Camiões? À boleia de Nakajima é mais fácil, mas "chouriço" não permitiu surpresa
Foi assim que Vítor Oliveira explicou o resultado no Estádio da Luz, referindo-se ao golo de André Almeida. Benfica vence Portimonense por 2-1, com alguns sustos pelo meio.
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Vítor Oliveira prometera que não levaria camiões e autocarros. O homem é sábio, viu o que ninguém imaginava: o Portimonense não precisava de autocarros e camiões porque viajaria à boleia de Shoya Nakajima. O japonês de 23 anos tem pinta, gosta de jogar sempre no pé, desequilibra, procura sempre o espaço e vai no drible. Nasceu em Tóquio em 1994 e em 2011 já disputava um Campeonato do Mundo, nos Camarões, em sub-17. Vestia a camisola 14. Cinco anos depois, foi promovido: número 10 da seleção olímpica no Rio de Janeiro. Até marcou à Colômbia. Agora voltou a ser promovido: futebol europeu, uma bela exibição no Estádio da Luz e a certeza de que será acompanhado com interesse. A coisa esteve tremida, mas o Benfica conseguiria dar a volta ao resultado, com um golaço de André Almeida. Discute-se a intencionalidade do número 34. Vítor Oliveira não tem dúvidas: "Foi um chouriço".
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O Portimonense regressava à Luz, para a Primeira Divisão, seis anos depois. Em 2011 empatou 1-1, com um golo de Ricardo Pessoa, que esta noite também jogou. Do lado encarnado, as novidades eram Samaris e Zivkovic, o canhoto acabaria a fazer o corredor esquerdo, num vaivém desesperado com vista à reviravolta do resultado. Paulinho, Fabrício e Nakajima iam abanando as coisas pelos homens que jogam de preto e branco. No Benfica era o senhor quarterback, Pizzi, a orquestrar tudo. O costume.
Aos 56' a profecia de Oliveira despertou: Nakajima rouba a bola a André Almeida e desata a correr, lançando depois Fabrício. O brasileiro, cheio de ginga, entrou pela esquerda, deu umas bicicletas, enganou Luisão e colocou no poste mais distante. Foi um golo bonito. Do céu à promessa de inferno foram apenas três minutos: Hackman viu o cartão vermelho depois de cometer um penálti sobre Salvio, que entrara ao intervalo para agitar o amolecido jogo encarnado. Jonas bateu o penálti: bola para um lado, guarda-redes para o outro, 1-1.
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Em inferioridade numérica, esboçou-se uma espécie de autocarro, com uma linha de cinco atrás muitas vezes. O contexto era outro. Rui Vitória tentou melhorar o meio campo e a saída de bola desde trás, fazendo entrar Filipe Augusto por Lisandro, puxando Samaris para central. Nakajima saiu a seguir: acabaram-se as pilhas do japonês, ainda por cima o campo, com dez jogadores, ameaçava ficar ainda maior, como se via naqueles episódios dos desenhos animados japoneses "Tsubasa" (ou "Oliver"). Jonas ia assustando Ricardo Ferreira, que ia resolvendo as invenções do número 10 do Benfica.
Gabriel Barbosa, o avançado emprestado pelo Inter, saltou para o aquecimento. Raúl Jiménez entraria pouco depois. É o chamado "carne toda no assador": saiu Eliseu, Zivkovic passou a fazer o corredor e passava a haver três avançados com a mira apontada à baliza algarvia.
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O desespero, e o medo de tropeçar pela segunda vez consecutiva, ia ocupando os lugares vazios do Estádio da Luz. Pizzi e Jonas iam mantendo o tino na turma da casa. Sensivelmente a dez minutos do fim, os 52.795 adeptos na Luz iriam ver algo só visto três vezes: um golo de André Almeida. O gesto técnico é belíssimo, um vólei de longa distância, da linha lateral, quase na linha de fundo. Sim, é difícil acreditar na intencionalidade do lateral direito, mas depois de ver como ele celebrou o golo isso deixa de ter qualquer importância.
Aquele vólei à inglesa, tão visto em rapazes como Scholes, Gerrard e Lampard, valeria a vitória, mas isto não terminaria sem um verdadeiro susto que gelou a alma daquela gente na Luz: o vídeoárbitro anulou o segundo golo de Fabrício, por fora de jogo. Prri, prri, prri! Fica a nota: este Portimonense, que conta quatro derrotas em cinco jornadas, esteve na luta até ao fim, mesmo com dez homens. A ponta final foi em fast forward e emocionante.
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