André Villas-Boas: "Sérgio Conceição simboliza os valores do FC Porto como ninguém"
O candidato à presidência do FC Porto considera que o atual treinador dos dragões encaixa "em absoluto" no perfil desejado para liderar a equipa principal.
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Numa extensa entrevista a O JOGO e à TSF, André Villas-Boas, líder da lista B candidata às eleições do FC Porto, falou de todos os temas que têm marcado a campanha e até deu algumas notícias, como a da sondagem que lhe aponta a vitória com uma margem “confortável”. Sem embandeirar em arco, apela aos sócios para atualizarem as quotas para que a mudança possa ser uma realidade e promete ser implacável com quem lesou o clube.
Quando foi treinador do FC Porto, disse que essa era a sua cadeira de sonho. Ser presidente do FC Porto, que cadeira é para si?
Eu acho que é a mesma na interpretação emocional do que significa liderar todo e qualquer projeto do FC Porto. Fosse como treinador das camadas jovens e seja também como presidente. Tem essa carga e esse sentido de exigência e responsabilidade que se intensifica por uma pessoa ser sócio do clube há mais de 40 anos.
Ou seja, é uma segunda cadeira de sonho, ainda com maior responsabilidade?
É a cadeira de sonho verdadeiramente, com o máximo de responsabilidades. Diverge no sentido que é, no fundo, a liderança que dita o destino e o rumo do clube. Portanto, sobre esse sentido caem ainda mais responsabilidades.
Para sermos diretos, porque é que o André Villas-Boas é a melhor escolha?
Eu acho que o FC Porto chegou a um ponto de viragem absoluta. Nós tivemos rendimento desportivo muito díspar do que foi a gestão e, em particular, a gestão financeira do clube. Portanto, encontramo-nos num momento muito sensível relativamente ao futuro. O ecossistema do futebol também está sensível por si e é preciso uma gestão muito mais moderna, com um conhecimento profundo, que saiba adaptar as estruturas do FC Porto às necessidades de um clube de elite do futebol europeu. As pessoas que estamos a reunir têm estas competências e características e conseguirão responder a estas exigências. Daí acharmos, sinceramente, que este é um momento de grande oportunidade também para os sócios, porque se reúnem aqui, nesta candidatura, tantas e boas competências relativamente ao futuro.
O André já disse que espera resolver os problemas financeiros com boa governança. Mas isto é vago. Quer detalhar um pouco mais este aspeto?
É evidente que boa governança é o que nós não temos visto, do ponto de vista da gestão. E aí voltamos à questão anterior, ou seja, temos uma grande disparidade de sucesso desportivo, que choca claramente contra o que se está a passar financeiramente. Tornou-se muito fácil acumular passivo e, agora, confrontamo-nos com a sustentabilidade enquanto clube de associados em risco. Tudo isso obedece a rigor orçamental, a uma gestão cuidada, a disciplina, a controlo de custos. A boa governança é precisamente isto, é enquadrar-se com a realidade e não pôr em causa a sustentabilidade do clube enquanto clube de associados.
Qual é o caso mais evidente dessa “desgovernança” de que fala?
É a contínua antecipação de receitas futuras por conta da troca de operação diária do clube. Ou seja, quando o clube se encontra numa situação de tesouraria limite, cada vez mais antecipa receitas futuras, isso quer dizer que não tem cash flow operacional para continuar a sua atividade. E não tem porque a gestão atual colocou o clube nesta situação. Portanto, a situação é essa, exige boa governança, exige controlo de custos, exige também cultura desportiva ou olhar para a cultura desportiva de outra forma. E é tudo isto que nós temos de introduzir no futuro do FC Porto. Sim, será muito mais difícil porque é um desafio, mas estamos confiantes que este é o momento. Deixar passar este momento é que poderá ser deixar para demasiado tarde.
A situação desportiva do FC Porto é complicada, apesar do apuramento recente para a final da Taça de Portugal. Como é que prevê minimizar o impacto de uma ausência na Champions no próximo ano?
A diferença é substancial, como todos bem sabem, e normalmente situa-se em 40 milhões de euros. O que nós temos de fazer é, provavelmente, antes de ir a mercado, saber perfeitamente que jogadores da formação é que podem ser aproveitados na equipa principal, para a construção do novo plantel, e depois ser altamente rigorosos e específicos nos investimentos a fazer. O que nos preocupa mais nos próximos três meses é um défice de tesouraria. Como é que em três meses iremos encontrar cash flow operacional para continuar a pagar salários e corresponder aos encargos financeiros que vamos ter do ponto de vista dos impostos, UEFA e salários de funcionários? A partir daí, evidentemente, abre o mercado e temos de ter tudo em consideração. Criar valor, criar mais valias, construir plantéis competitivos, porque é uma obrigação também desta Direção ser campeã no primeiro ano, tendo em conta estes últimos dois anos. O foco do FC Porto não se pode distanciar do título e, claro, não se pode distanciar do título à distância que está atualmente de 18 pontos para o primeiro lugar e 11 pontos para o segundo classificado. Portanto, tudo isto são sinais de perda de capacidade competitiva e nós temos de encurtar distâncias, mas queremos criar plantéis competitivos para sermos campeões.
