Aurélio Pereira, um "génio" que cantava o fado e contava anedotas "tão bem como identificava talento"

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Fernando Santos era amigo de Aurélio Pereira ainda antes de ambos começarem no futebol. À TSF relembra os talentos fora de campo do "Senhor Formação" e elogia o "olhar clínico" que "não tem comparação"
Aurélio Pereira é um nome incontornável do futebol de formação em Portugal e que deu a conhecer muito talento para o mundo todo. O "Senhor Formação", como era conhecido, morreu esta terça-feira aos 77 anos. A TSF falou com Fernando Santos, selecionador campeão europeu por Portugal, que tinha uma amizade próxima com o olheiro e que conhecia os seus talentos menos conhecidos, fora das quatro linhas.
"As memórias são muitas. Eu perdi um amigo há muitos, muitos anos. Eu e o Aurélio, para além de conhecermos o futebol, já nos conhecemos muito antes, porque o irmão foi meu colega de equipa durante muito tempo, é um dos meus grandes amigos, o Carlos Pereira, e desde aí fui também grande amigo do Aurélio, porque passámos a estar muitas vezes juntos, a conviver muito", começa por contar à TSF Fernando Santos.
O antigo selecionador nacional lembra a facilidade com que Aurélio Pereira selecionava jovens para a equipa do Sporting, considerando que o "Senhor Formação" era o melhor dos melhores a identificar talento.
Fernando Santos fala do "olhar clínico" do antigo jogador, treinado e olheiro, e que o colocava num patamar diferente: "Hoje temos estes meios todos, de análise, de ver. Os miúdos vão jogar para os clubes muito cedo, com nove, dez anos, onze anos, doze. Naquela altura era na rua, no jardim, e o Aurélio tinha um olho,aquilo era um olho clínico, era algo tão inato que não tem comparação possível com ninguém."
Mas mais do que o olheiro reconhecido a grande nível por todo o mundo do futebol, Fernando Santos conhecia o lado pessoal de Aurélio Pereira, que tinha talentos escondidos: o fado e o humor.
Era um grande amigo, tinha características únicas, e eu tive essa oportunidade de partilhar muitosmomentos da vida dele, porque fazia parte de algumas tertúlias e de almoços. Se ele estava num almoço, ou numa tertúlia, era um sucesso garantido. As pessoas não sabem, mas ele era um contador de anedotas nato, ele era tão bom a contaranedotas como era a identificar talento. Era quase a mesma coisa, tinha um humor fantástico. E cantava muito bem o fado! Muitas vezes que estivemos nessas tertúlias, tive a oportunidade e o prazer de o ouvir. Era um homem do futebol, mas a mim lembra-me e fica o amigo Aurélio.
Fernando Santos não poupa nos elogios ao amigo Aurélio Pereira, lembrando a relação pessoal que ele mantinha com os jovens jogadores.
"Ele era um bolo completo, é que ele tinha esse talento mágico, mas tinhaoutro lado que era o lado humano da preocupação, da preocupação com esses miúdos", conclui.
