"Futuro é uma incógnita." Rescisão de Pichardo com Benfica "não é inédita" e até pode mudar de nacionalidade
À TSF, o especialista em Direito do Desporto Lúcio Correia acredita que este caso só vai ficar resolvido na Justiça
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O futuro de Pedro Pablo Pichardo, depois de ter rescindido contrato com o Benfica, é uma incógnita e o atleta até poderá vir a mudar de nacionalidade e disputar os próximos Jogos Olímpicos com outras cores.
O próprio Pichardo nasceu em Cuba, tendo disputado campeonatos do mundo e Jogos Panamericanos pelo país, antes de obter a nacionalidade portuguesa, com a qual ganhou o ouro nos jogos Olímpicos de Tóquio 2020 e a prata em Paris 2024. O especialista em Direito do Desporto Lúcio Correia avisa que ainda faltam três anos para Los Angeles 2028.
"Não sei se vai manter ou não, até porque não é a primeira vez que atletas que participam nos Jogos Olímpicos com uma nacionalidade, depois participam nos Jogos Olímpicos subsequentes com outra. Isso já aconteceu, quer a nível coletivo, quer a nível individual e, a meu ver, o próprio Comité Olímpico Internacional deveria ter uma palavra muito mais forte do que tem relativamente a algumas modalidades desportivas, não só o atletismo. Independentemente disso, o que está aqui em causa é se o atleta - ainda falta algum tempo até aos Jogos Olímpicos de Los Angeles - tem tempo para poder ir realizar novo contrato, fazer uma preparação e até, por força desse novo contrato, adquirir outra nacionalidade. Não é aquilo que eu desejo, mas poderá acontecer", disse o especialista à TSF.
Por isso mesmo, não é fácil prever o futuro do duplo medalhado olímpico: "O futuro de Pedro Pablo Pichardo é completamente uma incógnita. Será aquilo que ele quiser, mas quem cessa desta forma, e acho que isto é inequívoco, tem obviamente um clube em vista, tem obviamente um futuro desportivo em vista e é por isso que ele cessa. Não passa pela cabeça de ninguém fazer cessar sem ter um contrato em que o atleta era bem pago e obviamente tinha um conjunto de condições muito vantajosas e cessa apenas porque há razões inconciliáveis. Não, cessa porque obviamente tem algo mais que quer para o seu futuro desportivo e que não passa pelo Benfica. E tenho dúvidas se algum outro clube português dará as mesmas condições que o atleta tem neste momento, mas não tenho dúvidas que muito em breve nós vamos saber as verdadeiras razões da sua cessação."
Lúcio Correia considera que Pichardo não pode cessar o contrato unilateralmente sem justa causa e poderá ter de indemnizar o Benfica.
"O processo não é inédito. Estas situações ocorrem no âmbito desportivo sempre que as partes não estão de acordo. Mas, sem dúvida, estamos a falar aqui do único atleta português que tem duas medalhas olímpicas sucessivas em dois Jogos Olímpicos sucessivos e, portanto, a importância do atleta no panorama desportivo português é obviamente único. Isso faz com que o caso tenha outros contornos. Relativamente ao caso em si, não querendo abordar muito, mas há aqui duas ou três questões que me parecem ser essenciais. Em primeiro lugar, é que o atleta não tem a faculdade de cessar o contrato de forma unilateral e isso pode implicar, obviamente, uma situação de responsabilidade. Ele pode ter que indemnizar o Benfica, porque ele cessou o contrato sem justa causa. Portanto, aqui a questão é que o atleta não tem esta faculdade de uma mera comunicação e fazer cessar o contrato, a não ser que tenha justa causa para o efeito, não sei se efetivamente a carta ou comunicação assim foi, mas se não o tiver ou caso ela não seja procedente, não tenho dúvidas de que o Benfica irá obviamente tentar garantir os seus direitos patrimoniais e desportivos decorrentes da cessação ilícita", explicou.
Nesse sentido, o professor de Direito acredita que o caso só vai ser resolvido nos tribunais e que este desfecho é lamentável.
"Nós temos aqui uma situação de já muito tempo de um finca-pé de as partes que se extremaram e que obviamente não estavam de acordo com a condução que deveria ser um contrato de trabalho desportivo. Acho que quem fica a perder efetivamente ao desporto português, porque Pedro Pablo Pichardo representa e representou Portugal de uma forma verdadeiramente notável, mas de facto não pode haver, e compreendo o clube, atletas de primeiro e atletas de segunda. Uns que cumprem o contrato e outros, seja ele qual for e as razões, não podem cumprir. Atrevo-me a dizer que provavelmente isto irá passar pela barra dos tribunais e que obviamente as partes irão esgrimir os seus argumentos e irão tentar aqui apurar responsabilidades um ao outro. Lamentável. Muito lamentável. Acho que não era uma forma de saída correta da parte do atleta e seguramente também da parte do clube", antevê.
Pedro Pablo Pichardo, campeão olímpico do triplo salto em Tóquio 2020 e vice em Paris2024, rescindiu contrato com o Benfica, que era válido até ao fim dos Jogos Los Angeles2028, alegando divergências irreconciliáveis.
"Devido a divergências irreconciliáveis com o Sport Lisboa e Benfica, que inviabilizam a minha continuidade, decidi deixar de ser atleta do clube, conforme comuniquei hoje mesmo à entidade. O assunto está a ser levado às instâncias competentes, pelo que, a partir deste dia, não irei mais pronunciar-me sobre este tema, focando-me única e exclusivamente na vertente desportiva", lê-se no comunicado assinado por Pichardo.
O Benfica reagiu à saída de Pedro Pablo Pichardo do clube com a informação de que no início do ano tinha sido aberto um processo disciplinar com vista ao despedimento do campeão olímpico de triplo salto em Tóquio 2020.
"O Sport Lisboa e Benfica informa que Pedro Pablo Pichardo foi notificado no passado dia 3 de janeiro de 2025 de um processo disciplinar com vista ao seu despedimento", explica o clube da Luz em comunicado, revelando que "tomou conhecimento público da intenção de Pedro Pablo Pichardo de cessar o seu contrato de trabalho com o clube".