José Cardoso passa dias e noites na Serra da Estrela com 400 ovelhas e não perde uma Volta a Portugal
À TSF, diz que não é fã de ciclismo, mas a Volta já lhe trouxe amigos ao ponto mais alto de Portugal
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José Cardoso é o único pastor da Serra da Estrela, no ponto mais alto, mesmo junto à Torre, e não perde uma Volta a Portugal. Não por ser um admirador de ciclismo, mas porque é na Torre que passa os dias com mais de 400 ovelhas. Por perto, estão sempre dois cães da Serra da Estrela.
Cardoso passa ali os meses de julho, agosto e setembro. “Se o tempo permitir... se não permitir, certamente, vou mais cedo. Se começar a chover, ou se fizer frio fora do normal, vou antes", conta aos microfones da TSF.
É que ali no alto, mesmo no pico do verão, mesmo com 30 graus lá em baixo na Covilhã, as temperaturas podem ficar negativas. "O clima aqui é muito incerto. Se for preciso, anoitecemos com 25 graus e amanhecemos com um grau negativo. Isto aqui é terrível", explica.
A pele de Cardoso é bronzeada, marcada pelo sol e o vento da Serra. Mostra ar simpático por trás do bigode branco e barba rasa, tem na cabeça uma boina de feltro, aquele tecido resistente e quente, veste um colete castanho, camisa aos xadrez em tons de azul. As botas são de couro, cor de camelo. Com as mãos, segura um cajado. Diz que não é fã de ciclismo, mas a Volta tem-lhe trazido amigos.
“A malta aparece, às vezes, ganhamos amigos", afirma. É pastor há 55 anos, natural de Unhais da Serra, a 40 quilómetros dali, umas seis horas a pé. Cardoso faz de uma carrinha branca uma autocaravana.
“Durmo quase sempre no carro e comer, umas vezes faço, outras vezes trago”, refere.
É percetível a forte ligação emocional de Cardoso com o rebanho: "Eu só guardo ovelhas. Eu ordenhava, mas atualmente já não, só vendo borregos e ovelhas, mais nada.”
Sempre dá para dormir uma sesta ou então fazer de guia turístico. “Sou um guia turístico e dos bons, só me falta falar inglês", brinca.