Acredita que a situação financeira que vai encontrar pode forçar a saída de mais pérolas do FC Porto no verão? Diogo Costa, por exemplo…
Aqui há sempre o conforto de quando as pérolas não saem, de se manter níveis competitivos elevados. Temos de analisar o mercado, ver como é que se comporta. A agitação é sempre nos últimos dias de agosto também. Nós queremos ter planeamento desportivo e assegurar que o treinador possa ter um ordenamento e um planeamento do seu plantel de forma equilibrada e estruturada. Agora, a realidade é que os mercados agitam em agosto e podem levar a mudanças abruptas. Depende também muito de como é que pode correr o Euro. Depende também se poderemos estar em face de alguma pressão do ponto de vista do calendário, se o FC Porto não se qualificar diretamente para a Liga Europa. Portanto, tudo questões sensíveis na construção de um plantel.
Tem receio de que, se vender as eleições, essa imagem que tem da situação financeira do FC Porto seja ainda mais grave do que antecipa?
Terá de se ver tudo o que tem a ver com subscrições privadas de papel comercial relativamente a bancos. Nós temos a informação que o FC Porto neste momento está a operar com um determinado tipo de investidor que coloca dinheiro para o clube pagar salários, basicamente. Ainda que isto possa ser ainda sujeito a análise, esta é a informação que temos reunido. Informação essa sobre a qual também pedimos esclarecimentos recentemente para saber, precisamente, o que é que vamos encontrar, além do que está declarado no relatório e contas. É possível que seja mais grave, mas aí será também um momento de ver o verdadeiro portismo, ou seja, se os portistas são apenas aliados a candidaturas ou se são mesmo leais e se subsistem na cooperação, caso venha a ganhar outra candidatura. Portanto, tudo isto exigirá uma análise extensa da realidade. Nós temos prevista uma análise forense à bilhética e às transferências da equipa B, porque temos visto uma disparidade enorme em comissões pagas relativamente aos nossos rivais. O FC Porto, em média, paga 24% de comissões em jogadores da formação, comparado com os seus rivais que pagam 10%. Tudo isto são zonas de intervenção e a bilhética por conta também. Interessa-nos esclarecer porque é que perdemos valor durante anos a fio. Relativamente às finanças, iremos começar gradualmente e ver que descobertas é que vamos fazendo ao longo do caminho.
E que passos tomará, em face daquilo que possa encontrar?
Vamos encontrar muitas coisas curiosas, mas uma coisa é certa, eu serei implacável com qualquer pessoa que tenha lesado o FC Porto. Implacável em todos os pontos de vista. E todas as pessoas que tenham abusado do FC Porto, a nível pessoal, eu irei comunicar. E as razões, os porquês, porque é que o fizeram, nesse aspeto serei implacável.
E é por causa dessa situação grave que diz que o clube atravessa, que não se candidatará em 2028? Tem receio de encontrar um clube absolutamente destroçado nessa altura?
Sim. O FC Porto acumulou 250 milhões de euros de passivo em 12 anos. Portanto, evidentemente há uma maquilhagem da nova Direção com novas pessoas. O problema dessas novas pessoas que estão vinculadas a essa candidatura é que estão a retirar dividendos da continuação da candidatura de Pinto da Costa relativamente ao futuro. Isto acontece através dos diferentes empréstimos, seja de papel comercial de subscrição privada, seja também através de empresas relacionadas com o fundo Quadrantis, o que revela um claro conflito de interesses relativamente ao futuro. O que me parece é que o FC Porto não está a ir ao mercado para procurar as melhores soluções. E o FC Porto de 2028, tendo em conta também as pessoas que o rodeiam, pode estar finalmente vinculado a essas pessoas para a eternidade.
Como vai ser a relação com as claques?
A definir. Há uma análise forense que eu tenho obrigatoriamente de fazer à bilhética, porque há perdas de valor. Não quer dizer que seja só relacionada com os Grupos Organizados de Adeptos. Pode estar relacionada com ineficácia operacional relativamente a uso de bases de dados, etc. São protocolos a rever, a estabelecer, a respeitar. Eu também gritei muito pelo FC Porto na Superior Sul. Sei o que é que é passar um jogo a cantar. Respeito. Sei o bom trabalho que eles fazem nas deslocações e em casa. Tendo em conta a distância pontual que o FC Porto tem atualmente, têm-se mostrado unidos a favor da equipa. Agora, vamos sentar com as duas claques para definir que não haja benefícios que ultrapassem os direitos de qualquer sócio, adepto ou simpatizante normal do FC Porto.
