Jorginho e o feito inédito do Kairat Almaty: "Fez-me lembrar quando Portugal ganhou o Europeu"
O extremo português é uma das figuras da equipa do Cazaquistão que ultrapassou quatro eliminatórias para chegar à fase principal da Champions. Agora, o jogador bracarense quer encontrar o clube do coração, visitar Anfield Road e o Signal Iduna Park e defrontar jogadores como Virgil Van Dijk, Lamine Yamal e Lewandoski
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Jorginho ainda está à procura das palavras para descrever o que sente após o apuramento do Kairat Almaty para a fase principal da Liga dos Campeões, alcançado esta terça-feira. O clube cazaque afastou o Olimpija Ljubljana (Eslovénia), o KuPS (Finlândia), o Slovan Bratislava (Eslováquia) e o Celtic (Escócia) e tornou-se no único clube a passar as quatro pré-eliminatórias da competição e o segundo da história do país a chegar à fase regular da prova, depois do Astana, em 2015/2016.
O extremo natural de Braga, de 27 anos, é uma das figuras da equipa - leva nove golos e cinco assistências esta época - e um dos portugueses do plantel, a par de Luís Mata. Em entrevista à TSF, confidencia que jogar a Liga dos Campeões será "o cumprir de um sonho que estava longe". Além disso, não esconde a vontade de regressar a Portugal. Há dois anos, Jorginho deixou o Pevidém, da quarta divisão, para jogar no Differdange, onde foi o melhor marcador do campeonato do Luxemburgo, com 25 golos, antes de se fixar no Kairat Almaty, em fevereiro.
Como foi feita a festa do apuramento para a fase principal da Liga dos Campeões?
Não há palavras. Nós, os jogadores, o clube, não pudemos fazer uma festa tão grande porque daqui a dois dias viajamos para jogar para o campeonato e, por isso, temos as nossas obrigações. No entanto, tive a oportunidade de ver vídeos e isso fez-me lembrar quando Portugal ganhou o Europeu, com carros a apitar e as pessoas a festejarem nas ruas. Foi incrível. Foi algo que me fez sentir especial aqui porque todo o país estava do nosso lado. Não é como em Portugal, em que há rivalidade entre clubes e queremos que o adversário perca. Aqui não, todo o país estava connosco. Depois do jogo, alguns jogadores foram jantar e havia uma mesa com sete ou oito homens que vieram de outra cidade, adeptos de um dos rivais do Kairat, o Ordabasy, e disseram que vieram de propósito para nos apoiar. Isso torna tudo mais especial.
Qual é a sensação de estar na Liga dos Campeões?
Passámos quatro eliminatórias. Fomos a única equipa que entrou no início das pré-eliminatórias e conseguiu chegar ao fim, o que não é fácil. Durante os jogos contra o Celtic, já se sentimos isso [jogar na Liga dos Campeões] porque já ouvimos o hino, vimos a lona no centro do relvado e as bolas oficiais e, claro, o Celtic é um clube que nem vale a pena estar aqui a descrever. Mas ainda não caímos na realidade. Acho que só vai acontecer quando estivermos no primeiro jogo, na hora de entrar em campo. Acho que só aí é que a ficha vai cair.
Ainda consegue sair à rua sem ser reconhecido?
Nunca houve muito esse problema aqui porque sempre tivemos muita tranquilidade. No Cazaquistão não é como noutros países. Claro que há sempre pessoas que nos conhecem. Quando são crianças, vêm sempre ter connosco, mas os adultos que nos reconhecem, no máximo, olham para nós, acenam e pedem uma foto, mas é muito raro. Ontem foi realmente diferente. Como há poucos restaurantes abertos 24 horas, muitas pessoas que saíram do jogo foram jantar aos mesmos sítios que nós. Por outro lado, é bom estar aqui, porque as pessoas que nos reconhecem deixam-nos à vontade. Não são intrometidas.
A nível pessoal, para quem estava no Campeonato de Portugal há dois anos, disputar a Liga dos Campeões é um sonho que aparece de repente ou já vinha de trás?
Inicialmente, é sempre um objetivo na carreira de um jogador, mas, como ao longo das épocas não ia saindo do sítio, começou a deixar de ser um objetivo e passou a ser um sonho que estava longe. De repente, tudo muda. E agora estou a viver o sonho. Tornou-se realidade.
Já começou a pensar em possíveis adversários? No caso do Jorginho e do Luís Mata, há a esperança de defrontar também uma equipa portuguesa?
É impossível não falarmos. Ontem, quando acabou, em jeito de brincadeira, já estávamos a dizer no balneário: "Venha o Van Dijk, o Yamal, o Lewandosvki...". Estávamos a falar assim em nomes e agora é possível partilhar o campo com eles. É isso que todos querem, estar entre os melhores. Pessoalmente, quero muito encontrar o Sporting e ir a Alvalade. Fora de Portugal, tenho também algumas preferências: defrontar o Liverpool em Anfield e jogar em Dortmund. Estes são os dois sítios em que mais gostaria de jogar, mas, se pegarmos na lista de equipas da Liga dos Campeões, se pudesse, jogaria contra todas as equipas.
O Jorginho falou do Sporting. É por ser o seu clube do coração?
Sim, sim, desde pequenino. Se estivesse em Portugal, não o poderia dizer porque, infelizmente, a nossa mentalidade não permite que os jogadores se assumam, mas estou cá fora e muitos já o fazem. É o meu clube e não escondo.
A cidade de Almaty vai tornar-se na a cidade mais oriental de sempre na história da fase principal da Liga dos Campeões. Acredita que muitos clubes podem ter receio de fazer uma viagem tão longa? O Kairat poderá jogar com isso?
Como é óbvio, não seremos favoritos em nenhum jogo da Liga dos Campeões, mas a verdade é que os clubes olham para o que fizemos em casa ao longo destas eliminatórias e vêm para cá com outro respeito. O próprio Celtic respeitou-nos na nossa casa por tudo o que tínhamos feito antes. Fizemos quatro jogos em casa nas eliminatórias, não sofremos golos e tivemos muitas oportunidades. Exceto o jogo com o Celtic, em que tivemos algumas oportunidades, nos outros três amassamos completamente, principalmente nas primeiras partes. Isso tudo influencia quando se está no futebol porque eles vão analisar-nos e é um facto a que vão estar atentos. Por isso, mesmo sendo favoritos, eles vêm aqui com muito respeito. Temos de usar as nossas armas porque os nossos jogadores têm qualidade e vamos jogar em casa.
Nos últimos tempos e incluindo este mercado de transferências, o Jorginho recebeu proposta de clubes portugueses?
Essa parte é com o meu agente. Não estou preocupado com isso, só quero desfrutar do momento e estar focado no meu trabalho e deixo essa parte para o meu agente e para os clubes. Se houver alguma coisa em concreto, tenho a certeza que o meu agente fará o melhor trabalho e vai dizer-me quando for a altura certa.
Mas sente, agora ou mais tarde na sua carreira, que ainda há essa vontade de vingar na primeira liga portuguesa?
Sim, claro, mas sabemos das dificuldades que existem em Portugal. Financeiramente, a maioria dos clubes não é tão apelativa, comparativamente aos de fora do país, como é óbvio, e depois também, em Portugal, por vezes, sente-se que a porta para os portugueses está meio fechada. Dá um pouco essa sensação de que é mais fácil apostar em alguém de fora do que num português que está à procura de espaço. No entanto, tenho o sonho de jogar no meu país, na primeira divisão, de preferência nos principais clubes.
