Desde 2017 o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras detetou 219 jogadores ilegais em clubes e associações desportivas. Só nos últimos dois meses foram identificados 30 casos.
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O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) realizou, em 2017, 72 ações de fiscalização em associações desportivas ou clubes de futebol e identificou 59 jogadores em situação ilegal. No ano seguinte, 2018, foram feitas menos ações de fiscalização (apenas 66), mas o número de atletas em situação irregular mais do que duplicou, tendo sido detetados 129 casos. Mas os números não ficam por aqui.
Desde o início de 2019, o SEF já detetou 30 jogadores ilegais, principalmente em clubes do Norte e Centro do país.
Ouvido pela TSF, o presidente do Sindicato dos Jogadores garante que os números oficiais são apenas a ponta do icebergue. "Estou convencido, pela experiência que tenho, que há muitos mais casos. O futebol é um grande negócio onde há uma visão mercantilista", refere Joaquim Evangelista.
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Em nota enviada à TSF, o SEF explica que a maioria dos jogadores identificados são jovens sul-americanos que entraram em Portugal ao abrigo da isenção de visto para estadias de curta duração (turismo), o que não permite o exercício de atividade profissional.
Apesar de não estarem autorizados a permanecer em território nacional, muitos atletas acabam a prestar provas e a trabalhar em clubes ou associações desportivas pela mão de rede organizadas de imigração ilegal.
Depois de identificados, os jogadores que se encontram ilegalmente em território nacional são notificados para abandonar voluntariamente o país, entre 10 a 20 dias, caso contrário incorrem numa contraordenação punível com coima.
Joaquim Evangelista esclarece que Portugal é uma porta de entrada estratégica para a Europa, mas que o cenário atual acaba por facilitar situações de irregularidade: "O contexto desportivo [em Portugal] também não ajuda. Nós temos clubes falidos, um modelo de fiscalização que não é eficaz, temos cada vez mais investidores estrangeiros com idoneidade duvidosa."
Nos últimos 3 anos o Sindicato dos Jogadores apoiou 14 atletas em situação ilegal, um número muito reduzido que é justificado pelo presidente com o medo de represálias.
"Estes jogadores vivem à margem da lei, não se apresentam e é difícil identificá-los. Não pedem apoio porque muitos deles quando são sinalizados têm medo das represálias, portanto só no limite quando estão desesperados e já não têm alternativa é que procuram apoio efetivo", adiante Joaquim Evangelista.
O presidente do Sindicato de Jogadores diz mesmo que o problema envergonha o futebol português e exige à Liga de Clubes e à Federação Portuguesa de Futebol que apertem o cerco aos dirigentes e clubes: "Achamos inaceitável, por exemplo, que sejam identificados casos em clubes e que os presidentes dos clubes invoquem desconhecimento. Ou seja, vamos exigir sanções para os clubes e para os dirigentes."
Para já, o Sindicato dos Jogadores está a preparar um protocolo com o congénere brasileiro e um site com informação para esclarecer os atletas que se encontram nesta situação.