No rugby, a seleção francesa de sevens quebrou a hegemonia das Ilhas Fiji e levou o ouro. Os franceses respiram de alívio e a cidade já tem a sua medalha. Afinal, tudo correu bem com a cerimónia de abertura que complicou a vida a milhões de franceses
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Mais de 60 mil pessoas acorreram a cada um dos três dias de jogos do torneio de sevens de rugby em Paris no Stade de France. Os franceses criaram uma enorme expectativa na sua seleção de rugby, a jogar num local simbólico, o estádio olímpico - onde mais tarde vai brilhar o atletismo -, ao mesmo tempo que o centro da cidade era sitiado por uma cerimónia de abertura carregada de dúvidas.
Para além do amor à modalidade, ao rugby, o torneio era visto como uma válvula de escape. A modalidade não só começou antes do arranque oficial dos jogos como foi colocada num pedestal, no Stade de France transformado temporariamente antes de receber a última de jogos com o atletismo.
A um ano dos Jogos, França recebeu o mundial de rugby de XV - a terceira maior competição desportiva do mundo, logo depois dos Jogos Olímpicos de Verão e do mundial de futebol -, mas a seleção desiludiu.
A sua principal figura, já nomeado melhor jogador do mundo da modalidade, Antonie Dupont, capital de equipa, enfrentou problemas físicos que o travaram ao longo do torneio. A equipa entrou em depressão e sobravam dúvidas aos franceses.
Em busca da redenção, Antoine Dupont anunciou que queria estar nos Jogos Olímpicos de Paris para tentar conquistar o ouro. Pela ausência do rugby de 15 do calendário olímpico, o capitão francês admitiu tentar a sorte em sevens. Pediu autorização ao clube onde joga para tentar integrar as várias viagens da equipa de sete ao longo do ano para as jornadas internacionais.
Mas Antoine Dupont não é um extraterrestre nesta equipa francesa. O papel do jogador chegou a ser de um suplente de luxo - pela capacidade individual - antes de assumir de vez a batuta, embora, por caraterística da variante, nem o corpo do melhor do mundo consiga carregar o ritmo da modalidade quando praticada por apenas sete elementos.
Os franceses comparam Dupont a Mbappé, o craque do futebol que deixou a cidade (e o Paris Saint-Germain), mas lembram que Dupont não faltou à palavra. Fez tudo para estar nos Jogos, mesmo que para isso se tivesse de sujeitar a passar de ator principal a gregário numa equipa que não era, de forma óbvia, favorita ao ouro parisiense.
Se para circular na cidade de Paris era necessária uma autorização nos dias que antecederam a cerimónia de abertura, no Stade de France, mais de 60 mil almas assistiram à estreia do rugby de sete num ambiente festivo incomparável com os torneios de futebol ou andebol que, entretanto, começavam também.
Como na cidade, também em Saint Denis começaram as interrogações. A França empatou com os Estados Unidos, ganhou o segundo jogo para evitar a eliminação precoce, e, já com a qualificação no bolso, perdeu com os bicampeões olímpicos, as Fiji.
Voltavam os fantasmas da desilusão do mundial. A seleção francesa tinha pela frente a Argentina no primeiro jogo a eliminar e, em caso de derrota, nem chegava à cerimónia de abertura.
A cidade estava suspensa, com a apreensão cravejada no rosto dos parisienses, dos cafés a meio gás aos restaurantes onde sobrava espaço nas esplanadas. Mas não havia mais espaço no Stade de France à hora do jogo com a Argentina. Vitória francesa, sofrida, encontro marcado com a África do Sul nas meias-finais (medalha à vista).
Mesmo que à chuva, a cerimónia de abertura libertou a cidade. As conversas entre os polícias - muitas delas mantidas em português, a maioria entre agentes que estão deslocados em Paris vindos de outros pontos de França -, são agora mais leves. Chegara a hora do desporto.
A final de rugby foi um recital de inspiração. Dupont e companhia mostravam um jogo alegre e desprendido diante das Fiji. O maestro da camisola "11" assumiu não só a condução, mas também o protagonismo ao rasgar a defesa fijiana no primeiro ensaio para assistir e marcar depois na confirmação. Dupont tem a sua medalha tal como Paris.