Pelo quarto ano consecutivo, um grupo de mulheres cumpre as etapas da Volta a França por sua conta e risco. Um dia antes dos homens, e longe dos holofotes.
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Três semanas de prova e vinte e uma etapas. Da dureza das montanhas até às descidas pelos vales, treze mulheres correm por estes dias o percurso da Volta a França, para defender o regresso da versão feminina da prova profissional, extinta em 2009.
"Fazemos exatamente a mesmo percurso, quilómetro a quilómetro, mas um dia antes dos homens. Tudo o resto é igual", explica a espanhola Anna Barrero. "A única diferença é que, ao contrário dos homens, não temos trânsito encerrado na estrada e por isso, sempre que encontramos um semáforo vermelho temos de parar".
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"O objetivo é promover o ciclismo feminino e provar que alguém que trabalha oito horas por dia é capaz de se preparar e completar a volta. Mostrar assim que uma mulher também pode dar o mesmo espetáculo que os homens no Tour de França", indica a ciclista catalã.
Anna Barrero preparou-se durante meses para o percurso. Saía para a estrada aos fins de semana, e aproveitava as pausas no trabalho para correr alguns quilómetros, sempre que podia. Pelo segundo ano juntou-se a um grupo de ciclistas amadoras que cumprem durante três semanas o percurso da Volta a França, para defender o regresso da versão feminina da prova.
A Volta a França feminina assumiu vários formatos ao longo dos anos. Da primeira edição em 1955, apenas com cinco etapas, até ao novo formato no final dos anos 80, e que mudou várias vezes de nome. Em 1992, a organização da prova masculina impediu o Tour feminino de utilizar a mesma designação. A prova acabou por se extinguir em 2009, por falta de apoios.
Em 2014 três mulheres saíram para a estrada com o objetivo de lutar pelo regresso da Volta a França para atletas femininas. Nos anos seguintes o grupo cresceu e chega agora às 13 atletas. Todas amadoras.
Anna Barrero acredita que, desta forma, é possível provar aos patrocinadores das grandes provas que é possível organizar uma prova feminina de qualidade em França, à semelhança do que acontece em Itália, com o Giro - Volta a Itália em bicicleta - feminino.
"A infraestrutura está montada e pode ser a mesma que é utilizada pelos homens, talvez com a corrida a começar um pouco antes, ou depois", sugere Anna Barrero. "Acho que a prova só não existe neste momento porque não há interesse em promover o ciclismo feminino". Interesse que, ressalva, significa também falta de investimento.
Neste tour não há classificações e o que importa é chegar ao final. Anna Barrero experimentou a chegada aos Campos Elísios no ano passado, e mal pode esperar pelo regresso, marcado para este sábado. "A verdade é que a chegada a Paris do ano passado foi para mim um momento especial e que vou guardar para sempre na memória. É realmente indescritível aquele conjunto de emoções a fadiga, a alegria, a expectativa que tornam aquele um momento realmente mágico".