A História do Clássico é bem picante e, desta vez, leva-nos até junho de 1939 - a um dos Benfica-Porto mais insólitos e agitados que se pode imaginar. Por muitas razões.
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Quando a 11 de junho de 1939, no Estádio do Lima, o FC Porto venceu o Benfica na primeira mão das meias-finais da edição inaugural da Taça de Portugal por rotundos 6-1, ninguém duvidou que a maré do sucesso continuava do lado nortenho.
Afinal de contas, um mês e meio antes, os portistas tinham alcançado o título nacional no último jogo do campeonato, após garantirem um empate em casa a três golos exatamente perante o Benfica, que seria campeão caso tivesse vencido essa partida disputada no Campo da Constituição. Assim, o Porto parecia bem encaminhado para a "dobradinha" logo na temporada de estreia do novo quadro competitivo nacional.
Mas, a 18 de junho de 1939, os astros alinharam-se para uma das mais impressionantes reviravoltas da história do futebol português. Em Lisboa, no Campo das Amoreiras, os benfiquistas devolveram a goleada, e por números ainda mais expressivos: 6-0.
Rezam as crónicas da época que o guarda-redes portista, Soares dos Reis, até foi um dos melhores em campo, evitando um resultado ainda mais dilatado - tal foi a inspiração da equipa encarnada, nomeadamente da sua linha avançada constituída por Espírito Santo (2 golos), Brito, Barbosa (1 golo), Rogério (1 golo) e Valadas (2 golos).
Quanto aos jogadores azuis e brancos, passaram a partida divididos entre a incredulidade perante o que lhes estava a suceder, a incapacidade de lidar com animosidade do público adversário e a ira para com o árbitro da partida, António Palhinhas. E não fizeram por menos: ao minuto 75, após a expulsão de dois portistas, o argentino Reboredo e o português António Santos, o FC Porto abandonou o recinto de jogo como forma de protesto.
Acrescente-se que as relações entre os dois clubes eram nesta altura péssimas, em resultado de uma rivalidade que ultrapassara já os limites do aceitável, com quase todos os jogos envolvendo azuis e brancos e encarnados a serem marcados por violência física e verbal, lesões graves de jogadores e insultos trocados nos jornais.
Antes do jogo da segunda mão, a direção do Benfica decidira mesmo o corte de relações com o FC Porto, devido aos conflitos vividos no jogo do Estádio do Lima. E, nas bancadas das Amoreiras, registou-se uma forte aliança entre adeptos do Benfica, do Sporting e do Belenenses, que vaiaram a equipa portista durante todo o jogo.
O Benfica conseguiu assim o apuramento para a primeira final da Taça de Portugal, na qual perderia por 4-3 com a Académica, que na outra meia-final goleara (5-2) o Sporting em Coimbra, depois de perder por 2-0 no Lumiar.