O diretor financeiro do FC Porto apresentou os melhores resultados de sempre, com 39,2 milhões de lucro. À TSF, explica como “arrumou a casa”
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O FC Porto apresentou as melhores contas de sempre, com um resultado positivo de 39,2 milhões de euros, num ano em que não participou na Liga dos Campeões, mas que fez 170 milhões de euros em vendas de jogadores.
À TSF, José Pedro Pereira da Costa, CFO (diretor financeiro) do FC Porto, explica com é que os dragões “arrumaram a casa” para chegar a estes resultados positivos, garantindo que os próximos mercados de transferências vão ser à imagem do que aconteceu este verão, “sem necessidade imperiosa de vender jogadores”. Pereira da Costa garante que o fair-play financeiro da UEFA é para cumprir, sendo um dos objetivos principais do clube.
Houve aqui diversos fatores. Em primeiro lugar, diria que houve aqui uma componente grande, chamamos-lhe de reestruturação operacional, em que se trabalhou, por um lado, naquilo que são as receitas onde poderíamos atuar e ter alguns resultados positivos. Estamos a falar essencialmente de receitas comerciais e temas como a bilhética e a área corporate, onde tivemos resultados muito positivos. Por outro lado, houve um esforço muito grande de contenção de custos e, portanto, nós reduzimos custos operacionais na ordem dos 30 milhões de euros, em várias áreas como pessoal, serviços diversos…Houve também uma reestruturação financeira profunda, em que, basicamente, toda a dívida que tínhamos, exceto obrigações de retalho, foi substituída, por dívida com prazos mais longos e custos mais baixos. Portanto, isso traduziu-se também numa redução de custos financeiros na ordem dos 6 milhões. E, depois, finalmente, houve o contributo importante dos resultados como as transações de passes dos jogadores. Tivemos o melhor resultado líquido sempre e também fizemos as vendas de passes de jogadores mais elevados que sempre. Portanto, vendemos vendas brutas na ordem dos 170 milhões, que geraram também mais valias significativas. Isto permitiu chegarmos ao melhor resultado sempre, ainda que não tivéssemos tido a participação na Liga dos Campeões, por exemplo. Tivemos que, na prática, ultrapassar esse desafio de ter menos receitas UEFA e que ainda assim permitiram compensar essa redução e ainda apresentar o melhor resultado sempre. Resumindo: foi muito trabalho operacional e muito trabalho financeiro e bom trabalho também em termos de atividade de venda de passes de jogadores.
Sim, diria que foi um arrumar da casa. Foi passarmos a ter uma gestão criteriosa e orientada ao valor. Portanto, foi olhar para tudo e questionar tudo e aquilo que não era essencial, acabámos por cortar. Desde logo, em custos como pessoal, uma área onde houve uma redução fortíssima foi nos custos do Conselho de Administração e outros órgãos sociais.
Houve também nos próprios custos com a pessoal da equipa principal, houve algumas reduções, algumas saídas entre equipa técnica e atletas que foram substituídos por outros elementos com custo mais baixo. E nas áreas de fornecimentos gerais houve reduções, por exemplo, de despesas de representação, que passámos a ter uma política também bastante restrita. Nos direitos de imagem, também mudámos, que era também era uma prática do passado e que temos vindo a reduzir com o tempo. Houve também uma redução da atividade em algumas áreas que possibilitou também uma diminuição de custos, como o Porto-Canal. Foi um pouco arrumar de casa e procurarmos gastar apenas naquilo que achávamos que era essencial.
Sim, isso é fundamental. Nós somos um clube que participa sempre na UEFA, seja na Liga dos Campeões ou na Liga Europa. Portanto, é fundamental estarmos presentes nas competições e há que cumprir as regras de sustentabilidade financeira e não ter problemas a esse nível. Em termos financeiros, se não é prioridade fundamental, anda muito perto disso. Temos que garantir que os controlos da UEFA, que em alguns indicadores são anuais, em outros são trimestrais, temos que garantir que, nesses momentos de controlo, estamos a cumprir a 100%. E não ter o menos risco. Porque, depois, a consequência do não cumprimento pode ser diversa. Se for um incumprimento ligeiro, é uma multa, que custa sempre dinheiro. Mas, se for um cumprimento considerado mais gravoso, pode ser o que se chama de ficar sob alçada no fair play financeiro, que é passar a ter a UEFA quase a controlar o que fazemos, em algumas áreas, como, por exemplo, nas áreas de transações de jogadores, eles passarem a limitar as despesas que podemos ter ou quase que a obrigar-nos a fazer vendas, coisas deste género. E, numa situação limite, como a que herdámos no passado, pode levar mesmo à suspensão de participação. E essa, sim, tem uma consequência desastrosa.
É uma importância muito significativa. O impacto direto nas contas é quase uma diferença na ordem dos 50 milhões por ano. Mas depois há impacto indireto, porque, por exemplo, na bilhética, naturalmente, há mais interesse e, portanto, resulta em mais receita jogos da Liga dos Campeões do que jogos da Liga Europa. A montra Liga dos Campeões é uma montra melhor do que a montra Liga Europa para aquilo que é a valorização dos jogadores e a valorização dos nossos ativos. Portanto, diria que estar ou não estar faz uma diferença muito significativa.
Diria que é algo que já vimos num mercado de verão agora de 2025. Nós nunca tínhamos feito um investimento tão significativo como fizemos nesta última janela, em que fizemos investimentos na ordem dos 112 milhões. Neste momento diria que temos um plantel bastante equilibrado, pode haver ali um retoque ou outro, isso é naturalmente mais responsabilidade da área desportiva e do presidente, mas definitivamente permitiu este investimento e permitirá no futuro, sempre mantendo aqui algum equilíbrio entre vendas e compras. Porque é fundamental para os clubes portugueses esta atividade de, chamamos-lhe de player trading, gerar resultados positivos, mas sempre mantendo algum equilíbrio. Isso vai permitir fazer investimentos de outra magnitude e com outra sustentabilidade. Já foi visível, não é um tema de futuro, é um tema já de passado, se olharmos para esta última janela.
Sim, acho que neste momento não temos essa necessidade imperiosa como tivemos no ano passado.
