Bernardo Lopes fez “escolha difícil” de trocar Portugal por Gibraltar, mas agora pode ser a arma secreta para surpreender SC Braga
A TSF falou com o capitão do Lincol Red Imps, adversário do SC Braga no acesso à Liga Europa. Está há 11 anos em Gibraltar e representa a seleção daquele país. Quer surpreender e fazer história
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Bernardo Lopes é uma das caras do Lincoln Red Imps, adversário do SC Braga no play-off de acesso à Liga Europa. O português, agora internacional por Gibraltar, mudou-se para o país há 11 anos, depois de formação no Estoril Praia e no Benfica. Tem acompanhado o crescimento do futebol naquele país e contou à TSF que foi questionado pelos analistas do clube sobre o que esperar do adversário desta noite.
O capitão da equipa de Gibraltar está orgulhoso dos feitos da equipa, que mesmo que perca com o SC Braga, já garantiu o lugar na fase de liga da Liga Conferência, mas Bernardo ainda quer mais.
Para quem não conhece, como é o futebol em Gibraltar?
O futebol em Gibraltar é um futebol que está a crescer. Acho que está a meio de um processo que é lento e demora alguns anos, porque é uma realidade completamente diferente do que estamos habituados na Europa. Também é um país mais pequeno, mas é um futebol que está a crescer. Acho que o facto de termos conseguido, nos últimos anos, alcançar os grupos Liga Conferência e, este ano, ter a oportunidade de estar às portas da Europa League, tem vindo a mostrar que o trabalho que tem vindo a ser feito tem sido bom. Este é o caminho.
O que podem trazer para o jogo com o SC Braga?
Sem falar da qualidade dos jogadores, qualidade das equipas, a diferença, a dimensão das equipas, acho que vamos mostrar atitude, ambição, vontade de fazer história. Acho que isso é o mais importante, fazer história por um país, fazer história por um clube. Atitude, espírito de equipa, porque foi o que nos trouxe até aqui e acho que temos os ingredientes todos para fazer o nosso melhor, para desfrutar do jogo e, depois, dentro das quatro linhas, seja o que Deus quiser, que, no fim, acabe bem para nós.
Para ti, obviamente, é um jogo especial. Não é a primeira vez que vocês jogam no Estádio do Algarve, mas contra uma equipa portuguesa. Será um jogo importante, com família, amigos…
Há poucos dias estava a falar com a minha família e estava a dizer isso. É um jogo que há uma mistura de sentimentos um pouco estranha, até porque o facto de estar a jogar em Portugal é bom, claro. No Estádio do Algarve já fizemos muitos jogos aqui. O ano passado fizemos também os play-offs aqui. É bom, é voltar a sentir-te em casa. Mas competir contra uma equipa portuguesa, uma equipa como o Sp. Braga, que tem uma dimensão europeia também grande, uma equipa que luta por títulos em Portugal, e principalmente uma equipa que eu acompanho desde pequeno, faz com que haja uma mistura de sentimentos. Também a vontade de representar este clube, de fazer história para este país, de dar o meu melhor, ou seja, há toda uma mistura de sentimentos. Aumenta os níveis todos de concentração, de intensidade e de motivação.
Já pediram muitas dicas aí no clube em relação ao jogo?
Às vezes falamos disso. Estava a falar no outro dia com os analistas que veem o jogo do Sp. Braga e que tiveram a ver os jogos, e estava-me a perguntar se eu tinha alguma opinião diferente, o que é que eu achava pelo facto de acompanhar a Liga Portuguesa. Algumas coisas sobre alguns jogadores. Então acaba por ser engraçado porque eu digo que estou aqui com eles, treino com eles, estou num outro país. Também não sei ao pelo menor o que se passa lá em cima. (risos) Toda a gente tem uma ideia do que é o Braga, as equipas portuguesas e é sempre possível acrescentar algo.
Têm este fator que se perderem frente ao Braga, pelo menos a entrada na Liga Conferência está garantida. Sei que neste momento não querem pensar, obviamente, nisso, mas o facto de conseguirem novamente chegar garantidamente a uma fase de grupos de uma competição europeia também é muito importante, não?
