Antes da última paragem do campeonato para os compromissos das seleções, o líder Benfica tem que enfrentar um dos desafios (teoricamente) mais complicados que lhe faltam no calendário, a deslocação a casa do quinto classificado, Moreirense.
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Perdida na Luz (perante o Belenenses) a "almofada" de dois pontos de vantagem que tanto custara conquistar no Dragão na jornada anterior, o Benfica desloca-se este domingo ao Minho para defrontar a equipa-revelação da liga, o Moreirense.
Quando o jogo começar, já os encarnados saberão se têm que recuperar de uma desvantagem de três pontos relativamente ao Porto (que recebe o Marítimo) e se o Braga já está a apenas dois pontos (depois de jogar em Setúbal). É provável que ambos os cenários se confirmem, o que irá aumentar a pressão sobre a equipa de Bruno Lage.
Claro que para quem há nove jornadas estava na quarta posição, a sete pontos da liderança, este parece ser um "bom problema", mas como sempre acontece a memória dos adeptos é curta e só o presente conta.
O Braga volta a ter esperança
Mas comecemos pelo Braga, o primeiro a entrar em ação (Estádio do Bonfim, sábado, às 15.30). A escorregadela do Benfica com o Belenenses devolveu uma ténue esperança aos Guerreiros do Minho de ainda poderem lutar pelo título. Mas para a manterem não poderão falhar frente ao aflito Vitória de Setúbal. Até porque logo após a paragem no campeonato têm dois jogos que decidirão muita coisa: receção ao Porto e deslocação a Moreira de Cónegos.
Recorde-se que nesta temporada o Braga já foi a Setúbal ganhar por 4-0, na Taça da Liga, sendo que nos últimos 10 jogos da liga apenas perdeu uma vez na cidade do Sado, na época passada, somando quatro vitórias e muitos empates (cinco) nos restantes jogos.
Convém não esquecer também que o Braga tem tido nos jogos fora de casa o seu grande calcanhar de Aquiles: perdeu em casa dos três grandes e deixou pontos (empates) em Guimarães, Portimão e S. Miguel. É um facto que o Vitória sadino é a primeira equipa acima da linha de água, já não vence desde o dia 1 de Dezembro (1-0 nos Barreiros), e conta somente cinco vitórias.
A equipa do Bonfim tem a segunda pior série do campeonato (a seguir aos 23 jogos sem ganhar do Feirense) com 14 jogos sem vencer. Desde a chegada de Sandro ao comando técnico, tornou-se especialista em empatar, nomeadamente em casa, onde leva já cinco empates consecutivos (por exemplo com Sporting, V. Guimarães e Belenenses), tendo ainda empatado em Moreira de Cónegos.
Assim sendo, o principal desafio do novamente, mas periclitante, candidato ao título Braga, é não sair de Setúbal com um empate...
A "força aérea" do Porto
Também o Porto quer fazer aumentar a pressão sobre o Benfica e para tal tem que vencer na receção ao igualmente aflito Marítimo (sábado, 20.30).
Os insulares perderam nas últimas nove vezes que jogaram no Dragão para o campeonato (24-4 em golos) e em toda a história da I Liga sofreram 36 derrotas em 38 jogos em casa do Porto (o melhor que conseguiram foram dois empates, em 1981 e 2008), com 93 golos sofridos no processo.
O Marítimo parece ter acordado um pouco nos últimos quatro jogos, com duas vitórias (incluindo a da jornada passada perante o Moreirense, de reviravolta), e um empate, que lhe valeram uma subida ao 11º lugar, mas apenas com mais três pontos do que o 16º, o Tondela, primeiro em lugar de despromoção.
Note-se, no entanto, que os madeirenses já venceram quatro jogos fora, tantos quantos ganharam em casa, onde costumam ser fortes e garantiram os bons desempenhos recentes na primeira divisão.
No Dragão, a equipa de Petit terá, desde logo, que se precaver contra a "força aérea" portista, que foi decisiva, por exemplo, o último jogo, em Santa Maria da Feira, onde os portistas venceram graças a dois golos de canto.
