Ter a bola foi um problema para Portugal. No final do jogo frente a Marrocos, nem Fernando Santos conseguia entender o que aconteceu: é inexplicável.
Corpo do artigo
"Anjo da Guarda" saiu para as lojas de discos e rádios em 1983. A primeira faixa do álbum, com a duração de três minutos e 27 segundos, chamava-se "O Corpo é Que Paga". O génio de António Variações vertido nessa letra poderia muito bem (pelo menos o início) ser a tradução em verso da irritação, franqueza desarmante e constatação de Fernando Santos no final do Portugal - Marrocos do Mundial da Rússia, que a seleção nacional venceu por 1-0, mas sofreu muito.
"Temos de falar. Entrámos bem no jogo, mas depois perdemos o controlo e, sem bola, tem de se correr. É inexplicável. Eu tentei dizer isso aos jogadores ao intervalo, mas parecia que faltava confiança, disse Fernando Santos.
E Variações...
"Quando a cabeça não tem juízo
Quando te esforças mais do que é preciso
O corpo é que paga"
Se o cérebro é o computador central, o centro de todas as ações, onde elas se definem, o meio-campo de uma equipa de futebol é o equivalente ao cérebro: a cabeça. A de Portugal, perante uns marroquinos muito aguerridos, que lutavam contra uma derrota que os atirava para fora do Campeonato do Mundo de 2018, não esteve brilhante. Longe disso.
A bola raramente descansou nos pés de Wiliam Carvalho, João Mário ou João Moutinho. "Descansar com bola", expressão tão ouvida no mundo do futebol, foi uma miragem, fazê-la circular, fazendo os marroquinos andar atrás dela foi mentira. E assim correram eles. E os outros todos. A equipa foi o corpo que sofreu com a falta de (a)tino da cabeça.
"Temos de ser dinâmicos, sair do espaço. Eles sabem jogar, fizeram-nos correr. Vou ter de perceber porque é que não estamos a conseguir ter bola. Não conseguimos jogar com bola." Fernando Santos bem tentou ir mudando o rumo das coisas e das três substituições que fez duas foram para trocar os comandantes da cabeça, tirando Moutinho e João Mário e fazendo entrar Bruno Fernandes e Adrien. Mas o corpo continuou a pagar.
"Eu percebi que estava a perder o meio campo e por isso mudámos para o 4-3-3, de maneira a estancar a equipa de Marrocos. Foi por isso que Ronaldo ficou mais só na frente."
Portugal sofreu. Muito e até ao fim. Valeu o inevitável Cristiano Ronaldo, que repetiu o fado alegre de marcar aos quatro minutos de jogo, tal como tinha feito frente à Espanha.
Leia as declarações de Fernando Santos