Diogo Nobre tem 30 anos e até há poucos dias foi o técnico do Peimari, um clube finlandês onde estava desde 2012. Agora quer mudar de ares e pretende continuar a carreira em Inglaterra.
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A carreira de Diogo Nobre estava ainda a começar quando, em 2011, recebeu um convite improvável: ir treinar um clube na Finlândia do zero, que à data do contacto ainda não tinha escalão sénior.
"Comecei no Olivais e Moscavide, nas camadas jovens, em 2007, e passado dois anos entrei como adjunto do Alfredo Almeida no Cova da Piedade. Fizemos um bastante positivo no Cova da Piedade e no Fabril, época e meia em cada, fomos as duas vezes à fase de subida. Em 2011, um presidente de um clube que estava a ser formado na Finlândia veio a Lisboa e tomou a decisão de me escolher para abrir o novo projeto".
E como muitas vezes acontece, tudo partiu de uma recomendação. "A equipa júnior esteve com o presidente numas férias desportivas, nas academias do Sporting e Benfica, não tinham academia sénior, mas queriam com esses juniores começar a competir. O presidente finlandês perguntou a várias pessoas por um treinador jovem e ambicioso, que soubesse falar inglês, licenciado e que não se importasse de viver noutro país. Um amigo meu, o André Lourenço, que está no Sporting, disse que eu era a pessoa certa. Foi assim e o contrato foi fácil".
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Se o contrato foi fácil, a adaptação nem tanto. "Foi um choque", relembrou Diogo Nobre, dando como exemplo a mentalidade fria e fechada dos finlandeses e a falta de profissionalismo no futebol. "O primeiro ano foi bastante complicado. Comecei do zero, um clube do zero, na última divisão, que na altura jogava-se só com um árbitro, uma bola, sem apanha bolas ou fiscais de linha. Foi um choque, mas depois de me adaptar a isso decidi que no segundo ano ia dar tudo. Depois de um primeiro ano sofrido, pessoas frias, sem espírito coletivo, disse que não ia desistir e comecei a construir, construir, construir e hoje em dia temos quatro subidas de divisão, uma taça regional e um prémio UEFA. Até acabou por ser bom, mas a adaptação, ao jogo e à sociedade foi difícil".
Da desconfiança ao estrelato
Diogo Nobre confessa que, mesmo depois de cinco anos no país, ainda só fala o básico de finlandês. Ainda assim, nada que o tenha impedido de ganhar o respeito da população e de ser a estrela num filme de promoção ao turismo da região.
"A língua é quase impossível de aprender. Ninguém fala na Europa, mas passados cinco anos já falo o básico, mas não é fácil. Ninguém que esteve aqui dois ou três anos aprendeu. Neste momento já me inseri na sociedade, sou respeitado, as pessoas são muito distantes e frias, estão sempre de pé atrás com os estrangeiros, mas depois do trabalho com os meninos ganhámos o respeito da sociedade. Quando as coisas correm bem olham para nós com outros olhos.
Quanto ao vídeo, o treinador diz que foi uma história engraçada. "Este verão, a câmara municipal queria fazer um vídeo para promover o turismo e como a sociedade aqui é muito fechada, queriam mostrar uma mensagem diferente para fora e acharam que o estrangeiro indicado seria eu. Não sei se ajudei, mas o filme foi bastante engraçado, contrataram uma pessoa profissional para fazer o filme e o resultado foi giro. Usaram a minha imagem e fico muito satisfeito e orgulhoso por se terem lembrado de mim".
Em cinco anos e tendo começado do zero, Diogo Nobre tem muitas histórias para contar, com muito frio e falta de profissionalismo à mistura. "O nosso primeiro jogo para a taça da Finlândia foi com 18 graus negativos, para nós foi uma loucura, nunca tínhamos passado este frio. O meu guarda-redes estava com medo porque o guarda-redes oponente partiu um dedo do pé a bater um pontapé de baliza, porque se deixou arrefecer. O meu jogador era português e como foi o seu primeiro jogo com neve, passou o jogo todo a aquecer. A falta de profissionalismo no primeiro ano foi enorme, tínhamos um árbitro que só deixava jogar com "a bola de jogo", era "a bola", nunca viu futebol, eram as regras, foi ali ganhar uns trocos, e a bola caiu dentro do rio. Ele não deixou meter outra bola e demorámos 12 minutos a ir buscar a bola dentro do rio. Acabou o jogo ao minuto 90 certo, não deu tempo extra, e estranhou quando lhe perguntei se não dava tempo extra. 'O futebol não tem 90 minutos?', perguntou-me ele".
Foram cinco anos de muito sucesso no Peimari, que terminaram há pouco, com o pedido de demissão do treinador português, no final do campeonato. Agora, o português aponta para o céu e já sabe onde quer treinar. "Demiti-me do clube na última jornada, já o queria fazer há um ano. Fizemos todos os milagres, este ano houve um retrocesso, o clube não tem estrutura para ir mais além, e eu indiquei nomes portugueses para o meu lugar. Tenho tido algumas reuniões, quero entrar no Reino Unido, obviamente não tenho experiência para a Premier League, mas quero entrar nas divisões secundárias".