Depois da vitória do Chelsea sobre o Arsenal na final da Liga Europa, na quarta-feira, a semana inglesa nas finais das competições da UEFA continua este sábado, em Madrid, com o estreante Tottenham a desafiar o colosso Liverpool na disputa do troféu mais desejado, o da Liga dos Campeões.
Corpo do artigo
Para que se perceba até que ponto a Liga dos Campeões é uma prova elitista, o Tottenham é o primeiro estreante numa final da prova desde 2008, quando outro clube londrino, o Chelsea, jogou e perdeu a final (nos penáltis) perante o Manchester United. Ou seja, coincidência, ou não, sempre que há uma final 100% inglesa, assiste-se também à estreia de um emblema em finais.
Enquanto o Liverpool já venceu a Taça/Liga dos Campeões em cinco ocasiões (apenas Real Madrid e Milan têm mais troféus da competição), o melhor que o Tottenham fizera até hoje fora chegar a uma meia-final, em 1961-62, perdendo para o Benfica, que se tornaria nessa época bicampeão europeu, vencendo na final de Amesterdão o Real Madrid (5-3). Mais do que isso, o Tottenham apenas participou em cinco edições da Taça/Liga dos campeões (disputando um total de 44 jogos) enquanto o Liverpool jogou 23 edições (190 jogos).
Apesar disso, os Spurs são um nome com pedigree europeu tendo três competições ganhas: duas taças UEFA, em 1972 (na primeira edição da prova) e 1984 e ainda uma Taça das Taças, em 1963). Fora da Champions, igualam o desempenho do Liverpool que conquistou três taças UEFA (1973, 1976 e 2001).
Aliás, se o Tottenham vencer amanhã junta-se aos cinco magníficos que já venceram as três competições da UEFA (incluindo a extinta Taça dos Vencedores das Taças): os também ingleses Chelsea e Man United e ainda Juventus, Ajax e Bayern.
Apesar disso, é impossível comparar o palmarés dos dois finalistas deste sábado: mesmo a nível interno é clara a diferença de historial - 18 ligas inglesas para o Liverpool (a última das quais conquistada em 1990) contra duas do Tottenham (1951 e 1961).
Os números do favoritismo claro do Liverpool
Os Reds partem como favoritos para a final também por força de outros indicadores. Uma quantidade significativa de indicadores, pode mesmo dizer-se.
O Liverpool é 11.º do ranking da UEFA (atrás do Porto, 10.º), enquanto o Tottenham é 17.º, sendo que as duas equipas têm subido muito nos tempos mais recentes. Basta dizer que há um ano o Liverpool era 22.º...
Em termos de valor de mercado dos respetivos plantéis, segundo o reputado site Transfermarkt, o Liverpool possui o quinto grupo de jogadores mais valiosos do mundo, avaliado em 950 milhões de euros (era 11.º na final do ano passado, com 548 milhões, o que demonstra como valorizou um plantel em que não houve grandes mexidas). Mas o Tottenham está também no top 10 neste particular: é 8.º, comprovando a reconhecida hegemonia inglesa (que tem seis clubes nos 10 mais ricos) com um plantel avaliado em 835 milhões.
Deve acrescentar-se que os londrinos não fizeram qualquer contratação para a presente temporada, o que vem mais uma vez provar que a estabilidade de plantel continua a ser um importante fator para obter resultados ao mais alto nível. Aliás, os treinadores dos dois finalistas estão há muito tempo nos respetivos clubes: o argentino Pochettino está no Tottenham há cinco anos e o alemão Klopp treina o Liverpool há quatro.
Na presente temporada, o desempenho geral do Liverpool foi claramente superior ao dos londrinos: apenas sete derrotas em todas as competições (somente uma na liga inglesa, o que incrivelmente não chegou para ser campeão, após disputa dramática com o Manchester City) contra 19 do Tottenham (13 na liga inglesa). Os nortenhos venceram os dois jogos de campeonato que realizaram frente aos Spurs (ambos por 2-1)
Aliás, no histórico de confrontos diretos, temos um Liverpool claramente mais forte (79 vitórias contra 48). Curiosamente, até hoje, as duas equipas apenas disputaram dois jogos em campo neutro: a final da Taça da Liga de 1982, com vitória dos Reds por 3-1 após prolongamento e a supertaça inglesa também de 1982, com novo triunfo do Liverpool (1-0).
