Ainda falta completar o puzzle
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"Após uma das melhores participações de sempre da Seleção Nacional em fases finais do Campeonato do Mundo, no Catar, FPF e Fernando Santos entendem que este é o momento certo para iniciar um novo ciclo."
Ainda hesitei se devia colocar o parágrafo anterior entre aspas, apesar de todo ele ser uma citação do comunicado da Federação Portuguesa de Futebol. É que o (d)escrito poderia ser dito por qualquer um de nós. Curioso é que seja a entidade que tutela a seleção a utilizar o facto como justificação. No fundo, concluir que foi ótimo, mas não serve.
Convenhamos que já se tinha percebido há bastante tempo que o ciclo do único selecionador português campeão da Europa estava terminado.
Desde o fecho do Euro2020, o tal que se jogou em 2021, era notório que o percurso de Fernando Santos dificilmente traria algo mais ao caminho da seleção nacional. Já lhe tinha acrescentado a Liga das Nações - e dois títulos são de elogio eterno -, mas aguardava-se o tal salto qualitativo que esta notável geração de jogadores poderia dar. E não deu.
Tudo isto é verdade, mas vamos sempre dar ao ponto inicial: a FPF entendeu que o ciclo fechou antes do final do contrato definido para 2024, apesar de uma das "melhores participações de sempre". Logo, qual é a peça do puzzle que não encaixa na narrativa federativa?
Quando nos lembramos do que sucedeu no final do jogo com a Coreia do Sul, das declarações posteriores de Fernando Santos ao confessar que não gostou "nada" do que se passou (e que estava longe daquilo que alguém lhe tinha dito) e, finalmente, da ida de Cristiano Ronaldo para o banco, percebemos a questão fulcral de qualquer análise: quando a corda esticasse, partiria sempre do lado do selecionador e não do lado do capitão.
Chegados a este ponto, é altura de Fernando Gomes ponderar exatamente o que quer daqui para a frente. Aparentemente, José Mourinho é a primeira opção do presidente da FPF. Eu também gostaria de ver Mourinho, um dia, à frente da equipa nacional, mas só quando ele decidir que não quer mais a chamada "vida de clube".
Só que isso não é possível agora, em janeiro, pois obrigaria a uma solução transitória até ao verão, assegurada, eventualmente, por Rui Jorge.
Nunca fui adepto de interinidades quando está em causa a necessidade de alguém assumir, de facto, o comando. Sobretudo quando há questões demasiado sérias em causa e que, desculpem-me a franqueza, no contexto português têm tanto peso (ou mais) do que a mudança de selecionador.
Quem vier terá de assumir uma posição clara sobre se conta ou não com Cristiano Ronaldo e, caso conte, de que maneira. Por seu lado, o capitão, honrando o facto de ser um dos poucos deuses da História do futebol, também terá de dizer claramente o que espera ser possível ainda dar à seleção.
Não podendo esquecer Ronaldo que terá 38 anos quando arrancar a qualificação para o próximo Europeu e que a incapacidade competitiva (não confundir com física) demonstrada neste Mundial foi consequência de uma pré-época inexistente. Os estragos que provocou na temporada do jogador nem precisam de grandes explicações.
Ora, não resolver este impasse rapidamente, com um interino nos primeiros jogos - ficando a situação a "marinar" durante quatro partidas - não será seguramente a melhor saída. A menos que, entretanto, Ronaldo encontre clube. Porque não é irrelevante saber em que campeonato ele vai jogar.
Por agora, se me dão licença, o meu maior interesse é mesmo ver no que dá o Argentina-França. Para mim, o Mundial só acaba no domingo.
