Os arguidos Ricardo Neves e Eduardo Nicodemes foram ouvidos no Tribunal de Monsanto. O julgamento continua à tarde com a audição de Bruno de Carvalho.
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O arguido Ricardo Neves foi ouvido esta sexta-feira no Tribunal de Monsanto e admitiu ter agredido "com uma chapada" o futebolista internacional argentino Marcos Acuña, durante a invasão à Academia do Sporting, em Alcochete.
"No balneário passei por eles [os jogadores] um a um, até que chego ao Acuña. Lembrei-me de toda a situação que tinha visto na Madeira e agredi-o com uma chapada", disse o arguido, na 35.ª sessão do julgamento.
Ricardo Neves explicou que o futebolista argentino, que dois dias antes tinha tido uma troca acesa de palavras com os adeptos após a derrota por 2-1 no estádio do Marítimo, "não teve qualquer tipo de reação, parece que ficou estupefacto" e "até se sentou".
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O arguido, de 24 anos, admitiu também ter lançado uma tocha para baixo do carro de Nélson Pereira, antigo guarda-redes leonino e membro da equipa técnica, que estava estacionado no interior da academia. "Lancei uma tocha para o chão e não percebi onde foi parar", disse, afirmando que só quando viu as imagens teve noção de que esta tinha ido "para baixo do carro do Nélson".
Ricardo Neves garantiu que a ida à academia "tinha como objetivo parar o treino para contestar os jogadores". "Eu achava que ao fazer aquilo eles percebiam o que o clube significava para a gente e esperava que fosse uma motivação para a final da taça", disse.
O arguido assegurou que "não tinha intenção de bater nos jogadores", admitindo que chegou a referir essa possibilidade em mensagens nos grupos de WhatsApp "apenas porque estava frustrado".
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Em lágrimas, Ricardo Neves diz estar envergonhado e pede "uma segunda oportunidade". "Quero pedir desculpa ao tribunal, às famílias e às pessoas que sofreram com os meus atos", acrescenta, já no final do depoimento.
Eduardo Nicodemes também foi ouvido no tribunal
Eduardo Nicodemes garantiu que foi à academia para "ver o treino e tentar arranjar bilhetes", acabando por se juntar ao grupo quando viu "uma caravana" de carros a chegar. O arguido, de 48 anos, disse ter sido o último do grupo a entrar na academia "com um colete na cabeça, por causa dos jornalistas", explicando depois que encontrou Jorge Jesus "em pânico".
"Das primeiras pessoas que vi foi o Jorge Jesus, que me disse: 'Tu és dos mais velhos, ajuda-me, passa-se ali qualquer coisa, está a haver problemas'", recordou.
Apesar de estar incluído nos grupos de WhatsApp, nos quais foi combinado o ataque à academia, o arguido disse que só se apercebeu de que estava a ser combinada uma ida a Alcochete no dia 15, "a seguir ao almoço".
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O julgamento prossegue à tarde com a audição de Bruno de Carvalho, presidente do clube à data dos factos e acusado da autoria moral de 40 crimes de ameaça gravada, 19 crimes de ofensas à integridade física qualificadas e 38 crimes de sequestro.
O processo tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.
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