de Patinagem no Gelo, nos anos 1990.
Sarah Abitbol denunciou que foi violada pelo seu antigo treinador, Gilles Beyer (campeão olímpico, na década de 1970), durante a adolescência. Os abusos terão começado quando a atleta tinha apenas 15 anos.
Face às acusações da patinadora, Gilles Beyer já veio admitir ter tido "relações íntimas" e "inadequadas" com Sarah Abitbol, e pediu desculpas publicamente, como conta a BBC News.
As revelações feitas por Sarah Abitbol levaram ao aparecimento de mais denúncias por parte de outras patinadoras, que afirmam terem sido vítimas de abusos sexuais por parte dos seus treinadores (entre os quais, mais uma vez, Gilles Beyer), em casos que remontam até à década de 1970.
O escândalo veio expor um esquema de encobrimento de crimes sexuais a menores por parte da Federação Francesa de Patinagem no Gelo - é que, apesar de já ter sido alvo de investigações no início da década de 2000, Gilles Beyer continuou sempre a trabalhar enquanto treinador de jovens patinadores e manteve cargos executivos na federação e na organização de eventos desportivos.
A polémica está a provocar uma onda de reações em França, com vários atletas de topo a assinarem uma carta de solidariedade para com Sarah Abitbol. A primeira-dama francesa, Brigitte Macron, já recebeu a antiga patinadora artística no Palácio do Eliseu e garantiu estar empenhada em evitar que os abusos sexuais no desporto voltem a acontecer no país.
A situação culminou, este fim de semana, com a demissão do presidente da Federação Francesa de Patinagem no Gelo, Didier Gailhaguet, que foi levado a resignar ao cargo após a pressão da ministra francesa do Desporto, Roxana Maracineanu.
Entretanto, a Procuradoria-Geral de Paris já abriu uma investigação - embora a maioria dos crimes denunciados, sendo relativos a casos que ocorreram há várias décadas, já terá prescrito.