Acha que houve negócios que não se devem repetir?
Não sei. Isto é uma investigação que está, tanto quanto sei, aberta no Ministério Público, e eu tenho todo o interesse em tornar o FC Porto assistente nesse processo.
Falou de algumas decisões estruturais e estruturantes que estão a ser tomadas. Uma delas, assumida recentemente, foi a assinatura de contratos para a Academia da Maia. Esse ainda é um processo reversível?
Não sei. Será tudo analisado a posteriori. Importa-me perceber com que velocidade é que eu consigo ter uma infraestrutura pronta. E aqui chamo infraestrutura para não chamar Academia e Centro de Alto Rendimento, onde temos opiniões diversas. O FC Porto tem necessidade de ter uma infraestrutura imediata que corresponda às necessidades do clube atualmente, que são grandes e deficitárias. Quando eu arranquei com este projeto, em 2022, na preparação desta candidatura, não havia conversas sobre a Maia. O FC Porto estava em vias de rescindir os contratos que tinha para uma academia em Matosinhos, estava a tentar a resolução desses contratos. Enquanto candidato, para construir uma candidatura forte, tive de olhar para o que é que se passava neste campo. Quando estamos com tantos anos de atraso, interessa-me sobretudo velocidade de execução da obra. E o que me parece com a Maia, não desvalorizando a obra, é que podemos deparar-nos novamente com alguns atrasos relativamente à construção. Depois, há que ter em conta a situação financeira limite do clube. E por muito que nós gostássemos de uma cidade do futebol, acho que não é o caminho uma construção tão grande nesta fase. Poderá ser no futuro, mas não agora. Daí que, como há a urgência de a equipa principal e profissional do FC Porto ver as suas condições revistas, a minha opção é um Centro de Alto Rendimento que respeita também as modalidades profissionais, construindo um pavilhão de treinos para as mesmas. Isto porque, se nós olharmos a dois anos e se pensarmos que queremos adicionar futsal, voleibol masculino ou equipas de formação às nossas modalidades, temos que corresponder também com um pavilhão nas nossas infraestruturas. Portanto, a Maia só começou a ser tema muito mais tarde. Agora, eu fico profundamente desagradado com a urgência do Sr. Presidente em terminar estas ações, porque me dá a entender que está a ultrapassar os reais interesses do FC Porto. O Presidente terá os mesmos números que eu tenho relativamente ao ato eleitoral em termos de sondagens e custa-me ver que estas decisões estejam a ser aceleradas e que esteja a vincular o futuro do FC Porto quando outras direções podem ter opiniões totalmente diferentes.
E que números são esses, dessas sondagens?
Eu não os queria partilhar aqui, mas são números que nos dão a vitória. Claro está que depois no dia das eleições as pessoas poderão ser influenciadas emocionalmente ou racionalmente no seu voto, porque há sempre fatores que contam a favor ou contra. E ainda agora tivemos uma notícia que nos chocou bastante porque, neste momento, dos 75 mil sócios com capacidade eleitoral, só 30 mil é que estão com as suas quotas em dia para votar. Ou seja, há 45 mil sócios que não têm a sua quota de março regularizada e que não estão em capacidade votante. Podem regularizá-la no dia, mas aqui o meu alerta é para que o façam antes porque senão iremos ter problemas operacionais para renovarem no dia.
Estamos a falar em bem mais de 50% dos sócios…
Sim. Por isso que não deixem de regularizar as suas quotas imediatamente, para que possam ter capacidade e exercer o seu direito de voto. Agora, é por conta disto que me choca esta aceleração de decisões, uma falta de respeito com uma outra Direção que pode liderar o FC Porto. Porque aqui, apesar de o Presidente estar em plenos poderes, a SAD evidentemente terminou o contrato a 31 de dezembro de 2023. Portanto, está em gestão. Custa-me que o Presidente esteja a tomar estas decisões de forma tão leviana.
Os números dessas sondagens que têm e que pensa que a lista de Pinto da Costa também terá, dão-lhe a vitória por que margem?
São por números que dão conforto. Agora, vamos ver. Não quero hastear a bandeira da vitória porque há coisas que só se decidem no dia e principalmente tendo em conta o que acabamos de falar. Quando esperamos que votem pessoas que nunca votaram num ato eleitoral do FC Porto, ou seja, que o número de pessoas que nunca votaram é superior ao número de pessoas que já votaram numas eleições, assusta-me que 45 mil sócios ainda não tenham a sua quota regularizada para se tornarem elegíveis para votar. Portanto, é preciso bater nesta tecla porque se calhar estão nestes 45 mil as pessoas que poderão ditar a mudança. Se estamos a falar de 30 mil, se calhar todos os números se aproximam e podemos ter aqui uma interpretação totalmente diferente.