Os dois clubes encontraram-se ainda uma vez em eliminatórias europeias. Em 1972/73 nas meias-finais da Taça UEFA. Mais uma vez os do norte foram superiores, ganhando 1-0 em casa e perdendo 1-2 em Londres, passando à final da prova, na qual bateram os alemães do Borussia de Moenchengladbach para conquistarem a sua primeira competição internacional.
Voltando aos desempenhos de Liverpool e Tottenham na presente temporada, vale a pena realçar que a equipa de Klopp superioriza-se também no número de golos marcados (113 contra 103) e no de golos sofridos (38 contra 63), demonstrando ser um conjunto mais equilibrado e consistente. Mas numa final, num único jogo, toda esta superioridade estatística pode facilmente cair por terra.
Duas equipas pouco... inglesas
Na final de Madrid estarão dois clubes ingleses, mas com equipas que jogam um futebol pouco britânico - como aliás acontece com os dois finalistas da Liga Europa, Chelsea e Arsenal, e o campeão interno Manchester City. Basta referir que as cinco primeiras classificadas são as equipas que menos duelos aéreos ganham na liga inglesa.
De resto, no que diz respeito a Liverpool (segundo da liga) e Tottenham (quarto), possuem números muito semelhantes em termos de remates, remates no alvo, remates na área, passes e passes concretizados no último terço, sempre com valores de topo nestes indicadores fundamentais de qualidade de jogo ao mais alto nível.
Também na forma como chegam ao golo Liverpool e Tottenham apresentam dados parecidos: ambos com grande capacidade no aproveitamento das bolas paradas ofensivas, sendo mesmo as duas melhores equipas do campeonato inglês neste particular: 20 golos do Liverpool e 16 o Tottenham (sem contar penáltis), o mesmo acontecendo nos golos de cabeça (19 dos Reds e 15 dos Spurs, uma vez mais os dois melhores registos da liga inglesa).
A maior diferença surge nos golos fora da área, com destaque para os 14 obtidos pelo Tottenham (segundo melhor desempenho), contra apenas cinco do Liverpool, que no entanto é a equipa que mais marca dentro da área no campeonato inglês.
No entanto, parece-nos ser em termos defensivos que os dados podem ser mais significativos: como já vimos o Tottenham sofre muito mais golos do que o Liverpool, desde logo porque permite mais remates em média por jogo (8 para 12) e remates no alvo (2.5 para 4.2), o que diz muito da superior consistência defensiva da equipa de Klopp.
O duelo dos trios de ataque e não só
Um dos grandes atrativos da final de Madrid é perceber o peso que podem ter na definição do campeão europeu as duas fortes frentes de ataque de Liverpool e Tottenham. Os números da temporada dizem tudo:
Liverpool - Mané com 26 golos (dos quais quatro na Liga dos Campeões); Salah com 26 golos (quatro na Liga dos Campeões) e Firmino com 16 golos (quatro na Liga dos Campeões).
No Tottenham - Kane com 24 golos (cinco na Liga dos Campeões); Son com 20 golos (quatro na Liga dos Campeões) e Lucas Moura com 15 golos (cinco na Liga dos Campeões).
Deve dizer-se que o trio do Liverpool ficou bastante abaixo do seu desempenho na época passada, em que cada um dos avançados em questão marcou 10 golos na Champions, sendo que no total da temporada só Salah tinha 45 golos apontados contra 26 agora.
Na Liga dos Campeões, o trio marcara 31 dos 40 golos do Liverpool, este ano fica-se pelos 12 em 22, o que prova um menor peso na manobra da equipa, com outros elementos a destacarem-se e a marcarem golos decisivos, com foi o caso de Origi.
Já no que toca a assistências, realce absoluto para os laterais no Liverpool, Arnold (12 assistências na liga inglesa) e Robertson (11), e para o centro campista dinamarquês do Tottenham Eriksen, com 12.
Mas a final de Madrid vai ser também um enorme duelo de treinadores, grandes figuras das duas equipas, adorados pelos adeptos. Também fruto da inteligente aposta a longo prazo realizada pelas direções dos dois clubes.
E note-se que em Inglaterra Pochettino e Klopp ainda não ganharam nada, sendo que Klopp até já perdeu duas finais importantes: a final da Champions de 2018 e da Liga Europa de 2016, em ambos os casos para equipas espanholas: Real Madrid e Sevilha.
Nota: Este foi o tema central do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20h 30) - que pode ouvir aqui, na íntegra - no qual fizemos ainda o rescaldo da final da Taça de Portugal e destacamos os números de Pedro Rodriguez, do Chelsea.