Break nos olímpicos. B-girl Valeria Karamysheva "confiante" para Paris, e de olhos postos em Los Angeles
Corpo do artigo
Natural de Aveiro, Valeria Karamysheva tem 17 anos e é esperança olímpica portuguesa na modalidade de break.
Em março deste ano, a B-Girl sagrou-se campeã nacional no Red Bull BC One Cypher Portugal, e ganhou um bilhete direto para a final mundial de Roland-Garros, em Paris, França. Recentemente, foi até à Eslovénia competir e ficou entre os quatro melhores do mundo na categoria sub-18.
Numa altura em que estava mais desmotivada, Valeria foi contactada pela Federação Portuguesa da Dança Desportiva (FPDD) para lhe dar conhecimento de que é uma "Esperança Olímpica", um projeto do Comité Olímpico Português que se destina a apoiar atletas que, através dos seus resultados e "valor desportivo", têm potencial para integrar na competição.
Foi um grande reconhecimento" e, a partir daqui, só existe "vontade de ser melhor", disse.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2023/06/whatsapp_video_2023_06_11_at_23_34_24_20230613090142/hls/video.m3u8
O que mudou a partir do momento em que foste escolhida como Esperança Olímpica?
Ao ser Esperança Olímpica sinto que tenho reconhecimento. É engraçado, porque o nome é esperança olímpica e, na verdade, dá-me esperança para ser melhor. Acho que é uma cena que nos dá vontade e dá-nos força para continuarmos. Acho que é mesmo fixe, porque nem todas as modalidades esta oportunidade de estar olímpicos e acho que isto tudo é uma grande vantagem e é muito bom para a geração futura para perceber que há benefícios desta modalidade e que se pode viver disto. É possível!
O break é devidamente valorizado em Portugal?
Sinto que em Portugal não há valorização suficiente para o break. Primeiro, metade das pessoas nem sabe o que é que é break. Ainda é uma coisa que quando digo que faço, tenho de explicar que rodo a cabeça, ou o que faço mortais, ou cenas assim que o pessoal não tem noção. Mesmo por parte das federações, acho que não dão tanto valor ao break... Eu percebo que é um desporto novo, mas não há assim muito interesse e é sempre uma grande chatice falar com eles, porque eles são muito desorganizados, pelo menos a minha Federação. Eles só patrocinam, neste caso patrocinar entre aspas, um atleta que é a Vanessa. Por exemplo, eu estou em segundo nacional e eles não ajudam em nada quando eu quero ir lá para fora, eu tenho que pagar tudo do meu bolso. Levam um atleta por categoria e ele tem que estar no top 16 mundial, quando há outros desportos que levam duas e três pessoas, mas no breaking só levam uma e eu acho que isto um bocadinho desvantajoso. Mas também acho que vai crescer, espero eu, e vão dar mais valor a esta modalidade. Acho que Portugal desvaloriza um bocadinho esta realidade. Em termos monetários também não oferece muito e em termos de competições temos muito poucas, e isso ainda tem que melhorar.
Com 17 anos, como fazes a tua gestão de tempo, entre aulas, treinos e competições?
Sempre foi um bocadinho desafiante eu ter que estudar, eu ter que trabalhar também aos fins de semanas. Eu tenho que estudar, lazer, praticar e as competições são normalmente nas épocas de testes. Mas eu acho é fácil... há tempo para tudo! Ok não acho que seja fácil, mas é acessível, se uma pessoa for bem organizada. Tive que aprender. Tive que aprender a organizar-me melhor e ter os melhores resultados em ambas, nos estudos e nas competições. É desafiante, mas acho que nos prepara um bocadinho para a universidade, porque, não sei, sinto que também vou ter muita coisa para fazer.
Eu tive uma fase em que tive piores resultados na escola por causa das competições, que na verdade foi esta última do 12.º ano. Estava um bocadinho a "lixar-me" para os estudos, porque o break estava a dar-me muito 'hype' e estava a ganhar muitas coisas, por exemplo a Red Bull... Só me apetecia dançar para a vida inteira e perdi-me um bocadinho. Mas também já tive alturas em que estava muito focada nos estudos e perdi-me no break e depois houve um desnível, comecei a perder muitas vezes... Acho que é tudo uma montanha, mas que acaba por ser acessível e toda a gente consegue organizar-se bem.
Qual é a tua expectativa com os olímpicos?
Eu sei que para 2024 não estou pronta, mas tal como o nome diz, nós somos Esperanças Olímpicas e eu para 2028 e 2032 estou confiante, acho que tenho alguma chance. Pelo menos, se eu continuar a fazer o que estou a fazer, a treinar com o meu treinador, a desafiar-me a treinar com outras pessoas de outros países...Nós combinamos treinos, porque isso é muito bom para nos mantermos no ambiente. Agora, o processo olímpico é um bocadinho mais desafiante, porque normalmente nós temos as batalhas, que são muito mais interações de rua e dança muito menos competitiva, no sentido como um desporto, é muito mais uma arte. Eu acho que os olímpicos são um bocadinho mais desafiante, mais stressante e eu posso não me adaptar muito bem, mas eu acho que não. Acho que eu já ando a fazer algumas competições do percurso olímpico para 2024, só para ver como é a situação - as pontuações, como é que funciona - para me adaptar um bocadinho.
Sei que para 2024 é mesmo um fora, não dá, mas para 2028 estou confiante e espero ter bons resultados, mas também há 2032. Ainda estou numa idade que eu acho que dá para esperar e ser boa em 2032.
Outra coisa, claro que o break pode sair dos olímpicos se isto não funcionar, mas eu acho que isso seria uma grande desgraça, porque o break é um desporto mesmo interessante e mesmo difícil. Nem todos conseguem, metade das pessoas desistem ao tentar e eu acho que era mesmo interessante ver este tipo de modalidade nos olímpicos e eu espero que fique para eu ter oportunidade de participar, porque se acabar em 2024 acabou para mim e não dá.
https://d2al3n45gr0h51.cloudfront.net/2023/06/whatsapp_video_2023_06_11_at_23_34_12_20230613090046/hls/video.m3u8
Qual a melhor forma de reconhecerem o teu trabalho?
É o melhor reconhecimento que eu tive, eu não sei muito se estamos a falar de prémios... Mas, para mim, o mais importante foi ter ganho a Red Bull Portugal, que é um campeonato nacional organizado pela Red Bull, ganhei o primeiro lugar e deu-me um ticket para Paris para participar na Red Bull Mundial no Roland Garros. Acho que isso é uma oportunidade incrível. Eles pagam-me tudo e eu estou entre os melhores, melhores e melhores... E mesmo assim, há melhores que nem conseguiram passar, porque os países deles têm muito grande nível e pronto acho que isso foi das melhores coisas. Agora, também fiquei no "top 4" na Eslovénia abaixo de 18, mas pronto também acho que foi uma grande coisa, visto que no ano passado fiquei em 16.º. E depois também temos as esperanças olímpicas, que eu acho que foi uma grande cena. Eu nessa altura para ser sincera, estava muito desanimada com tudo e queria desistir, mas quando a Federação me disse que eu era uma Esperança Olímpica e me deu esta oportunidade, eu acho que foi um grande reconhecimento e que me deu muita vontade de treinar e de ser melhor.
