Da rivalidade à união em Liverpool para homenagear Diogo Jota, o eterno número 20
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Liverpool é uma cidade que respira futebol, um pouco por toda a parte. Em cada esquina, há uma referência ao desporto-rei e, claro, às estrelas dos rivais de Merseyside, o Everton e o Liverpool. A rivalidade é grande e mundialmente conhecida, mas este fim de semana, e desde a quinta-feira em que Diogo Jota e André Silva morreram, há um clima de união entre o lado vermelho e o azul da cidade.
No memorial que está a ser criado ao longo de Anfield Road, o vermelho é, obviamente, a cor que predomina, mas não é estranho ver tributos de todas as cores. No meio das flores brancas e vermelhas que compõem o nome de Diogo Jota, estão três coroas de flores com as cores do Everton. Foram deixadas por membros do clube do outro lado do Stanley Park, com os portugueses Beto e Chermiti a serem a cara do espírito de união. Esse é só um dos muitos exemplos de como o luto por Diogo Jota e André Silva uniu o mundo do desporto. Cachecóis do Manchester City, do United, bandeiras de Portugal, camisolas do FC Porto, do Wolverhampton fazem parte do memorial de largas centenas de metros que está a crescer a cada dia que passa nas imediações de Anfield Road.
“As pessoas vêm ter comigo e agradecem de estar aqui. Vim de Wolverhampton porque tinha de prestar a última homenagem ao Diogo”, conta-nos Sean, adepto dos lobos, que aproveitou o fim de semana para ir até Liverpool e deixar flores no memorial. Enquanto conversa com a TSF, não consegue conter as lágrimas. Desabafa sobre como se sentiu irritado quando o menino dos Wolves se mudou para as cores dos reds de Liverpool, mas admite que sabe que foi o melhor que Jota podia ter feito na carreira. Sean está acompanhado pela família, os quatro amparam-se enquanto absorvem todas as emoções daquele momento.
Da parte dos adeptos da casa, do Liverpool, não há dúvidas de que Anfield Road tem um novo herói, o número 20 eterno. Muitos pedem, o que já é expectável que aconteça, que os reds retirem a camisola do português de maneira a eternizá-la. Em todos os cantos do estádio, no percurso à volta, há homenagens espontâneas a Jota e a André Silva. Num dos cantos do recinto, foram abertas as portas de um hall onde estão os livros de condolências do português.
A fila para deixar uma mensagem final é feita em caracol, sempre com pessoas à espera, mas sempre em movimento. O local é de respeito e luto sentido. Há caixas de lenços à porta e junto aos livros, onde é pedido que não se filme nem fotografe. As mensagens são escritas num caderno de capa dura com folhas brancas, que ao longo dos dias estão a ser preenchidas. Depois, irão fazer parte das homenagens que o clube de Liverpool está a preparar para o jogador.
Na rua, nos transportes públicos, nas lojas, o tema Diogo Jota é tópico comum. As pessoas vão comentando entre si a tragédia que se abateu sobre a família de Gondomar. A dor é partilhada, diminuída entre abraços de estranhos. Brian, adepto do Liverpool há mais de 60 anos, esteve durante todo o fim de semana junto ao memorial de Anfield Road com apenas um objetivo: consolar todos aqueles que precisaram de um abraço. À TSF, vestido a rigor com casaco e boné dos reds, contou que já viveu os extremos das emoções com o clube campeão inglês e que segue, à risca, o lema do clube: You Wil Never Walk Alone. É isso que o leva ali, garantir que cada uma das pessoas que vai até ali chorar a morte de Diogo Jota tem como se consolar e apoiar.
Sean é a personificação do espírito que se vive em Anfield Road e que promete fazer de Diogo Jota, o camisola 20, um símbolo eterno.
