André Cruz garante que não marcava apenas livres. Luís Duque era presidente da SAD. Materazzi, afinal de contas, até ajudou. O que não ajuda o Sporting, diz Luís Duque, é a tendência para se "destruir a si mesmo"
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Luís Duque era presidente da SAD dos leões quando o Sporting quebrou o jejum de 18 anos sem conquistar um título de campeão nacional. Na temporada 1999/2000, os verde e brancos até nem começaram bem, mas com Augusto Inácio ao leme da equipa, acabaram como vencedores da prova.
"Entrei num momento de alguma turbulência. A época não começa bem pela crise de resultados", recorda Luís Duque. A saída de Giuseppe Materazzi, treinador escolhido para aquela temporada e que durou apenas algumas semanas (seis jogos oficiais), complicou o arranque dos leões.
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Mas volvidos 20 anos - o jogo do título foi a 14 de maio de 2000 -, Luís Duque acredita que a pré-temporada desenhada por Materazzi, até acabou por ajudar a equipa. "Aquele trabalho do treinador italiano, com aquela preparação física, fez como que os jogadores estivessem por em cima nos meses de janeiro e fevereiro". Era uma vantagem sobre os adversários importante, pese embora os jogos perdidos no arranque da temporada.
"Tivemos a sorte... a sorte e não só (pausa) de ir buscar três jogadores em janeiro que se revelaram essenciais", recorda o antigo presidente da SAD do Sporting, responsável máximo pelo futebol leonino naquela temporada. "Em janeiro veio o Mpenza para substituir Ayew; veio o César Prates para substituir o Saber; veio André Cruz para substituir Quiroga. Também não tínhamos dinheiro para mais", confessa Luís Duque.
André Cruz e a defesa que ganha campeonatos
Mas foi mais do que suficiente para garantir uma defesa de betão, garante agora, 20 anos volvidos, André Cruz. "Tudo começou em Turim. Disse ao presidente do Torino que queria sair do clube, e convenci o diretor para sair gratuitamente. Havia algumas propostas, mas surgiu o Sporting", revela André Cruz.
As memórias de André Cruz
O foi em Alvalade que André Cruz encontrou um plantel que, diz, tinha grande qualidade e experiência. "Peter [Peter Scheimchel] na baliza, despensa comentários", começa por lembrar. "O César [Prates] eu não conhecia, mas quando chegou acabou por ajudar muito". No meio campo, "o Delfim ajudou-nos muito. O Acosta, o Pedro Barbosa", lembra ainda.
Augusto Inácio: de adjunto a campeão
"Inácio era adjunto de Materazzi. A ideia era não trazer ninguém de fora", revela Luís Duque sobre a escolha do treinador. O novo timoneiro deu, acredita André Cruz, aquilo que faltava ao grupo de atletas. "Tínhamos uma equipa experiente e muito bem trabalhada. Com a saída de Giuseppe Materazzi e a entrada de Inácio a equipa "abriu", libertou-se talvez", adianta o antigo defesa central.
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"Encontrei uma equipa boa, bem compacta, e conseguimos deixar aquela equipa mais forte", explica. "A defesa deu uma estabilidade grande, consistência, sofrendo poucos golos, mas também atuando na saída de jogo, e eu consegui também ajudar a equipa fazendo os golos de livre", Como "aquele, contra o Porto em Alvalade, um dos golos mais bonitos da minha carreira e o pontapé de saída para a vitória no título", lembra André Cruz.
As recordações de uma festa há muito esperada
"De vez em quando eu vou rever", diz entre sorrisos na conversa telefónica com a TSF, André Cruz. "Hoje vi o primeiro golo do jogo contra o Salgueiros. Há recordações, dentro do balneário, a festa, o champanhe. A demora para sair do estádio. A chegada a Alvalade, quando vi tantas cabeças, e pensei "Minha nossa, o estádio vai cair". Foi uma sensação espetacular", lembra André Cruz.
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"É inesquecível o que se passou no dia 14 de maio. Um ano de muito trabalho, muito bom senso. Uma equipa de grande qualidade", acrescenta Luís Duque. "Um grupo de trabalho muito unido, muito importante para aquele título".
O que falta para voltar a festejar?
Luís Duque assume uma posição crítica sobre os últimos anos do Sporting. "Esta instabilidade permanente. Este permanente questionar do dirigentes. O desfile de notáveis que, mais não fazem que tentar governar o Sporting de fora para dentro", aponta.
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"Veja-se que o atual presidente, devidamente eleito e com um mandato pela frente, começou a ser combatido no dia seguinte a ser eleito", considera Luís Duque. "Estas guerras internas, o Sporting destrói-se a ele próprio lá dentro".
Mas Luís Duque acredita que há alguma injustiça na história recente dos leões."O Sporting esteve para ganhar o campeonato duas vezes. Todos sabemos porque não ganhou", diz Luís Duque. "Seria injusto não falar desse assunto", recorda.
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Já André Cruz vê, do outro lado do Atlântico, no Brasil, um clube que espera, de forma ansiosa, por mais um título. "Mesmo de longe, torço para que o Sporting volte a vencer. É um grande clube, com grandes adeptos, muito fervorosos".