Confia no processo eleitoral ou tem receio que as coisas possam correr mal?
Confio no ato eleitoral. Temos tido boas comunicações com o Dr. Lourenço Pinto. Há que ter consciência de que é um ato eleitoral muito emocional. Não só por conta da pessoa que está do outro lado, a candidatura de Jorge Nuno Pinto da Costa, como pela força que esta candidatura ganhou e os números que ela ganhou. Portanto, é muito importante que corra tudo de forma transparente, que não haja um mínimo de distúrbio sequer parecido com a Assembleia Geral de 13 de novembro. Que as pessoas sejam respeitadoras de opiniões diferentes, que haja liberdade de expressão, que haja disciplina, respeito, transparência, calma e que não andemos aqui a pôr em causa um ato eleitoral tão importante.
A lista A tem referido algumas vezes que o André vai usar a Goldman Sachs para resolver problemas financeiros de clube. É uma das instituições com quem tem falado?
Nós temos falado com muita banca internacional. Já no que toca a esse aspeto, a surpresa é o FC Porto não se sentar com a banca internacional e a banca internacional permitir que um candidato, pela reputação que tem e pela reputação que têm as pessoas que o rodeiam, se sente e lhe apresentem projetos de viabilidade financeira para a reestruturação da dívida. Aconteceu com três dos maiores bancos internacionais que estão ativamente envolvidos em reestruturação da dívida de clubes. Surpreende-me que uma pessoa que se diz altamente instruída no campo financeiro não saiba que a reestruturação de dívidas que a Goldman Sachs faz atualmente encontra-se sempre abaixo dos 6% e dos 7%. Situa-se entre os 5% e os 6% e nunca toca nos 7%. E já agora que estamos aqui, temos o Sevilha, que levantou 25 milhões a 6,6%, o Lyon que levantou 320 milhões a 5,83%, o Barcelona que levantou 1000 milhões de euros a 6,3% e o Real Madrid que levantou 370 milhões a 5,22%. Agora, eu compreendo perfeitamente que esta pessoa, como tem interesses próprios e como provavelmente cobra ao FC Porto juros muito acima dos 7%, olha aqui pelo seu interesse próprio. Se pode continuar a emprestar a 7%, a 8%, a 10% é natural que esse candidato a vice-presidente se oponha a toda e qualquer reestruturação da dívida com a Banca Internacional.
Fala de João Koehler?
Fica muito mal na fotografia e revela que os seus interesses estão bem presentes. E deixe-me adicionar aqui o seguinte: nós sabemos, da informação que conseguimos reunir, que há uma empresa detida em 60% pelo fundo Quadrantis a fornecer serviços de marketing ao FC Porto a 51 mil euros por mês. Empresa essa detida por João Koehler. É importante saber se esses serviços de marketing, a 51 mil euros por mês, têm a ver com a candidatura do presidente Pinto da Costa. Temos de analisar qual será o objeto do contrato, principalmente quando lá chegarmos, se nos for dada a vitória. A realidade é que temos a informação que essa empresa anda a cobrar esses valores ao FC Porto, uma empresa chamada Wise Pirates. Ou seja, será que essa empresa anda a pagar a candidatura do candidato Pinto da Costa, nas suas diferentes intervenções, por conta de faturas pagas pela Wise Pirates? São situações que iremos analisar quando lá chegarmos, mas que são reveladoras novamente dos interesses alheios que estão presentes na outra candidatura.
A propósito dos valores que falou de financiamento de clubes estrangeiros, chegou a ter conversas com esses bancos de valores semelhantes de empréstimos possíveis para o FC Porto?
Sim, agora tudo depende do rating que mais tarde for atribuído ao FC Porto e depois também da competição de mercado, ou seja, quanto é que levantamos, a que juro, sendo que o target será sempre entre 5% a 7%. Ou seja, o FC Porto, em empréstimos bancários e obrigacionistas, normalmente tem uma taxa média de 6.46%, sobre 100 milhões de euros, de 310 milhões de euros de dívida financeira. A nossa questão é, nesses outros 210 milhões de euros, provavelmente a taxa de juro é bem superior a 8%. Estamos a falar da Connect Capital de João Koehler, estamos a falar desse gasto da antecipação de receitas relativamente aos contratos televisivos da Altice, estamos provavelmente a falar da Quadrantis nestes e outros negócios que estão envolvidos, portanto é esta dívida que nós temos que renegociar e baixar e temos conforto da parte da Goldman Sachs de que estas são as taxas de juro que estão a aplicar aos clubes.
Ficou tranquilo com o comunicado da Direção após a notícia que saiu a propósito de um incumprimento que colocaria o clube novamente sob a alçada do fair-play financeiro da UEFA?
