"As medalhas são um vício, quero mais e mais." O regresso de ouro de Joana Santos a Portugal
Autora: Maria Ramos Santos
Corpo do artigo
Tricampeã surdolímpica, mãe, trabalhadora e uma mulher de força do judo português, Joana Santos foi recebida no Aeroporto de Lisboa com uma onda de emoção. Da família que veio do Algarve de madrugada ao treinador afastado por motivos de saúde, passando pelo antigo campeão surdolímpico Hugo Passos, todos quiseram abraçar a judoca que voltou do Japão com (mais um) ouro ao peito e com vontade de continuar a elevar o desporto surdolímpico português: "É um vício, quero mais e mais."
A hora prevista de chegada era às 10h00, mas meia-hora antes há quem já estivesse no Aeroporto de Lisboa. Entre amigos, familiares e o treinador de sempre, todos esperavam Joana Santos, a judoca portuguesa que este ano se tornou tricampeã.
"Foi 01h45 de viagem, viemos do Algarve e não apanhámos trânsito", ouvimos alguém comentar.
O pai, com o telemóvel pronto a registar o momento de chegada de Joana Santos, conta com orgulho que tem na sala de casa um quadro com todas as medalhas da filha. "Já nem cabem lá mais", atirou, entre risos.
Já o marido e os dois filhos de Joana agarraram na bandeira de Portugal e ramos de flores e foram o mais próximo possível da zona de chegadas do aeroporto. As saudades eram muitas e a felicidade também. Aliás, quando Joana chegou, o filho mais novo não perdeu tempo a agarrar a medalha de ouro da mãe, trincá-la e pô-la ao pescoço.
"Estou muito feliz. A minha família fez uma viagem grande para me ajudar e felicitar", partilhou a judoca.
Mas este regresso foi ainda mais especial. Pela primeira vez, o treinador Júlio Marcelino (com quem estabelece uma relação de mais de 25 anos) não foi com Joana aos Jogos Surdolímpicos por motivos de saúde e, por isso, era um dos tantos que esperavam cá fora pela atleta do Clube de Judo do Algarve.
Antes de ir dar um grande abraço a Joana, confessou à TSF estar "muito honrado e feliz" com esta conquista. Ficou uma noite inteira acordado, "das 00h30 às 10h00", para acompanhar a prova em Tóquio, acrescentou.
"Agora estou é preocupado. O meu plano era fechar a loja aqui, mas pelas palavras que ela disse, acho que vai querer continuar." (risos)
E, se assim for, Júlio Marcelino garante que cá estará para continuar a apoiar Joana - que, para já, sabe que vai descansar e aproveitar o momento em família. Ainda assim, atirou: "Isto é um vício. Gosto de medalhas e de mais e mais."
Júlio Marcelino foi substituído por Delfim Martins em Tóquio, no Japão.
O técnico chegou ao lado de Joana e da parceira de treino Mariana Lot com um sorriso de orelha a orelha. Revelou-nos que foi a experiência, foi um "desafio", principalmente pela questão da comunicação. Joana sublinhou também que "o Júlio é o Júlio" e que já está adaptada aos códigos que desenvolveram entre eles. Ainda assim, ambos conseguiram adaptar-se e nunca duvidaram que seria possível revalidar o título.
"Quando o chefe de missão me pediu o plano de treinos da Joana eu coloquei os vários dias e na tarde do dia de competição eu coloquei '16h40: medalha com o número 1'. Estava muito confiante de que íamos ganhar."
Mas muito mais do que uma judoca medalhada, o que representa Joana Santos? Para Delfim Martins a resposta é fácil: "Ela faz desporto, é mãe e trabalhadora. Ela representa tudo isto. É uma mulher de muita força. Tem este ar assim muito querido e é muito brincalhona. Lá, estava sempre a pregar partidas, mas no tapete é uma máquina. Um currículo destes devia ser mais valorizado."

Joana foi recebida esta quinta-feira, no Aeroporto de Lisboa, numa bolha de amor e carinho. No meio da multidão estava também Hugo Passos, o histórico campeão surdolímpico português em luta, que fez questão de vir homenagear a amiga e atleta que continua a levar Portugal ao lugar mais alto do pódio.
A judoca foi a primeira da comitiva a aterrar em Lisboa, mas, antes de ir ambora, garantiu-nos que estará no aeroporto para receber os restantes atletas. A motivação, a ambição e a voz de liderança não ficaram no Japão.
"Não podemos desistir. Estamos a representar Portugal", frisou ainda.
