Agredidos "fim de semana após fim de semana". Soares Dias pede que árbitros "não desistam"
Alunos da Faculdade de Motricidade Humana estiveram, esta quinta-feira, com o quadro de árbitros portugueses para serem estimulados a seguirem uma carreira que é uma "paixão", mas que tem poucos candidatos nos dias de hoje.
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A falta de árbitros é um problema, hoje em dia, no futebol português. Numa iniciativa da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), alguns alunos na Faculdade de Motricidade Humana estão, esta quinta-feira, junto dos árbitros profissionais a aprender mais sobre a arbitragem e com o objetivo de os levar a seguirem a carreira de árbitros.
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As aulas são teóricas, mas também práticas. E nas práticas, quem quiser fazer carreira na profissão, tem de saber decidir bem, em momentos de stress e em pouco tempo. Num dos exercícios, um jovem aluno corre do meio campo para perto de um ecrã, junto da linha lateral. Ao lado tem os árbitros Artur Soares Dias e Hugo Miguel e tem de tomar uma decisão em poucos segundos:
"É penálti ou não?", pergunta Hugo Miguel.
"Não", responde o aluno.
"Bem miúdo, é isso", ouve-se da voz de Artur Soares Dias.
O jovem sai a sorrir e o treino continua com a repetição do mesmo exercício, mas com lances diferentes para serem analisados.
É uma profissão difícil e que tem muitos contras. Artur Soares Dias dá um conselho aos mais jovens: "Não desistam." O experiente árbitro avisa que há problemas graves no mundo da arbitragem e que "fim de semana após fim de semana os árbitros são agredidos e não faz sentido algum". Reconhece, por isso, o 'juiz' portuense que nos dias de hoje a "retenção de árbitros é difícil."
Nuno Almeida, árbitro de 48 anos da AF Algarve, tenta passar aos jovens o gosto que é possível ter pela arbitragem, explicando que "ao início pode ser um gosto, mas depois torna-se uma paixão ainda maior". Já Ana Afonso, também do quadro de árbitros portugueses, sublinha que a profissão "tem muitos prós", mas avisa que "há cada vez mais atletas e menos árbitros" no futebol profissional e não profissional.
Os alunos de vários cursos de desporto da Faculdade de Motricidade Humana estão reunidos com os árbitros, treinam com eles e são estimulados a escolherem a arbitragem como carreira. Um deles é André Baptista, de 21 anos, que está a iniciar o mestrado em futebol, mas que prefere trabalhar numa equipa técnica do que ser árbitro, embora ache piada à arbitragem. Uma das razões que afasta os jovens a seguir o caminho do apito é porque "no nosso país, se um árbitro tomar dez decisões, nove certas e uma errada, vai ser sempre assunto pela errada e não pelas outras certas", salienta o aluno.
Todos reforçam que há falta de árbitros em Portugal e é preciso que apareçam mais interessados na profissão. Com esta cobertura 'em cima' do acontecimento para os alunos, a FPF procura recrutar mais jovens talentos para a arbitragem, seduzindo os alunos a combaterem a escassez de árbitros em Portugal.