Guarda-redes recebe cartão branco após deixar baliza aberta para socorrer adepto de equipa adversária
Luís Rodrigues, guarda-redes do Atlético Clube de Travanca, é um dos futebolistas do momento em Portugal. O guardião da equipa, que alinha na Primeira Divisão Distrital Zona Norte da Associação de Futebol de Viseu, abandonou um jogo para ajudar um adepto da equipa adversária que tinha tido um ataque de epilepsia.
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O gesto levou o árbitro da partida a mostrar ao jogador, que é também bombeiro, o cartão branco, sinónimo de fair-play dentro de campo.
Foi aos 87 minutos que tudo aconteceu. Na altura, as duas equipas estavam empatadas a duas bolas. O Travanca até precisava de ganhar, para tentar subir ao escalão máximo do futebol distrital, mas nem isso impediu Luís Rodrigues de deixar a baliza aberta para socorrer quem precisava.
"[Comecei] a ouvir alguns adeptos, que, apesar de não poderem estar dentro do estádio, estão nas imediações e conseguem acompanhar sempre a equipa, a chamar e a pedir auxílio porque sabem que trabalho na parte do pré-hospitalar", começa por contar.
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O atleta e bombeiro profissional diz que teve uma "reação imediata". "Assim que me apercebi, saí a correr, deixei o jogo, e dirigi-me a eles para ver o que se passava. Quando lá cheguei, tratava-se de um rapaz de 30 e poucos anos que estava a ter uma convulsão", adianta.
Luís Rodrigues ajudou a estabilizar a vítima, um apoiante do Parada de Ester, clube que o guardião até já tinha representado. Com a situação controlada, lá voltou para dentro das quatro linhas e, no regresso à baliza, foi surpreendido com reação do árbitro.
"Quando desci [e voltei ao campo], e sei que houve alguns jogadores que pediram que fosse expulso, o árbitro dirigiu-se a mim com a mão no bolso e eu pensei que me ia expulsar", conta, acrescentando que, para seu espanto, recebeu não um cartão vermelho, mas um branco, o símbolo máximo do fair-play.
"Assim que ele se começa a dirigir a mim, refere logo que era um ato simbólico, mas que era mais do que merecido e então deu-me o cartão branco", afirma, satisfeito.
O gesto do guardião das redes do Travanca virou notícia, foi muito partilhado e elogiado nas redes sociais. Luís Rodrigues recebeu inúmeras mensagens de apoio, até do estrangeiro, mas, apesar disso, não se sente um herói.
"Heróis são aqueles que todos os dias lutam para colocar o pão na mesa dos filhos porque não têm o que comer, os que atravessam diversas guerras e que têm que enfrentar essas dificuldades todas. Esta foi mais uma situação em que pude ajudar. Se não fosse eu, acredito que mais pessoas o fariam", defende.
A TSF ouviu também Ricardo Rodrigues, dirigente do Travanca, que aplaude a atitude do atleta, e nem mesmo o resultado final, que até poderia ter sido alterado não fosse a interrupção da partida, é motivo de queixa.
"Foi muito mais do que merecido [o cartão branco]. Pelo que percebi da equipa da arbitragem, foi unânime a decisão. Acho que a vitória da vida se sobrepõe a qualquer outro resultado, seja ele desportivo ou não", remata.