“Fazer as sobrancelhas” e dançar ao “som de batuques”: o ritual das linces para desafiar campeãs e cumprir objetivo de “ganhar no Europeu”

Laura Ferreira
Federação Portuguesa de Basquetebol
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Portugal não é favorito, mas ninguém lhes tira o direito de sonhar, nem de dançar. Na Chéquia, as linces entram no Europeu de basquetebol dispostas a desafiar campeãs, anfitriãs e estatísticas. Sabem que o “palco é novo”, mas levam na mala a experiência e um balneário onde, para aliviar a ansiedade, se dança ao “som de batuques” e se faz questão de ter as sobrancelhas impecáveis antes de entrar em ação. O selecionador Ricardo Vasconcelos mantém o núcleo duro e acredita ter o “puzzle” certo para continuar a escrever história no basquetebol nacional: “Estamos focados em ganhar pelo menos um jogo.”
Em Brno, as linces vão defrontar equipas em teoria mais fortes: Bélgica, atual campeã europeia, a anfitriã República Checa (nona da Europa e 18.ª do mundo) e Montenegro (10.º lugar europeu e 19.º mundial). Contudo, nem selecionador, nem jogadoras partem derrotados para solo checo.
Chegar a um dos dois primeiros lugares da poule, e consequentemente à fase final no Pireu, em Atenas, é agora o novo impossível para a seleção lusa, depois de terem conseguido algo que há uns anos parecia inalcançável.
Para o tentar alcançar, Ricardo Vasconcelos apostou na experiência e no núcleo duro das últimas qualificações, preferindo a continuidade a uma aposta em jogadoras mais jovens, algumas das quais a atuar nas ligas universitárias dos Estados Unidos. O selecionador mostra-se confiante e acredita que fez as 12 melhores escolhas.
Lidar com a desilusão das três jogadoras que ficaram de fora — Inês Ramos, Simone Costa e Raquel Laneiro — é “difícil”, mas “todas têm de se lembrar da fortuna que tiveram de desfrutar de todo o processo” e do “quanto fazem parte” do caminho das linces. Além disso, Ricardo Vasconcelos sublinha que, “muitas vezes, caímos no erro de achar que temos de ter as melhores, mas isso não é verdade”, até porque “o desporto não é individual”. Enquanto selecionador, conta que optou pela “diversidade” para conseguir montar “o puzzle com lógica e coerência”.
Atualmente no 40.º lugar do ranking da FIBA (20.º Europeu), é certo que Portugal não é favorito no grupo e que as portuguesas atuam num “palco novo”, ainda “difícil de entender”, mas têm de saber “jogar com isso a seu favor” e, acima de tudo, “desfrutar”. Pelo menos, é essa a mensagem que Ricardo Vasconcelos vai deixar às jogadoras.
É preciso capacidade para desfrutar de um momento histórico, com compromisso e madurez, sem deixar que ansiedade e stress nos roube e coloque na ilusão.
Portugal defronta as belgas na quinta-feira às 19h00, em Brno. É o “jogo mais complexo”, mas também aquele com “menor pressão”. O selecionador reconhece que a adversária “é uma equipa muito completa, com a junção de três gerações douradas”, mas “ninguém está à espera que Portugal vença à campeã europeia.” Ainda assim, não é impossível e as linces vão trabalhar para dar mais um grande passo: “A próxima história que temos de escrever é ganhar um jogo no Europeu. É nisso que estamos focados.”
Do lado das jogadoras, Laura Ferreira não esconde que há alguma “ansiedade” no balneário. Tal como a capitã Sofia da Silva e como a número 13 da seleção Josephine Filipe já tinham assumido à TSF, também Laura diz viver um momento “de muito orgulho” que leva “o basquetebol ao mais alto nível”. Para desanuviar, confessa: "Tenho de fazer as minhas sobrancelhas antes de entrar em campo.”
Todas têm as suas superstições, mas há ainda outra coisa que não pode faltar: “O momento de libertar energia.” Laura Ferreira revela que, quando Ricardo Vasconcelos deixa o balneário, as jogadoras juntam-se e dançam ao “som de batuques”. E assim será o ritual da seleção portuguesa que participa pela primeira vez no Europeu de basquetebol.
