Cardoso Varela entre a irreverência e a responsabilidade aos 15 anos

Cardoso Varela demora a libertar-se quando confrontado com a presença de um jornalista. “Estou nervoso”, solta. Dois repelões, um “sim” e um “não” depois da primeira pergunta e o extremo luso-angolano deixa escapar um sorriso. “Sou um jogador perigoso, um jogador que gosta de ir para cima, que gosta de arriscar."

Que o digam os espanhóis. Aos 15 anos, Cardoso Varela entrou no Campeonato da Europa de Futebol com para deixar uma marca no torneio. De pé direito apontou o primeiro golo português na prova, no jogo de estreia diante da Espanha (seleção campeã europeia de sub-17 em três ocasiões). 

O perfil de Cardoso Varela assemelha-se ao de outros companheiros de sector na equipa portuguesa, embora seja ele o mais novo de todos (15 anos, cumpre 16 apenas em outubro). Cardoso aponta os nomes dos companheiros com quem é prazeroso jogar. “Temos o (Geovany) Quenda, o Gabi (Gabriel Silva), o (Rodrigo) Mora, o (João) Simões, e temos todos os outros que também têm muito valor”.

Fica apresentada a frente de ataque de uma geração portuguesa que dá nas vistas. Cardoso Varela tornou-se em dezembro o jogador mais jovem a atuar na Youth League por uma equipa portuguesa (com 15 anos e sete meses). Rodrigo Mora vem de uma temporada de recordes na equipa B do Futebol Clube do Porto, o mais jovem a marcar na segunda liga, aconteceu em novembro de 2023. Geovany Quenda ainda não se estreou mas já foi convocado por Rúben Amorim para a equipa principal do Sporting. Gabriel Silva e João Simões também brilharam na formação dos leões ao longo da temporada. 

“Podemos sonhar”

Pode a equipa portuguesa de sub-17 sonhar com o título europeu? “Podemos sim”, responde sem hesitar Cardoso Varela, “estamos unidos e vamos mostrar-nos concentrados nos próximos jogos, com Inglaterra e França”, assinala em entrevista à TSF, registada ainda antes do jogo de estreia com a Espanha. 

Mas há na cabeça de Cardoso Varela, e nas palavras, emerge uma responsabilidade pela vitória que se sobrepõe a um lado estético. Aquele jogo com a Espanha, “foi preparado com cuidado e responsabilidade, explica o extremo esquerdo”. Provou-o no número de ações defensivas pelo corredor esquerdo no jogo com a seleção espanhola. Não só as ações a defender de Cardoso Varela, mas também as de Geovany Quenda no corredor oposto, jogador quase dois anos mais velho do que o extremo do Futebol Clube do Porto. 

Restam os duelos com Inglaterra e França. Neste grupo do Europeu de sub-17 há quatro equipas campeãs do torneio. Portugal em 2003 e 2016, Espanha em 2008, 2009 e 2017, França em 2004 e 2022, e a Inglaterra em 2010 e 2014. 

Só duas equipas passam à fase seguinte. “Isso motiva muito os jogadores”, considera Cardoso Varela sobre a competitividade do grupo. 

“O grupo está unido, concentrado. Neste momento o foco é só a seleção. Deixamos de lado o Benfica, o Sporting e o Porto. Queremos representar a seleção, com humildade, com garra. É uma honra, um orgulho. O resto fica de parte”, garante o extremo de 15 anos. 

Na edição de 2023, militam na seleção espanhola nomes como Pau Cubarsí e Lamine Yamal, jogadores que, um ano depois, aguardam a primeira chamada da seleção principal espanhola para um Europeu sénior, com legítimas aspirações. São titulares do FC Barcelona e referências para quem vai começar o torneio. 

“O meu objetivo é chegar lá, mas agora tenho de me concentrar nos jogos, em fazer o que o mister pede, o que o jogo pede. Quero ganhar e ajudar Portugal a conquistar os pontos”.

A seleção portuguesa de sub-17 cumpre o segundo jogo no europeu frente à Inglaterra esta sexta-feira, 24 de maio (18h30). As duas seleções venceram na primeira jornada da fase de grupos.