Veja o golo. Portugal cai nos quartos de final do Mundial do Catar depois de um cabeceamento certeiro de En Nesyri.
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Diz-se que sonhar é voar alto. É esquecer que o céu é o limite. E é acreditar que chegamos lá, independentemente do que os outros nos digam. Pois bem, En-Nesyri, ponta de lança marroquino, colocou tudo isso em prática e foi feliz. Corria o minuto 42' quando a bola partiu do corredor esquerdo e Youssef saltou para a cabecear. Diogo Costa também saltou. Rúben Dias também. Mas nenhum dos portugueses conseguiu evitar o golo que eliminou Portugal do Mundial: é que, quando chegaram à zona da bola, já o marroquino tinha feito o golo a partir de lá cima, das nuvens.
Acaba assim, nos quartos de final e com um golo que obrigou Portugal a lembrar-se que uma falha é fatal não fica isento de culpas, a aventura lusa no Catar.
Fernando Santos mexeu pouco no onze depois da goleada à Suíça, promovendo apenas a titularidade de Rúben Neves no lugar de William Carvalho. Cristiano Ronaldo, o capitão da seleção, voltou a ficar no banco, pelo que a braçadeira foi para braço esquerdo de Pepe.
Do lado marroquino, aquela que tem sido uma das estrelas maiores - o guarda-redes Bounou - manteve a titularidade e mostrou desde cedo os seus argumentos. Bruno Fernandes bateu um livre a partir do corredor direito e João Félix, em voo, cabeceou para a baliza. Mas Bounou estava ali e disse-lhe que ainda era cedo para o primeiro golo do jogo.
Portugal já chegava a este jogo avisado de que iria jogar contra uma equipa que defende com 11 jogadores atrás da linha da bola, mas não preciso sequer de dez minutos para o sentir na pele. En-Nesyri, o ponta de lança marroquino, defendia na linha do círculo central, mas do lado do seu meio-campo. Ou seja, Pepe e Rúben Dias construíam, sozinhos, para lá da linha divisória.
Já quanto ao que se ia passando fora das quatro linhas, por mais avisos que pudessem ser feitos, a realidade parecia superá-los. Num apoio que pode ser descrito como infernal, os marroquinos faziam das bancadas uma algazarra que era indubitavelmente audível no relato da TSF: apitos, aplausos, cânticos, buzinas e assobiadelas. Tudo isto por Marrocos. Pela primeira vez, Portugal não estava, de todo, em vantagem nas bancadas deste Mundial.
No relvado, ia correndo bem ao trio ofensivo de Marrocos. Boufal à esquerda, Ziyech à direita e, sobretudo, En-Nesyri que, no meio, aos 25 minutos já contava com dois cabeceamentos perigosos à baliza de Diogo Costa.
Foi preciso esperar até aos 30 minutos para que se abrisse, finalmente, uma brecha na parede marroquina. Félix apareceu a aproveitar uma bola que pingou para a entrada da grande área e rematou forte, mas contra um defesa. A bola saiu ao lado da baliza, embora por pouco... E acordou os marroquinos.
Boufal voltou a fazer das suas do lado esquerdo e conseguiu arranjar espaço para cruzar para Ounahi, que tentou rematar de primeira na grande área portuguesa. Contas feitas, o perigo acabou por ser igual a zero.
Inspirado, talvez, pelo mau exemplo, Félix fez exatamente o mesmo na outra baliza: cruzamento de Guerreiro, finalização de primeira e por cima.
Ora, En-Nesyri cansou-se de maus exemplos. Cruzamento a partir do corredor esquerdo dos marroquinos, Diogo Costa faz uma saída dos postes completamente em falso e nem chega à bola: quando se aproximava, já o ponta de lança marroquino a cabeceara para a baliza.
