
Ricardo Junior/ Global Imagens
Antigo avançado do Porto, pai do também ponta de lança que marcou o golo que deu a Portugal o apuramento para os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, diz "há muito tempo que não se via uma geração como esta".
Numa entrevista à TSF, o pai Domingos Paciência, apesar do orgulho e satisfação naturais nestas ocasiões, é comedido nos festejos, porque sabe que o sucesso pode ser efémero no futebol.
Em pleno Europeu de sub21, Gonçalo Paciência mostrou que tem fibra para os grandes momentos, ao assinar o golo decisivo contra a Suécia, ganhando espaço numa geração de jogadores que chegaram a esta fase final do Euro 2015 só com vitórias, em 10 jogos disputados até então. E continuam sem derrotas, mesmo após os confrontos com Inglaterra, Itália e Suécia.
"O Gonçalo precisa de muitas situações como estas. Não é por ser pai, já o digo há bastante tempo, mesmo antes dele fazer golos, que ele tem qualidade, é uma questão de ter continuidade no seu trabalho, para poder fazer mais golos e cimentar uma carreira. Têm-lhe acontecido algumas situações ingratas, que é a questão das lesões. Há dois meses teve um problema muscular que podia ter posto em causa a participação neste europeu. Felizmente as coisas correram bem. Agora é ter continuidade para consolidar a carreira e o seu rendimento", assinala Domingos.
"Falámos no final do jogo, perguntei-lhe se estava tudo bem, o normal. Dei-lhe os parabéns pelo grande golo e por aquilo que significou, o quanto é importante nesta altura para ele, em termos de motivação e futuro. Ajuda sempre e acima de tudo moraliza muito um jovem".
Domingos também destaca o mérito da jogada que permitiu a finalização de Gonçalo. "O Iuri [Medeiros] veio para dentro e quando lhe passa a bola, ele [Gonçalo] com espaço reduzido e com a pressão do central, acaba por tirá-lo da frente. Depois viu o guarda redes e 'encostou' bem. Acaba por ser um golo dentro daquilo em que ele é forte: no espaço reduzido. Fiquei contente, porque aquele golo, naquele momento, a faltar pouco tempo, significava muito para a equipa. Tudo se tornou diferente".
"Uma geração como não se via há muito tempo"
Apesar deste conjunto orientado por Rui Jorge (que já foi "Olímpico", como jogador, em Atlanta 96) ter em Gonçalo Paciência o protagonista, num golo de autor, tal como o pai soube interpretar, na carreira de futebolista, Domingos, atualmente treinador do APOEL de Nicósia, faz também questão de realçar o colectivo forte de Portugal, que não se apurava para o Torneio Olímpico desde Atenas 2004.
"Passados todos estes anos, Portugal voltar a marcar presença é bom para o futebol português e para uma geração que tem muita qualidade. No futuro muitos deles podem integrar a seleção principal. Está aqui uma geração que já não se via há bastante tempo".
Em estágio na Polónia, Domingos assistiu à distância ao sucesso de Gonçalo e dos sub21 portugueses, mas confessa que lá em casa «quem sofre mais» é a mulher. Não só pelo marido, que é treinador, mas também e sobretudo pelos dois filhos, Gonçalo e e Vasco, que lutam por uma carreira de futebolistas. "É natural que ela sofra muito mais, nestes momentos".
Domingos diz que raramente fala com Gonçalo sobre futebol. «Gosto que ele se sinta à vontade, não gosto de interferir naquilo que são os sentimentos, a abordagem e a concentração dele para um jogo. Isso faz parte da personalidade de cada um e ele tem a sua".
Portugal defronta a Alemanha nas meias finais deste Europeu de sub21. "A partir de agora é sonhar, como disse Rui Jorge. Sonhar que é possivel ganhar à Alemanha e estar na final. É naturalmente difícil, até porque "a Alemanha está a apostar muito forte na formação e a trabalhar muito bem. Isso é visível na seleção principal e nas equipas. Mas nós temos uma particularidade. Por vezes com a nossa forma de jogar conseguimos contrariar o poderio destas equipas. Nesta competição, Portugal tem marcado o ritmo de jogo, entra querer mandar, quer ter a bola, esperando o momento certo para acabar com o jogo. A equipa tem mantido uma postura de grande personalidade e grande maturidade. Penso que isso vai acontecer também frente à Alemanha", conclui Domingos Paciência.