Não, não fiquei tranquilo e as respostas estão todas por dar e por muito que o presidente tenha gozado com esta candidatura, com o teleponto e com os discursos, a realidade é que teve de pegar num comunicado para não cometer erros relativamente ao que estava a dizer. É um comunicado sensível, estratégico, mas que não responde a perguntas fundamentais. As três perguntas fundamentais são: há ou não perigo de o FC Porto vir ter pena suspensa durante os próximos três anos, por conta de incumprimento? Há ou não uma coima a caminho? E houve ou não houve incumprimento relativamente às regras de acompanhamento financeiro da UEFA?
Pinto da Costa já disse que não chegou ainda qualquer multa…
Poderá chegar, mas já com outra Direção e é isto que me custa. Nós levantámos imediatamente esta questão, porque não é muito normal ver uma equipa financeira toda a caminho da UEFA. Soubemos disto e interpelámos imediatamente a Direção do FC Porto sobre este assunto. Perguntei enquanto sócio, enquanto candidato à presidência e enquanto acionista e a realidade é que estas respostas não foram dadas. O que me custa é que me dá a entender que tenham chutado isto para a frente, para que uma nova direção seja confrontada com a suspensão da UEFA mais tarde.
Acha que essa informação deveria chegar antes do ato eleitoral?
Provavelmente. Não sei se a mesma fará parte ou não de um acordo estabelecido com a UEFA. Só o presidente e o administrador financeiro de saída é que poderão responder a estas questões. Eu já as coloquei e coloco-as outra vez. Muito provavelmente iremos continuar sem respostas, porque esse infelizmente tem sido o timbre da outra candidatura. Da outra candidatura não, da presidência.
Consigo o FC Porto vai voltar a contratar grandes jogadores como Hulk, Falcão, James Rodrigues, Éder Militão…
Esses eram outros tempos. Eram os tempos onde os fundos e os investidores eram detentores de passes dos jogadores, na maior parte desses casos. E onde uma cultura de scouting, uma direção de scouting, era fundamental para a escolha dos melhores talentos disponíveis. O futebol mudou radicalmente entretanto. Em primeiro lugar, todos esses campeonatos agora pagam muito dinheiro ao seu melhor talento. O talento do futebol brasileiro já sai por valores muito mais elevados. Tem uma capacidade de retenção de talento muito maior por conta dos novos direitos televisivos que foram negociados no futebol brasileiro, no futebol americano também, na MLS. É um futebol que está em crescimento, que tem maior capacidade de reter talento. Quando não o retém, quando o exporta, exporta muito mais caro e a outros valores. Acresce que há os grandes clubes europeus que contratam cada vez mais cedo. E acresce também as cadeias e os grupos de clubes que agora transportam os jogadores entre os seus clubes.
Dito isso...
Dito isto, uma filosofia de formação torna-se muito mais importante nesta fase, no futuro do FC Porto. Ou seja, tem de haver investimento numa metodologia de formação, numa cultura de formação, formar cada vez mais e melhor. E ser criterioso, claro está, no caso do scouting, escolher melhor. Poderíamos aí adicionar 50 nomes, onde o FC Porto falhou redondamente. Nós queremos reduzir essa margem e errar menos, mas ter uma filosofia muito mais de formação.
É possível o FC Porto voltar a ser campeão europeu?
Sensível também. É o primeiro ano das novas competições europeias. Tudo isto torna, ou poderá tornar, as coisas muito mais difíceis. O novo formato da Liga dos Campeões, superligas europeias autorizadas... Os 11 que formaram a Superliga ainda existem. Não a abandonaram nem o seu conceito. O único que saiu, tanto quanto sei, é o Inter de Milão. Tudo isto revela um ecossistema de futebol muito sensível. Qual é que será a primeira competição lançada? Vamos ou não vamos ter clubes sauditas na Liga dos Campeões? O impacto de clubes sauditas na Liga dos Campeões pode também determinar ainda mais dificuldade a clubes como o FC Porto para chegar às finais. É claro que há sempre sonhos e oportunidades. Agora, fica difícil.
Falou da criação de um plantel competitivo e isso remete para o tema do treinador. Já disse que se vai sentar para conversar com Sérgio Conceição. O que é que espera ouvir?
Não sei. Eu pus em causa e questionei a não renovação do treinador o ano passado. Fui treinador e sei perfeitamente os momentos em que nós, enquanto treinadores, nos sentimos sozinhos ou desalinhados da estrutura. E, para mim, esse momento tinha sido a eliminação com o Inter de Milão na Liga dos Campeões. Portanto, estranhei o facto de uma estrutura à FC Porto não ter valorizado o seu treinador nessa altura. Evidentemente, temos de perceber quais são as emoções e as motivações que invadem o treinador, que começa passo a passo também a conhecer a nossa estrutura, a conhecer o nosso modo de funcionar. Eu tenho ideias muito específicas relativamente à organização de uma direção desportiva, e tudo isto obedece também a um funcionamento estrutural com o treinador que poderá ser ou não ser do seu agrado. Portanto, este é um compromisso de palavra que o Sérgio Conceição fez com o ato eleitoral e é um compromisso de palavra que eu também assumi com ele. Essa será a primeira grande reunião para perspetivar se há um futuro a dois e depois, não havendo, cada um planeará as próximas épocas.