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Valeu Bruno Fernandes no minuto seguinte: tentou cruzar, mas fez um balão tão perfeito que a bola foi bater na trave. Não marcou, mas evitou que todos em campo adormecessem. Ou melhor, parecia: é que, de repente, mesmo em cima do intervalo, Marrocos disparava para um três para três que Attiat-Allah desperdiçou, mas podia muito bem ter dado num segundo golo.
Não deu, e Portugal levou pelo menos mais uma vida para a segunda parte. Ainda assim, Fernando Santos não mexeu ao intervalo na equipa. E foi Marrocos quem voltou a criar perigo desde logo, depois de uma arrancada de Hakimi que só foi parada por Pepe. No livre que daí saiu, Diogo Costa foi bem mais feliz e evitou o segundo golo.
Chegou. Corria o minuto 50 e Fernando Santos não quis esperar mais: abdicou de Rúben Neves e de Raphaël Guerreiro para fazer entrar João Cancelo e Cristiano Ronaldo. Do lado marroquino, Saiss também saiu, mas por lesão. Rendeu-o Dari.
A primeira resposta portuguesa da segunda parte chegou por Gonçalo Ramos, que finalizou de cabeça um cruzamento de Otávio, mas ao lado da baliza. Pouco depois, foi Ronaldo quem, à entrada da grande área, se deixou antecipar quando armava um remate.
E assim começava o acampamento português no meio-campo marroquino. Pepe e Rúben Dias em cima da linha divisória, Bernardo a pegar no jogo a partir de trás, Cancelo e Dalot projetados, Bruno Fernandes solto - teve um remate perigoso aos 63' - e Otávio entre linhas.
Crescia a pressão portuguesa, mas dava poucos frutos. Fernando Santos mexia mais: saíram Otávio e Gonçalo Ramos para entrar Vitinha e Leão, que no minuto seguinte já fazia Dari ver um cartão amarelo.
De repente, Portugal é chamado à Terra. Aliás, Fernando Santos bem tinha avisado para isso logo no fim do jogo com a Suíça. É que, com cinco passes, os marroquinos puseram-se na grande área portuguesa aos 74' e, não tivessem sido os toques a mais de um Cheddira talvez demasiado guloso, Portugal dificilmente escaparia ao 2-0.
Chegou a hora da última cartada: foi a entrada de Ricardo Horta para o lugar de Diogo Dalot. Continuava a pressão portuguesa e, quando finalmente foi possível quebrar a linha defensiva, Bounou voltou a aparecer. É que, Ronaldo conseguiu deixar a bola redondinha para Félix que, à entrada da grande área, rematou forte e colocadíssimo ao canto superior. Muitos já gritavam golo. Bounou disse que não.
O último suspiro português saiu dos pés de Ronaldo, no primeiro minuto dos oito de descontos: lançado no espaço, rematou de primeira, forte e rasteiro. Bounou, uma vez mais, disse-lhe que não. E acabou. Não sem que, antes do final, Cheddira fosse expulso por segundo amarelo e queimasse um minuto a sair do relvado.
Onze de Portugal: Diogo Costa; Diogo Dalot, Pepe, Rúben Dias e Raphael Guerreiro; Rúben Neves e Otávio; Bruno Fernandes, Bernardo Silva e João Félix; Gonçalo Ramos.
Onze de Marrocos: Bounou; Hakimi, El Yamiq, Saiss, Attiat-Allah; Amrabat, Ounahi, Amallah; Ziyech, En Nesyri, Boufal
Depois de 1966 e 2006, Portugal assegurou, na terça-feira, o apuramento para os quartos pela terceira vez na história, graças à goleada sobre a Suíça (6-1).
Suplentes de Portugal: Rui Patrício, José Sá, João Cancelo, António Silva, Palhinha, William Carvalho, Vitinha, João Mário, Matheus Nunes, Cristiano Ronaldo, André Silva, Rafael Leão e Ricardo Horta.
Suplentes de Marrocos: Munir, Tagnaouti, Dari, Benoun, Sabiri, Chair, Ez Abde, El Khannouss, Jabrane, Hamdallah, Zaroury, Aboukhla e Cheddira.