O dia da chegada à cidade da Guarda teve vários protagonistas. Os números da classificação escondem um dos maiores feitos da jornada. Gustavo Veloso caiu da bicicleta ainda antes do arranque oficial da corrida. Mas ajudou Marque a segurar a amarela.
Corpo do artigo
O sonho acabou. Gustavo Veloso admite, para ele, as contas da geral, da camisola amarela, estão fechadas. Aos 41 anos, na última Volta a Portugal da carreira - já o anunciou -, apareceu forte nos primeiros dias de prova, mas as dores na 4.ª etapa fizeram-no cair na classificação para um lugar de onde, sabe, já não pode alcançar o pódio de Viseu.
Sentado numa cadeira para as entrevistas com os jornalistas, com o corpo caído, joelho em gelo, Veloso mantém um olhar assertivo, que procura os três jornalistas que pararam ali para o ouvir. "Bati com os ossos no chão, mesmo antes do quilómetro zero. Estava a passar de forma lateral e caí. Dei uma cambalhota. É assim a vida." Foi o início de um dia duro. "Fiz o dia todo com muitas dores, mas consegui cá chegar. Espero recuperar bem para ajudar o Marque. Estamos a fazer uma grande volta, merecemos algo grande", explica Gustavo Veloso, no final da etapa.
Apesar da queda, o espanhol do Tavira carregou o grupo onde estavam os candidatos à vitória na volta, e o camisola amarela, o companheiro Alejandro Marque.
Para Alejandro Marque, a troca de bicicleta necessária a meio da corrida foi apenas um dos percalços no trajeto. A ajuda do também veterano Gustavo Veloso valeu uma recuperação rápida, ainda que longe do ritmo imposto quilómetros à frente pelo par Figueiredo/Antunes. "Fez um trabalho espetacular. Abdicou do sonho dele para me ajudar", explica Marque, pouco depois de saber que mantêm a amarela por apenas cinco segundos.
Gustavo Veloso de 41 anos, na última volta a Portugal da carreira, antigo vencedor, dava esperança ao companheiro de equipa para manter a amarela. A certa altura, abanava a cabeça, Gustavo Veloso tinha de carregar o pelotão. Acabou o gás a 10 quilómetros do final. Mas ainda regressou à pressão nos cinco quilómetros finais. Um jogo de nervos. Subidas difíceis, descida a mais de 70 km/hora. A etapa termina numa subida - 3.ª categoria, no interior da cidade da Guarda, Veloso carregou o grupo até lá, e o companheiro Marque.
"Perdi todas as hipóteses. Com a pancada que tenho, não conseguia estar na frente hoje. Se temos um homem em posição em que pode ganhar, há que lutar por ele. Vou vencer a morte por ele", explica Veloso.
E sobre o duelo Amaro Antunes (W52 FC Porto)/Frederico Figueiredo (EFAPEL). "Os favoritos são eles. Mas agora vão ter de tirar o Marque dali. Eu já fui eliminado, mas agora sou mais um para trabalhar. Hoje fui eu a perder a Volta, mas isto dá tantas voltas, só mesmo em Viseu vamos saber quem ganha."