"Já ninguém goza connosco". O que o golo de Eder fez pelos portugueses em Paris
"Os franceses não falam, já esqueceram". Aos dias difíceis que antecederam a final - "eles só diziam que já tinham ganho" - sucedeu uma festa incrível. E veio o respeito que tantas vezes faltou.
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David Romeiro Peliteiro nasceu perto do Stade de France, há 41 anos. Tinha idade redonda, 40, quando voltou a "casa" para assistir à final do Campeonato da Europa. "Foi um dia muito especial."
Filho de pais portugueses, David não se sente minimamente dividido - "sempre Portugal" - e durante o Euro 2016 exibiu, orgulhoso, pelas ruas da capital de França a camisola com as cores da seleção portuguesa. Mesmo que a preferência nada escondida lhe tenha trazido alguns aborrecimentos. "Tive de deixar de falar de futebol com dois colegas de trabalho. Não dava. Eles estavam sempre a criticar a nossa seleção e o Ronaldo. Não queria chatices por coisas dessas."
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Tal como inúmeros portugueses, e sobretudo nos dias que antecederam a final de St. Denis, David teve de lidar com a "arrogância" dos franceses: "Já tinham ganhado. Não se calavam com aquilo. Que não tínhamos hipótese, que o Griezmann era melhor que o Ronaldo."
Um ano depois tudo mudou: "Os franceses não falam. Não falam sobre aquilo. Já esqueceram."
O pontapé de Eder, a vitória da seleção, fez muito pela comunidade portuguesa em França, assume David: "Já ninguém goza connosco. Já éramos respeitados por causa do trabalho e agora também nos respeitam em termos desportivos. Mudou muito."
Esta segunda-feira, o português que é técnico de elevadores em Paris "há muitos anos" vai juntar os amigos em casa, para um churrasco, para assinalar o aniversário da conquista, mas só isso. Publicamente manterá a reserva que a sã convivência impõe: "Vale mais fazer a festa em casa, tranquilamente, mas não num café ou coisa assim, isso era uma... provocação".