Em conversa com a TSF, Arnaldo Pereira, amigo e ex-colega de Ricardinho no Benfica e na seleção nacional, ajuda-nos a encontrar as respostas para explicar o fenómeno do futsal mundial.
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Conte connosco: 1,2,3,4,5. São cinco as vezes que Ricardinho, jogador do Inter Movistar de Espanha, foi eleito melhor jogador do mundo de futsal pelo site Futsal Planet (2010, 2014, 2015, 2016 e 2017). A partir daqui, o jogador do alto dos seus 1,65cm só pode olhar para baixo pois mais ninguém na história desta modalidade o alcançou. Falcão, o jogador brasileiro e grande ídolo que Ricardinho traz tatuado no corpo, aparece agora um degrau abaixo com quatro galardões.
E a referência à sua altura não é inocente porque é a ela que deve o diminutivo no nome e a carreira no futsal. Foi por ser baixinho que aos 10 anos levou uma nega nas captações dos treinos de futebol do FC Porto, dedicando-se depois ao futsal.
Mas o que será que faz Ricardinho diferente dos outros, isto é, o melhor de todos os tempos, à frente em distinções de Falcão e Manuel Tobias, brasileiros consagrados da modalidade?
Ricardinho entre aplausos e apertões
Fomos à procura de respostas junto de Arnaldo Pereira, jogador que foi capitão e colega de Ricardinho tanto no Benfica como na seleção ao longo de muitos anos.
Em entrevista à TSF, o ala, que era uma das referências de Ricardinho ri-se quando recua no tempo e recorda o miúdo franzino com idade júnior que chegou ao Benfica em 2003.
Primeiro vêm os elogios ao percurso do amigo: "Para mim é um orgulho enorme poder ter jogado com ele, lembrar-me daquele miúdo que vi crescer ser o mais galardoado da história".
E depois as memórias: "Ele tinha uma grande vantagem sobre os outros miúdos que ali chegaram ao Benfica: Sabia que tinha valor, mas também sabia ouvir, ver e aprender com o que tinhas de bom para lhe ensinar. Era de uma grande humildade".
A irreverência na forma de jogar já estava presente. Entre cabritos e cuecas em treinos e jogos, havia uns que aplaudiam e outros que o "apertavam".
"Eu gosto particularmente de jogadores como ele. São irreverentes, têm qualidade e é isso que torna o futsal um espetáculo. Havia uns que batiam palmas quando sofriam uma cueca, mas outros ficavam lixados e davam-lhe alguns apertõezinhos. Mas ele sabia a quem fazia (risos)", explica aquele que foi em tempos uma referência para o próprio Ricardinho.
Falcão ou Ricardinho, o tira-teimas
Caracterizado que está o miúdo que Arnaldo viu crescer, vamos à inevitável comparação com Falcão. Há um dia em que o rei tem de passar o cetro ao príncipe herdeiro e se isso já parecia ter sucedido no último Mundial na Colômbia (2016), quando o brasileiro pediu por mensagem para que o português continuasse o seu legado, agora acontece definitivamente com mais esta distinção.
Arnaldo, atualmente a jogar em Itália no Petrarca Padova, explica com detalhe o que os diferencia: "Sempre disse que a diferença entre eles é que o Ricardinho sabe defender. É um jogador mais completo: defende, ataca, movimenta a equipa, faz tudo. É isso que o define como o melhor do mundo".
O ala de 38 anos refere que "há jogadores muito fortes no um para um", mas depois perdem-se por "não saberem defender e fazer a equipa jogar com as suas movimentações".
O segredo para se estar sempre no topo
Em qualquer conquista ou feito que parece inalcançável, há sempre a pergunta sobre o segredo, a receita ou até a fórmula. Talvez se soubermos os ingredientes possamos cozinhá-la para a nossa vida, mas a solução é quase sempre inevitável: trabalho.
É essa a resposta que Arnaldo encontra para que Ricardinho de 32 anos esteja tantos anos no topo do futsal mundial e não pareça que daí vá descer nos próximos anos.
"Ele não se cansa de ganhar e trabalha muito para isso. Se por algum motivo não está bem, vai à procura de um treino extra ou de algo diferente para voltar a estar nos níveis que pretende. Há jogadores que ganham e satisfazem-se com isso, enquanto o Ricardo quando ganha começa logo a pensar como vai fazer para ganhar outra vez. E depois demonstra-o em campo".
O recorde de Arnaldo que Ricardinho nunca bateu
A vida do jogador do Inter Movistar faz-se dos recordes que tem e daqueles que lhe falta bater. Há um que ainda está na posse de Arnaldo Pereira: o maior número de internacionalizações pela seleção nacional (208). E este é daqueles que está para durar mais uns tempos pois o mágico, como é conhecido na modalidade, surge lá atrás com 151.
Arnaldo, do topo desse número, só quer é que o amigo chegue lá o mais depressa possível e que, de preferência isso aconteça com títulos à mistura: "Espero bem que lá chegue e que o faça garantindo um título para a seleção nacional. De certeza que estarei lá ao lado a festejar. Não vejo qualquer problema que ele bata todos os recordes. Ele merece pelo jogador e pela pessoa que é".
Pode ser que o título internacional que a seleção nunca conquista surja já no final do mês de janeiro quando for dado o pontapé de saída para o Europeu da modalidade em Liubliana, Eslovénia.
E se começámos este texto fazendo-o contar até 5, agora conte até 26. É este o número de títulos que Ricardinho já conquistou na sua carreira ao longo das suas passagens por Benfica, Nagoya Oceans (Japão), e Inter Movistar (Espanha).