Sim, em 2021 entrámos na Liga Conferência pela primeira vez e desde aí que o objetivo todos os anos tem passado por aí. Nós vimos que éramos capazes de alcançar a fase de grupos desde esse ano. Temos vindo a trabalhar muito para consegui-lo todos os anos. No ano passado estivemos às portas também. E este ano conseguimos garantir a entrada na fase de grupos, mas claro, agora tendo a oportunidade de jogar um play-off de acesso à Liga Europa, acho que o foco virou para o outro lado. Sabendo que o outro já está garantido, não pensamos na Conferência. Sabemos que é um rival de uma dimensão enorme, é uma grande equipa a nível europeu, que está habituada e tem experiência nas competições europeias, mas nós temos vindo a trabalhar muito, temos confiança em nós próprios e temos de fazer o nosso melhor.
O Bernardo tem a formação no Estoril, depois no Benfica, chegou até a equipa B do Marítimo e depois Gibraltar. Como é que aconteceu esta oportunidade e como é que foi feita esta escolha?
A escolha, para ser sincero, foi difícil. Na altura estava no Marítimo, entre umas coisas e outras, falando com umas pessoas, com outras, mas surgiu a oportunidade de ir para Gibraltar, muito através do facto de jogar as competições europeias.Foi assim que foi iniciada a conversa comigo desta oportunidade: “Vamos para Gibraltar, sei que é uma liga que não é tão conhecida, o país também não é muito falado, mas há a oportunidade de jogar umas competições europeias, pode ser uma rampa de lançamento”. E depois de ouvir todas as ideias e as intenções, acho que demorei uns dias a processar toda a informação e a tomar a minha decisão, mas tomei a decisão, foi o que eu optei no momento. E acho que, por uma razão ou outra, tenho ficado aqui estes anos todos, não me vou queixar, porque foi a opção que eu fiz. Tenho vindo a ser feliz aqui, tenho tido a oportunidade de fazer história por um país e por uma seleção.
Provavelmente quando fez essa mudança, nunca pensou que iria ficar tantos anos, mas a verdade é que depois também chegou a oportunidade de representar a seleção de Gibraltar. É um desafio diferente em relação à seleção que estava habituado a acompanhar?
São coisas completamente diferentes. Afinal de contas, Portugal é uma seleção que já tem um nome mais perfeito no futebol europeu e mundial, é uma realidade completamente diferente. Mas depois de alguns anos de viver em Gibraltar, eu sentia-me em casa, falaram comigo. Vi como uma oportunidade de jogar a nível internacional, de ajudar a fazer parte do processo de crescimento de uma seleção e de um país a nível europeu e mundial. Foi difícil ao início, mas o meu treinador na altura da seleção tinha sido o meu treinador do clube.Facilitou um bocadinho a escolha. E, como disse, foi uma decisão difícil que eu tomei, mas aos dias de hoje posso dizer que estou bastante feliz pela opção que tomei. Só quero continuar a fazer o melhor possível e alcançar feitos históricos ou memoráveis para o país e para o clube.
Quem não conhece, como é que se vive o futebol em Gibraltar? A liga é toda profissional ou há clubes não profissionais? E em termos de adeptos, como é que se vive o futebol por aí?
A liga é uma liga que está a crescer. Eu acho que em Gibraltar acompanha-se muito o futebol, mas é o futebol da Premier League. O futebol de Gibraltar ainda não é tão acompanhado. É um futebol que está em crescimento também, mas que talvez não cativa ainda a atenção de muita gente. É uma liga que tem algumas equipas, não são todas profissionais. As primeiras seis, sete equipas são profissionais. As três primeiras são profissionais mais que as outras. Já estão mais habituadas a competir a nível europeu. São mais cimentadas no que ao futebol. As pessoas, aos poucos, vão se aproximando mais do que ao futebol lá. Também o facto de ir entrando em competições europeias, na fase de grupos, chama muito mais a atenção das pessoas.A seleção também tem vindo a fazer bons jogos, bons torneios a nível europeu e qualificações. Estamos a jogar num estádio que foi improvisado, acho que tem 700 ou 800 lugares. E agora, com as obras que foram feitas, acho que pode chegar a dois mil. Ou seja, é algo que está em processo. Não há muita gente a ver o futebol, mas cada vez há mais. E isso é uma demonstração de que há mais vontade de ir aos jogos e que estamos no caminho certo.