O treinador é uma escolha em que é conveniente não falhar...
Toda e qualquer decisão é conveniente não falhar. Estrutural, de treinador, desportiva, de escolha dos jogadores. Mas o treinador é muito importante. É claro que estamos a falar de uma peça fundamental no projeto desportivo, ou seja, na sua direção desportiva aliada também com o perfil e cultura do clube e o perfil do treinador. A partir daí, é claro que o Sérgio Conceição simboliza perfeitamente os valores do FC Porto como ninguém e encontramos nele muitas coisas que vão de encontro aos perfis que se desejam. Agora, esta é uma decisão que vamos ter de tomar e tomaremos em conjunto.
Precisamente por falar em perfil, não havendo para já um nome, qual é o perfil do treinador do FC Porto?
Não queria entrar por aí, porque acho que seria injusto. A partir do momento em que entramos nos perfis... em primeiro lugar, os sócios do FC Porto sabem de que perfis é que estamos a falar quando falamos de um treinador à Porto. E depois, os jornalistas também sabem o que são esses perfis. Portanto, sem querer saltar ou dar um passo maior que a perna, vamos com calma relativamente a isso.
E o Sérgio Conceição tem esse perfil?
Sim, em absoluto.
É o seu eleito? O seu número um para o cargo?
Certo, mas isso terá de corresponder às expectativas de ambos os lados. Estamos a fazer mudanças importantes relativamente à cultura do clube e à direção desportiva. Portanto, tem de haver sempre alinhamento. Vocês tiveram aqui um candidato que diz que o Sérgio Conceição é o seu diretor desportivo. São modos de pensar totalmente diferentes do que é o nosso, que obedece a uma direção desportiva, plenamente organizada, estruturada, onde o scouting, a formação, a performance e a direção desportiva têm um papel preponderante e o treinador dedica-se à função de treinar a sua equipa.
Sérgio Conceição apareceu na apresentação da candidatura de Pinto da Costa, deu um abraço ao atual Presidente…
Sim. Não tenho problema nenhum com isso, porque eu enquanto treinador do FC Porto também me identifiquei emocionalmente com o Presidente, enquanto treinador e enquanto sócio, como qualquer um e como todos, porque todos o conhecemos durante estes 42 anos como o Presidente dos Presidentes. E eu entendi aquele momento precisamente como isso: uma pessoa que tem de estar porque se não estivesse iria ser interpretado de forma muito mais negativa. Acho bem que o tenha feito, que se tenham abraçado. O treinador neste momento manteve a sua palavra, não tenho razão nenhuma para desconfiar que não a mantenha até ao fim.
Qual é a sua resposta aos que o acusam de ser um candidato que representa uma elite, de ser o candidato da Foz, de uma zona rica da cidade?
Em primeiro lugar, dá-me muito gosto de estar aqui na rua Tenente Valadim, porque foi aqui, na Boavista, que eu fui criado, morávamos no Campo Alegre. Portanto, aí já é um primeiro tiro falhado. Nasci na Lapa, na freguesia de Cedofeita, e morei até os três anos no Campo Alegre. A partir daí vim morar para a rua Tenente Valadim, foi aqui que me cruzei aos 16 anos com o Sr. Bobby Robson, que mudou radicalmente a minha carreira. O meu pai cresceu aqui também, em Tenente Valadim, e esta rua tem muito significado emocional. Portanto, pode ser que esta entrevista também tenha um grande significado emocional futuro.
Mas tem havido uma escalada na agressividade das críticas…
É triste entrarmos nesse patamar. O Presidente eleito é o Presidente de todos os sócios do FC Porto. Os sócios que não têm capacidade de perceber isso, não querem o bem do FC Porto. Ainda esta semana ouvimos o António Oliveira, que é um grande portista, dizer que se a nossa candidatura ganhasse previa a maldição de Béla Guttmann para o FC Porto. Isto quer dizer que o António Oliveira quer o mal do FC Porto para o futuro se nós ganharmos? Ou seja, se ganhar outra candidatura num ato democrático, o António Oliveira quer que o FC Porto deixe de ganhar? Foi isso que disse? Enganou-se? Portanto, é com frases tristes e lamentáveis destas que vamos caminhando nesta candidatura.
Vai ser um dos desafios da sua presidência voltar a unir o clube que neste momento parece dividido?
Eu não entendo isso de divisão.
Não acha que o clube está partido?