Aliás, quatro dos últimos seis golos do Porto no campeonato resultaram de lances de bola parada (sem contar penáltis). Os azuis e brancos são a equipa que mais marca na sequência de bolas paradas na liga (mais uma vez não contabilizando os penáltis): 16 golos, contra 12 do Santa Clara e do Aves e 11 do Benfica e do Braga.
Alex Telles é ainda o jogador do campeonato que está envolvido em mais golos resultantes de lances de bola parada: oito no total.
Benfica quer impor a história contra a pressão
Em Moreira de Cónegos (domingo, 17.30), o Benfica volta a ser o último candidato a entrar em campo, para de novo defrontar uma equipa que o derrotou na primeira volta (tal como Belenenses). Mais um fator de pressão para os encarnados, que ainda por cima não chegam a ter 72 horas de recuperação relativamente ao jogo da Liga Europa com o Dínamo de Zagreb.
É verdade que se a equipa de Bruno Lage perder pontos perante o Moreirense não será por falta de aviso, uma vez que os "cónegos" foram os únicos a vencer na Luz neste campeonato (3-1). Além disso, já se tornou quase uma regra que os candidatos ao título apenas falhem perante os sete melhores classificados da liga: 10 pontos perdidos pelo Benfica (em 15), 15 pontos cedidos pelo Porto (em 15), 14 em 20 pelo Braga.
Note-se também que se esta tendência se mantiver, depois desta jornada Benfica e Porto têm apenas três compromissos com equipas acima do sétimo lugar: os dois jogam em Braga e o Porto recebe o Sporting na última jornada.
Voltando ao jogo de Moreira de Cónegos, se a história ditar leis o Benfica vencerá: até hoje em oito partidas ganhou todas, quase sempre marcando muitos golos - tem um total de 26 apontados e seis sofridos.
Mas é igualmente um facto que nunca vimos um Moreirense tão forte como o atual, ocupando uma surpreendente quinta posição na tabela, mesmo lutando com armas desiguais em relação à grande maioria dos oponentes. O seu plantel possuiu apenas o 16º valor de mercado mais alto (12 milhões, contra por exemplo os 277 milhões do Benfica) e a mais baixa média de permanência dos seus jogadores (inferior a uma época).
Ou seja, trata-se de um verdadeiro milagre desportivo, em grande medida responsabilidade de Ivo Vieira, o treinador madeirense desta equipa que, além de ser muito competitiva, joga bom futebol
Em casa, o Moreirense conta duas derrotas (com o Sporting e com o Santa Clara), e dois empates (Porto e Vitória de Setúbal). Aliás, em todo o campeonato soma apenas três empates, confirmando as curiosas palavras de Ivo Vieira (bem no início da prova) afirmando ter aversão a empatar.
Na segunda volta, os "cónegos" apenas concederam duas derrotas: uma natural, em Alvalade, a outra menos (no Barreiro, onde estiveram a vencer por 2-0).
Uma equipa realmente difícil de bater, e que tem armas importantes no ataque: Chiquinho (6 golos + 6 assistências), Arsénio (4+4) e Pedro Nuno (3+3). Curiosamente, Chiquinho e Pedro Nuno são ex-benfiquistas e ambos marcaram na famosa vitória da primeira volta na Luz.
Quanto ao Benfica, veremos se entra no Estádio Comendador Joaquim Freitas abalado pelo empate caseiro com o Belenenses ou moralizado pelo apuramento para os quartos-de-final da Liga Europa. Uma coisa é quase certa, entrará sem Seferovic, melhor marcador do campeonato à entrada para esta jornada (15 golos) e autêntico "abono de família" da equipa na era Bruno Lage: 11 golos em 9 jogos, faturando em todas partidas que disputou, menos na do Dragão.
No lugar do suíço deverá alinhar Jonas que, apesar de ausente na maior parte do campeonato, é o jogador da prova com melhor cadência de golos: em média necessita de 76 minutos para marcar, menos 10 minutos do que Seferovic.
Nota: A antevisão dos jogos dos candidatos ao título na jornada 26 do campeonato foi um dos temas do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20.30) - que pode ouvir aqui, na íntegra - no qual abordamos ainda a importância das bolas paradas e os múltiplos recordes de CR7 na Liga dos Campeões.