Harry Arter. Um nó no estômago, as ondas de tristeza e as palavras de Guardiola
Era um homem feliz em 2015, mas a filha nasceu sem vida. Tudo mudou. O que viveu e sentiu escreveu-o para o The Players' Tribune. Agora foi pai outra vez e lembra tudo, até as palavras de Guardiola.
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-- I'm so sorry for what happened
As palavras de Pep Guardiola a Harry Arter, depois de um Bournemouth-City em fevereiro, intrigavam. No Twitter brincou-se que o catalão estaria tão bem disposto com o dois-zero que até estava a treinar jogadores de outra equipa. A história veio depois. O nó no estômago acompanhou.
Na conferência de imprensa, o treinador do Manchester City explicou: "Ele vai ser pai brevemente, por isso dei-lhe os parabéns a ele e à sua companheira, porque eu sei o que aconteceu no passado e, oxalá, o bebé estará bem". O tal acontecimento remonta a 2015, quando Arter perdeu a filha, Renée, ainda no útero de Rachel, a mulher. "Foi um toque inacreditável" de Pep, disse o jogador do Bournemouth.
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Harry Arter escreveu a história do drama familiar no The Players' Tribune, um site que junta relatos na primeira pessoa de homens e mulheres do desporto mundial. Uns têm piada, outros contam algo nunca relevado, outros são pugilistas do coração, com narrativas que esmurram o estômago de qualquer um. Dia 15 de junho, Harry Arter escreveu a sua história.
Após ouvir o batimento do coração da filha, os médicos convidaram Arter com um sorriso a ir buscar o saco de Rachel ao carro. "Brevemente vai conhecer a sua filha", disseram-lhe na altura. Lá foi ele, demorou cinco minutos. Voltou e a companheira estava com os olhos vermelhos, devastados, arruinados. Chorava muito. "She's gone" (ela morreu), disse ao marido. Afinal, o batimento que ouvira tinha sido o de Rachel.
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A partir daqui, a prosa de Arter é pesada, conduzindo o leitor por uma montanha-russa com poucas promessas de final feliz. O texto é também uma carta de amor e admiração à mulher e de gratidão para com os amigos e companheiros.
Harry Arter conta ainda sobre o duelo com o Manchester United, que estava agendado para poucos dias depois da tragédia. Ele usou o futebol como escape, pelo menos durante uns tempos. "O meu coração estava noutro lado, mas eu queria jogar", conta. Rachel apoiava a decisão. O homem que saltou da quinta divisão para a Premier League em poucos anos, queria apenas deixar Renée orgulhosa. Ele achava-se preparado, mas a energia dos adeptos ofereceram-lhe dúvidas. E travou. "A Rachel disse para eu ser forte e para deixar a família orgulhosa". O Bournemouth venceria o United.
Mas as ondas da tristeza voltariam, depois de mais de três mil mensagens e abraços de amigos. A solidão voltaria. A dor, idem. Demorou meses a abrir uma caixa de memórias, que tinha fotografias de Renée. Afinal, ainda amava quem já nem estava ali, quem nunca conhecera, e arrependia-se de ter tentado apagar todas as memórias e objetos da pequena Renée.
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Em junho de 2016, Rachel estava grávida novamente. Ficaram felizes quando souberam que vinha aí uma filha, a quem chamariam Raine Renée Arter. Foi aí que entrou Pep Guardiola, algo que o médio também menciona nesta carta.
E assim termina: "As ondas da tristeza provavelmente nunca irão embora, e estou agradecido por isso. Desde que essas ondas vivam, então a Renée também vive".