Não, isto é um ato democrático onde há duas candidaturas muito fortes ao fim de 42 anos. E há escolhas e pessoas que decidem uma candidatura em detrimento de outra. É assim nas legislativas, é assim nos partidos e é assim também nos clubes de futebol. Isto não tem nada a ver com divisionismo, tem a ver com escolhas das pessoas baseadas na oferta de projetos. Eu não vivi, porque não tinha memórias, aos cinco anos, nem entendimento, nem acompanhava aos jornais, mas, 1982, isso é que foi divisionismo. Porque a eleição do Presidente, como todos bem sabem, implicou raptos a jogadores e a treinadores e, por muito bom que seja todo este legado, a realidade é que esse foi muito mais abrupto do que este. Este é democrático, é transparente, é coerente. Há pessoas que tentam levá-lo para a lama, nós tentamos elevar o discurso e manter as coisas e as nossas ideias e os nossos projetos bem orientados, bem claros relativamente ao futuro.
Ao contrário do que acontece com o treinador, sobre quem não quis traçar um perfil, já tem definido quem será o diretor desportivo do FC Porto…
Tenho. Isso é fruto da minha experiência e caminhada. Acima de tudo, tenho um conhecimento profundo da minha relação profissional e pessoal com o Zubizarreta, que é uma pessoa totalmente íntegra, difícil de encontrar no mundo atual onde se move muita gente por negócio. A FIFA tentou regular o mercado de agentes e de intermediações e acabou por falhar redondamente por conta das decisões de tribunais de vários países. Portanto, nas direções desportivas têm de estar pessoas íntegras. E eu sei que no caso do Zubizarreta, o FC Porto precisa deste tipo de pessoas, com um conhecimento profundo do futebol, mas que também sabe o que são prioridades e não olha interesses próprios ou alheios para tomar decisões.
Ele ficou surpreendido com o convite?
Foi um processo, não diria duro, mas um processo onde partilhámos muita informação. Relativamente ao futuro, à minha visão, ao que eu quero para uma direção desportiva... sempre olhei para este processo como um processo de transição suave. Ou seja, o FC Porto tem de se encontrar rapidamente com os títulos e para que isso aconteça, na direção desportiva, tem que haver pessoas com as quais eu me relaciono e sei a forma como operam. Porque se eu fosse ao mercado e fizesse uma filtragem entre diretores desportivos, evidentemente teria de lhes dar determinado tipo de liberdade e isso poderia chocar com a cultura de clube. Sei perfeitamente o que é a cultura de clube que eu quero instituir no FC Porto. Gradualmente fomos definindo o que é que pretendemos e estamos perfeitamente alinhados.
Vamos às críticas que têm surgido. O facto de o Zubizarreta não ser português, não ser portista, não ter o ADN Porto…
É um disparate, mas isso é normal. Todas as pessoas que estão nesta candidatura, incluindo os seus sócios, os sócios correspondentes, as pessoas escolhidas, somos todos traidores, incompetentes e com falta de nível. É apenas lamentável uma situação de degradação de valores pessoais que estão presentes neste ato eleitoral.
Há quantos anos conhece o Zubizarreta?
Há muitos. O Zubizarreta tem uma relação pessoal que começou por um primeiro convite que ele me fez para ir treinar a Barcelona. Depois, por diferentes motivos, não chegamos a acordo e acabou por cair por terra por duas vezes. Mais tarde cruzamo-nos, finalmente, no Marselha. É muito curioso porque nessa primeira reunião que tivemos juntos, eu disse-lhe que teria muito gosto de entrar em um clube com a dimensão do Marselha, mas que em 2024 iria ser presidente do FC Porto.
Entretanto, também já anunciou que Jorge Costa fará parte também da sua equipa…
O Jorge Costa entra aqui transportando todos os valores, cultura e ADN Porto como diretor do futebol profissional. Entre os escalões sub-19, equipa B, equipa sénior é a transição mais sensível para os jogadores formados no clube. Tudo isto precisa de uma gestão cuidada, de uma pessoa que saiba precisamente o que são os valores Porto, que ajude também a direção desportiva a enquadrar-se nesta cultura. Ou seja, se temos um presidente sócio há 40 anos, temos uma direção desportiva que se identifica também com estes valores e que sabe perfeitamente o que são os valores FC Porto e depois temos na direção do futebol uma pessoa que representou precisamente estes valores como ninguém. Foi capitão de equipa, tem um número infindável de títulos pelo clube e representa como ninguém o que é esta cultura desportiva. Na fase de acompanhamento das equipas profissionais, o Jorge será esse líder, será esse gestor, será o homem que coordenará todas as equipas que andam à volta das equipas profissionais de futebol do FC Porto.
Se vencer as eleições do próximo dia 27, acredita que vai poder festejar no Estádio do Dragão essa vitória?
