"É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa e eu criticar a exibição das claques"
Frederico Varandas está desiludido com as claques do Sporting e garantiu que o ataque a Alcochete é um dos responsáveis pelo estado atual do clube. Houve ainda espaço para criticar Bruno de Carvalho, a compra de jogadores e as condições oferecidas à formação.
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Frederico Varandas marcou uma conferência de imprensa para falar sobre a atual situação do Sporting e criticou as claques do clube e a forma como têm deixado de apoiar a equipa nos jogos.
"É legítimo as claques criticarem a exibição da equipa e é legítimo eu criticar a exibição das claques", atirou o presidente dos leões, apontado o dedo às claques leoninas.
Varandas admitiu que não concorda com a atitude das claques. "Não gostei da atitude das claques nos últimos dois jogos em casa", frisou.
"Querem um grupo de trabalho com mais internacionais portugueses e querem um grupo onde exista o melhor talento da formação? Nós também, trabalhamos todos os dias para isso", garantiu o líder do Sporting, recordando o ataque a Alcochete como o grande responsável pelo momento que o clube atravessa.
O presidente leonino assegura que o que se passou a "14 de maio de 2018, o dia do maior rombo financeiro e desportivo da história do Sporting" é a "principal razão" para não se ter um clube com internacionais portugueses e jovens da formação.
Porém, Varandas mostra-se preocupado com o atual momento: "Hoje, quando o clube se está a reerguer, voltamos a receber ameaças intimidatórias".
O presidente do Sporting critica ainda as atitudes de "elementos de claques a protestarem com sócios anónimos que simplesmente estão a apoiar a sua equipa em Alvalade".
Durante a conferência de imprensa, Frederico Varandas recordou que fez parte da Juventude Leonina. "Havia excessos? Havia. Mas havia sobretudo um amor pelo clube, um dar sem nada receber em troca", relembra, acrescentando que hoje não reconhece "esse espírito". "Hoje vejo um negócio", atira.
Neste sentido, o presidente do clube deixa um aviso: "Enquanto aqui estiver, o Sporting Clube de Portugal não haverá ninguém acima do sócio anónimo que paga as suas quotas e os seus bilhetes".
Os gastos de Bruno de Carvalho
Frederico Varandas apontou ainda o dedo à direção de Bruno de Carvalho devido aos gastos: "A MGRA [sociedade de advogados] em 2018 contratou o sogro de Bruno de Carvalho para associado. Foram gastos 1,7 milhões em três anos, gastámos menos com todas as empresas de advocacia nos 16 anos anteriores. Segundo as faturas, o Sporting pagou 1,7 milhões por trabalhos como assuntos da presidência, vários contactos com Bruno de Carvalho, aconselhamento ao presidente".
Os números de sócios "pagantes"
O líder do Sporting revelou também que, no dia 9 de setembro, no universo do Sporting havia 84 mil sócios pagantes, o "número mais alto de sempre de sócios pagantes". Nessa altura existiam 93 mil sócios com quotas em atraso e destes 39 mil não pagam quotas há mais de cinco anos e 51 mil não pagam quotas há mais de três anos, anunciou o líder leonino, apontando como objetivo "crescer" mas "crescer com a verdade", isto é "crescer nos sócios pagantes".
"Plano financeiro permite Sporting sustentável"
Francisco Salgado Zenha, administrador da SAD do Sporting com o pelouro financeiro, teve a palavra na conferência de imprensa e anunciou que existe um "plano financeiro feito que vai permitir e permite ao Sporting ser sustentável a longo prazo, a muitíssimo longo prazo ser eterno, se cumprido".
"Estamos a lutar e estivemos a lutar para resolver os problemas e não ter temas com o fair play financeiro. Podem confiar em nós, o caminho está trilhado e a seu tempo haverá mais novidades". garantiu.
Salgado Zenha recordou ainda que foi feita uma "redução significativa da massa salarial". "O que poupámos de salários em termos líquidos permite-nos cobrir os salários dos jogadores que entraram mas também a transferência dos mesmos", esclareceu.
As más condições da formação
Frederico Varandas falou sobre a formação do clube e frisou que existe um "gap anormal de internacionais entre os sub-18 e os sub-23", recordando os maus resultados da equipa B e que existe nos leões uma "pirâmide invertida: temos mais miúdos na academia do que no polo universitário. Temos planteis demasiado grandes".
"O abandono da academia foi também nas infraestruturas. O futebol profissional treina num relvado com 16 anos, a duração máxima de um relvado é de 10 anos. Quanto custa substituir? 200 mil euros. É ali que a equipa treina todos os dias, ouço o treinador a queixar-se todos os dias do relvado", realça o responsável pelo clube.
No mesmo sentido salvaguardou que "os juniores treinavam num campo sintético com buracos" e que "os atletas da formação vivem em quartos com mobília com 16 anos, degragada, colchões com 16 anos. O ginásio está igual, as máquinas rasgadas, tudo igual desde 2002".
Os maus negócios leoninos
Desde 2013, ano em que Alcochete tinha das "melhores formações do mundo", o Sporting "comprou 108 jogadores". "Sabem quantos jogaram mais de 1000 minutos na equipa A? 68. O Sporting comprou 38 jogadores diretos para a equipa B, nenhum deles chegou à equipa A e a equipa B conseguiu descer de divisão", esclareceu o presidente do Sporting.
"Sporting reduziu a folha salarial em 10 milhões de euros"
O presidente leonino considera que este "mercado de janeiro diz muito [da forma] como trabalhamos". Desta forma, Varandas explicou que "entraram cinco jogadores, saíram oito e o Sporting reduziu a folha salarial em 10 milhões de euros por ano".
"Todos os jogadores que entraram têm capacidade para jogar e só os jogadores que entraram nas últimas semanas já jogaram mais minutos do que sete jogadores que saíram", reforçou.
O futuro com rumo certo
Varandas deixa claro que existe "um rumo" e que estão a ser implementadas "reformas no futebol profissional, de formação, modalidades, toda a máquina empresarial"
"Não se vence à custa do grito, na base da ameaça, com demagogia, com venda de ilusões, pois as ilusões desiludem sempre as pessoas quando a realidade bate à porta. Mas também não se vence a bater com a mão no peito no dia de jogo quando se trabalha mal durante a semana"
"Estamos seguros deste rumo. Sabemos o que é preciso para tornar o Sporting num crónico candidato a ser campeão e não vamos vacilar. Não foi por ter vencido a Taça da Liga que alterámos um milímetro da estratégia. Mas também não alterámos na primeira derrota. É um ponto importante para funcionários, atletas, sócios, adeptos. Quando se tem um rumo bem definido não se treme, não se recua na primeira queda. Se mudarmos de rumo à primeira dificuldade, nunca vamos chegar a lado algum. Nunca. Se continuarmos a mudar, tudo, as pessoas, com histeria, pânico, este clube nunca mais sai desta espiral, deste ciclo vicioso de quase duas décadas que vai destruindo o nosso clube. A nossa missão, de todos estes senhores, é entregar aos sportinguistas um clube muito melhor do que o que recebemos", concluiu o presidente leonino.