De Lukaku a Vinícius. Os casos de racismo no futebol europeu e o que foi feito
Vinícius Júnior foi o mais recente alvo de insultos racistas que, este ano, já foi a causa para diversas punições. Mas ainda há trabalho a fazer.
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O fim de semana desportivo ficou marcado pelos insultos racistas que Vinícius Júnior, jogador do Real Madrid, alegadamente ouviu durante a partida deste domingo frente ao Valência, no Estádio Mestalla.
Não é a primeira vez esta temporada que o brasileiro se queixa de racismo durante a temporada. Logo no início da época, quando o Real Madrid defrontou o rival Atlético de Madrid, o extremo queixou-se de que os adeptos da equipa liderada por Simeone cantaram "Vinicius, você é um macaco, você é um macaco". O Atlético de Madrid rapidamente condenou as ofensas, considerando-as "inadmissíveis". Uns meses mais tarde, o mesmo aconteceu em Palma de Maiorca.
A cada rodada fora de casa uma surpresa desagradável. E foram muitas nessa temporada. Desejos de morte, boneco enforcado, muitos gritos criminosos... Tudo registrado.
- Vini Jr. (@vinijr) May 22, 2023
Mas o discurso sempre cai em "casos isolados", "um torcedor". Não, não são casos isolados. São episódios... pic.twitter.com/aSCMrt0CR8
Os casos de racismo, com mais ou menos expressão, têm sido recorrentes por toda a Europa.
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Inglaterra
Inglaterra é o país que mais casos tem tido e também o que mais tem reagido a estas situações. Este ano, o treinador Crawley Town, da League Two (quarta divisão), foi suspenso por três anos devido a 11 casos de discriminação, o maior castigo de sempre do futebol inglês. Também em 2023, o Arsenal baniu 31 adeptos e o Wolverhampton castigou 57.
As redes sociais também estão debaixo de olho das autoridades e entidades futebolísticas no país. O caso mais mediático foi o da final do Euro 2020 (disputado um ano depois por causa da pandemia), quando ingleses e italianos discutiam o título. O jogo só ficou decidido nos penáltis e a seleção dos três leões perdeu, depois de Marcus Rashford, Jadon Sancho e Bukayo Saka falharem as grandes penalidades. As redes sociais dos três atletas encheram-se de insultos racistas.
França
O mesmo aconteceu no final do ano passado, no Mundial. Os franceses Tchouameni, Kingsley Coman and Kolo Muani foram alvo de insultos racistas após a final perdida para a Argentina, também nos penáltis. Tchouameni e Coman também falharam grandes penalidades, enquanto Kolo Muani não conseguiu marcar quando apareceu isolado no último minuto do prolongamento.
Ainda antes do Mundial, Kyllian Mbappé, estrela da equipa, admitiu ter ponderado deixar a seleção por causa de ataques racistas a que era sujeito - dando o exemplo da eliminação perante a Suíça no Euro 2020 - e acusou o presidente da federação Noël Le Graët de ignorar o problema.
A Federação Francesa de Futebol condenou estes casos e prometeu agir, mas, até ao momento, não foi conhecida nenhuma sanção.
Itália
De França atravessa-se a fronteira até Itália para um dos casos mais mediáticos desta temporada. Há várias décadas que o país tem problemas de racismo, com várias claques ligadas à extrema-direita política, e, na partida entre a Juventus e o Inter de Milão, Romelu Lukaku também foi alvo de insultos racistas. O jogador acabou por ser expulso devido à reação que teve de mandar calar os adeptos, o que incendiou ainda mais o caso.
Contudo, neste caso, a justiça foi rápida. No dia a seguir, a Juventus foi punida com o encerramento de parte do estádio e, em menos de um mês, a polícia de Turim já tinha identificado 171 adeptos que acabaram por ser banidos pelo clube e multados pelas autoridades.
Países Baixos
Nos Países Baixos, no ano passado, três clubes começaram a utilizar a tecnologia para combater casos de violência e racismo. A iniciativa da federação e do governo locais foi alargada a mais dois clubes depois disso. Foram instaladas câmaras e gravadores de som nos estádios para que seja possível identificar os adeptos responsáveis por cânticos e insultos racistas.
UEFA e FIFA
A UEFA e a FIFA há muito que aprovaram as diretrizes para ajudar os árbitros a lidar com incidentes de racismo dentro dos estádios. Como primeiro passo, o árbitro deve interromper o jogo e será pedido, através do sistema de som, que os adeptos parem com os insultos.
Se a situação se mantiver quando o jogo recomeçar, o juiz da partida deve enviar as equipas para o balneário por cinco a dez minutos e fazer um novo aviso. Se o comportamento dos adeptos continuar o jogo deve terminar. O balanço deste programa piloto deverá ser feito no verão.
