De refugiado iraquiano a capitão do Santa Clara, com um curso superior pelo meio
De Kirkuk - onde nasceu - até Roterdão, Osama Rashid viveu em campos de refugiados e conviveu com as dificuldades de adaptação da família à Europa. Pelo meio, tirou um curso superior antes chegar a Portugal, onde é um dos capitães do Santa Clara, na I Liga.
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Osama Rashid tinha quatro anos quando deixou o Iraque com a família em busca de refúgio da guerra. Para trás ficava o pai, ao serviço do Exército contra o Irão. O plano da família passava por encontrar refúgio na Holanda.
"Procurávamos o estatuto de refugiados na Holanda. Estivemos um ano a viver em campos de refugiados, isto até nos darem uma casa para viver", lembra Osama. O apoio que foi dado à família naquela época marca o percurso do jogador. "Na Holanda o governo garante condições importantes para a integração, desde a habitação até aos subsídios em caso de desemprego".
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Após cinco anos de residência na Holanda, Osama Rashid conseguiu um passaporte holandês. Por essa altura já a família se tinha mudado de uma pequena cidade do interior do país para Roterdão, cidade onde a família encontrou emprego, e Osama um novo clube, o histórico Feyenoord.
"Quando nos mudamos tinha proposta do Ajax para fazer testes. Acabei por ir com o meu irmão mais velho treinar ao Feyenoord e fiquei na formação. Tinha sete anos". Um novo clube que Osama considera, lhe deu maiores possibilidades de integração na vida da cidade, um ambiente e amigos entre os quais cresceu.
"O futebol foi importante para a minha integração. Era uma forma de aprender a língua mais rapidamente, mas também de criar relações com os colegas", nota. A língua que foi um fator determinante para a vida no país de acolhimento. "Os meus pais já tinham alguma idade, para eles foi mais difícil aprender holandês, para eles e para o meu irmão, que quando chegou à Holanda tinha já 12 anos", lembra.
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Aos 18 anos, quando o futebol era já profissional já era mais do que um sonho, Osama Rashid sofreu uma lesão grave ao serviço da seleção holandesa, no Europeu de Sub-17, em 2009. O médio estava a terminar contrato com o Feyenoord e o clube de Roterdão tardou em apresentar uma proposta de renovação depois da lesão.
Osama saiu então para o Den Bosch, mas a debilidade física colocava em dúvida o futuro nos relvados. Jogou pouco e depois de uma transferência falhada para o Wolfsburg da Alemanha, mudou-se para os amadores do Alphense Boys.
"Eu desisti do futebol. Decidi que o meu futuro passava pelos estudos, já estava a estudar Marketing e Gestão um curso que completei nessa altura", lembra. Uma tentativa de expandir os horizontes profissionais, mas que acabou por fazer regressar a vontade de jogar futebol profissional.
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O final dos estudos coincidiu com a chamada da seleção do Iraque para a Taça das Nações Asiáticas. Abria-se aí uma nova janela para o futebol, seguida por um convite para jogar em Portugal, no Farense.
Apesar da pouca informação que tinha sobre o país e sobre a região do Algarve, Osama Rashid gostou da primeira experiência em Portugal. Depois de cumprir uma temporada na segunda liga portuguesa, saiu para uma curta passagem - apenas cinco jogos - pela Bulgária, no Loko Plovdiv -, seguida de um regresso a Portugal, desta vez para o Santa Clara.
Nos Açores impôs-se rapidamente, com papel de destaque na época passada - 31 jogos e 9 golos marcados -, na equipa liderada por Carlos Pinto, que conseguiu a subida de divisão. A nova temporada começou com papel de destaque na equipa, titular em todos os encontros, com três golos e duas assistências no emblema de Ponta Delgada, e carrega a braçadeira na ausência do luso-canadiano Pedro Pacheco ou do português Clemente.
"Estou muito agradecido pela oportunidades que tive, na escola e também no futebol", recorda Osama. Não se imagina a viver no Iraque, diz estar habituado à forma de vida na Europa, na Holanda e em Portugal. Países onde diz ter encontrado o seu lugar: entre os livros, os amigos e o futebol.