Esta terça e quarta-feira disputam-se os quartos-de-final da Taça de Portugal e é provável que a monotonia competitiva continue a dominar o futebol português: se não houver alguma surpresa de monta, os quatro primeiros classificados do campeonato ocuparão as quatro vagas nas meias-finais, tal como acontece também na Taça da Liga.
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Comecemos pela monotonia. O sorteio já fez a sua parte: Desportivo das Aves-Braga, Leixões-FC Porto, V. Guimarães-Benfica e Feirense-Sporting.
Falta apenas saber se os tomba-gigantes estão pelos ajustes. Se a lógica prevalecer, teremos então os quatro primeiros classificados da liga da época passada - que são também os quatro primeiros no fim da primeira volta do campeonato atual - a defrontarem-se nas meias-finais, como vai acontecer na Taça da Liga, na próxima semana.
Apesar disso, os quatro dominadores que se cuidem porque quase todos os seus adversários têm tradição na Taça. Basta dizer que, entre os oito clubes presentes nos quartos-de-final, só o Feirense nunca venceu a competição, e que os outros sete até ganharam a prova nos últimas oito edições: 2011 - FC Porto; 2013 - V. Guimarães, 2014 - Benfica; 2015 - Sporting; 2016 - Braga; 2017: Benfica; 2018 - D. Aves. Só falta mesmo a Académica de Coimbra, que foi vencedora em 2012.
Para apimentar um pouco mais as coisas, os teoricamente inferiores jogam todos em casa. E até temos a reedição de duas finais: Leixões, 2 - FC Porto, 0 (1961) e V. Guimarães, 2 - Benfica, 1 (2013), nas quais houve grandes surpresas.
Tudo vai começar esta terça-feira, às 18h00, quando o titular da Taça, o Desportivo das Aves, que segue no penúltimo lugar do campeonato, receber o Braga, atual terceiro classificado da liga. Os dois clubes já se defrontaram 14 vezes, com apenas dois triunfos do Aves, mas na Taça de Portugal o equilíbrio é maior: três confrontos, dois favoráveis ao Braga (1991/92 e 2013/14, este também nos quartos de final) e um ao Desportivo (2005/06, nos penáltis), na única vez que as duas equipas jogaram em casa do Aves a contar para a Taça.
Na presente temporada, Aves e Braga já se defrontaram uma vez, na cidade dos arcebispos, com vitória dos da casa (3-1).
Às 19h30, arranca, em Matosinhos, um dérbi histórico do Grande Porto: o Leixões-FC Porto. Os portistas nunca foram muito bem vistos pelos "vermelhos de Matosinhos" e a rivalidade chegou a ser profunda. Os leixonenses, atuais décimos primeiros classificados da II Liga, já pregaram várias partidas aos portistas ao longo da história, somando 10 triunfos em 68 jogos de provas nacionais entre os dois clubes.
Mas na Taça, em seis eliminatórias, só por uma vez houve surpresa, ou melhor, um verdadeiro escândalo, na tal final de 1961, que até se realizou no Estádio das Antas. Para os de Matosinhos foi também uma vingança servida gelada, depois da "humilhação" vivida na única vez em que os dois emblemas se haviam cruzado na Taça: em 1939/40, um total de 22-4 (!) para o Porto nas duas mãos (1-12 e 10-3).
Ainda esta terça-feira, a festa continua mais a norte, em Guimarães, às 20h45, com o Vitória a receber o Benfica. As duas equipas voltam a jogar no Estádio D. Afonso Henriques, apenas três dias depois (na sexta-feira) para o campeonato.
Os lisboetas, segundos no presente campeonato, venceram os últimos 10 encontros perante os vimaranenses (que seguem na quinta posição da liga) e ganharam em Guimarães nas derradeiras quatro deslocações. Neste período, conquistaram ainda uma Taça de Portugal, batendo o Vitória no Jamor, em 2017, mas nem isso apaga a custosa memória da final perdida em 2013, encerrando uma das piores semanas da história do Benfica (em sete dias, a equipa treinada por Jorge Jesus deixou fugir Campeonato, Taça e Liga Europa).
Curiosamente, o V. Guimarães nunca eliminara o Benfica da Taça até chegarmos ao século XXI (em sete oportunidades), mas desde o ano 2000 que tem vantagem neste confronto: uma final para cada lado e dois sucessos minhotos consecutivos em pleno Estádio da Luz (em 2005/06 e 2009/10)
Esta época, no único jogo entre as duas formações, o Benfica ganhou ao Vitória na Luz na primeira jornada do campeonato, por 3-2, depois de chegar à meia hora a vencer por 3-0.
Finalmente, teremos que esperar por quarta-feira para conhecer o último semifinalista, que sairá do confronto Feirense-Sporting (20h45). Os de Alvalade têm contas recentes a ajustar com esta prova (a triste final de 2018, perdida para o Aves poucos dias depois dos acontecimentos de Alcochete) e, historicamente, o seu adversário nem costuma ir longe nestas andanças. O Feirense só por uma vez chegara aos quartos-de-final, em 1990/91, quando, militando na II Divisão, afastou os primodivisionários V. Guimarães e Tirsense, até cair aos pés do FC Porto (que venceria a prova), e só no jogo de repetição da meia-final, nas Antas.
O Feirense (antepenúltimo do campeonato, no qual já não ganha há 15 jogos) e o Sporting (terceiro da liga, na qual perdeu os dois últimos encontros na condição de visitante) nunca se defrontaram antes na Taça de Portugal, mas o histórico entre os dois clubes não deixa dúvidas: em 14 jogos, o Sporting ganhou 13 (a exceção foi em Santa Maria da Feira, 1-2 em 2017).
Esta será já a terceira vez que as duas equipas se defrontam esta temporada, com dois triunfos leoninos (1-0 em Alvalade, para o campeonato e 4-1, na Feira, para a Taça da Liga, há pouco mais de duas semanas).
Resta agora viver as emoções da Taça. E, se tudo correr normalmente, esperar pelas meias-finais Porto-Braga e Benfica-Sporting (jogadas a duas mãos, a primeira logo no início de Fevereiro, a segunda quando os grandes quiserem). Se por acaso houver tomba-gigantes, então é só substituir o nome do clube no emparelhamento e dizer com cara de caso: aconteceu Taça!