Ui, não sei. Isso é uma pergunta que já nos temos feito. E, digo-lhe sinceramente, é uma pergunta que me preocupa. Não quer dizer que seja um ambiente de grandes festejos, porque no dia seguinte há um FC Porto-Sporting e é fundamental para o FC Porto terminar este campeonato com uma boa imagem, porque não é uma boa imagem a distância pontual atual. Portanto, não é uma altura de grandes festejos. Provavelmente estarei em sede de campanha. Se os sócios aderirem em massa na sede de campanha, tenho algum medo de um aglomerar de pessoas que eu não possa suportar naquele espaço. Portanto, irei tentar mantê-la fechada, aberta à comunicação social, aberta aos membros das listas. Não havendo resposta por parte do FC Porto para um determinado espaço no Estádio do Dragão, provavelmente será em sede de campanha que estaremos.
E qual será a primeira medida que vai tomar se for eleito?
É difícil. Acho que a primeira medida é sentar-me, individualmente ou coletivamente, com todos os funcionários do clube. A primeira mensagem é para eles. É a altura de uma mudança radical em termos de liderança. Radical, digo, pela quantidade de anos que o presidente da direção dirigiu o FC Porto. Portanto acho que essa é a primeira medida. De sentar com toda a gente, perceber os caminhos, os caminhos que irão levar um FC Porto melhor, mais competitivo e sustentável.
Se ganhar, quer falar com Pinto da Costa?
Naturalmente terei de falar. Acho que uma grande despedida de Pinto da Costa da Direção do FC Porto é uma obrigação. Agora depende se o mesmo a quiser aceitar ou não.
Será um presidente não remunerado?
Sim, em absoluto.
Porque não precisa ou porque pensa que o presidente do FC Porto não deve receber um ordenado?
Felizmente tenho a independência financeira para poder olhar para este desafio desta forma. Depois, acho que é o caminho e o exemplo a seguir. Muitas das pessoas que estão na minha lista, na minha candidatura, saem de situações mais confortáveis profissionalmente e pessoalmente. Porque liderar um barco como é o FC Porto é intenso e o desafio ainda se eleva mais tendo em conta a atual situação financeira do clube. Muitas dessas pessoas traçam o exemplo, aceitando estes cortes. Acho que tenho de ser o exemplo máximo disso, mas também acredito que um presidente do clube deve ser sempre não remunerado.
E relativamente aos prémios para os administradores?
Aí, o que vamos fazer é definir que os prémios na remuneração variável só serão aplicados em caso de ponderadores positivos desportivos e financeiros. E quando se aplicam ponderadores desportivos e financeiros, primeiro são valorizados os funcionários do clube e só depois, a uma taxa de 60% do que é a remuneração fixa, serão aplicáveis aos administradores.
Como vai ser a sua relação com os presidentes dos rivais?
A construção de um produto melhor para o futebol português é absolutamente fundamental. E eu quero o FC Porto líder das discussões à volta da criação desse melhor produto. Para mim, não é possível que seja o Braga a liderar estas conversas. Por muito respeito que tenha pelo clube e pelo trabalho que António Salvador fez no Braga. Se os outros não se elevam a esta discussão, que seja o FC Porto a liderar. Porque a Liga Centralização está a chegar. Já é a segunda vez que o Benfica emite “soundbites” de não querer respeitar a Liga Centralização, o que é grave. E nós temos de criar um melhor produto do futebol português. Estar em sétimo no ranking de países da UEFA é grave e não podemos estar por trás dos Países Baixos. Temos de gerar competitividade interna para que isto seja resolvido o mais rápido possível. Se isto obriga a grandes e fortes discussões sobre os quadros competitivos, que assim seja. Não podemos ter as instituições que governam o futebol português a não emitir pareceres agressivos de condenação de corrupção ativa. E não podemos ter arbitragens com decisões tão más, tão evidentes, como tivemos este ano. Portanto o futebol português tem de caminhar para a credibilidade e isso obriga a que os três grandes, mais o Braga, mais os que entenderem, se sentem e discutam ativamente e de forma clara o futuro do futebol português.
A redução dos clubes que participam na principal liga é um caminho?
Quando estamos a caminho da Liga Centralização e potencialmente de criar mais valor para clubes mais pequenos, naturalmente haverá oposição relativamente à reformatação de quadros competitivos. São discussões onde tem de se olhar ao crescimento do produto e não ao interesse próprio. E por isso é que eu digo que é fundamental que o FC Porto não se afaste das instituições que governam o futebol português. Ou seja, que isto não seja apenas sentar-se ao lado de presidentes para tirar fotografias. Que seja uma voz ativa de comunicação, de criação de melhor produto, porque é isso que falta ao futebol português para se tornar credível. Se andarmos nas picardias, nas estupidezes e nas guerras, na guerrilha entre presidentes de ligas e de federações, não valorizamos o melhor produto.