Nesta entrevista à TSF, José Veiga diz que o problema do Benfica não é o treinador, mas a estrutura que acompanha Jorge Jesus. Depois do episódio no fim do jogo de ontem, só há um caminho: entre Cardozo e Jesus, um deles «não pode ficar» no Benfica.
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«Enquanto o Benfica não tiver uma estrutura forte, organizada, coesa, com o conhecimento profundo do que são os meandros do futebol, pode ter a certeza absoluta de que não vai conseguir ganhar títulos», salienta, nesta entrevista à TSF.
«Nos próximos anos vai acontecer aquilo que tem acontecido. Vamos culpar os árbitros, que são uns malandros, que não nos deixam ganhar, enquanto não se resolve o grande problema do Benfica que é o da estrutura», acrescenta o antigo dirigente.
Assim, José Veiga lembra que «o nosso principal adversário continua a ganhar, a somar títulos e campeonatos e nós continuamos com uma comunicação cá para fora em que está tudo bem, que para o ano é que vai ser, que tivemos uma época fantástica».
«Até o próprio Jorge Jesus, de quem sou amigo, não pode ter um discurso como se estivesse a treinar um Braga ou um Belenenses. Alguém devia de ter explicado, ao longo destes quatro anos, o que é o Benfica. Não se pode ficar satisfeito quando nada se ganha», diz Veiga.
Cardozo...ou Jesus
No «caso Cardozo», a leitura de José Viega é direta, não vendo condições para o paraguaio coabite com o autal treinador, na Luz.
«Se for para continuar com Jesus, não pode Cardozo ficar», diz. Isto porque o treinador já está fragilizado junto da massa associativa. «O balneário está sem 'rei nem roque', completamente à deriva, como se viu pelas imagens de ontem. Ou o presidente e o conselho de administração criam condições sólidas para que Jesus continue ou então é melhor não ficar».
Só que o problema não está no treinador, na ótica de José Veiga. «Se vier outro, vai ter que começar tudo de novo e vai demorar tempo. Entretanto, se mudar, em Novembro ou Dezembro o campeonato já poderá estar entregue novamente».
Os «pecados» de Vieira
Luis Filipe Veira é diretamente visado por um homem que ele próprio responsabilizou pela gestão da equipa de futebol que conquistou o campeonato nacional em 2005. E como líder máximo, Vieira deve tirar conclusões deste insucesso desportivo.
«Se tiver capacidade de emendar os erros, acho que deve continuar, sabendo que os mandatos são para cumprir.Agora ele é que tem que responder se tem capacidade ou não. Eu acho sinceramente que ao cabo de 12 anos no Benfica, ele já devia de ter tirado essas ilações e tomado as melhores medidas».
Mas para José Veiga, o Benfica tem um problema de base. Não de treinadores, não de jogadores. «Tivemos realmente o melhor plantel. O Jesus fez um trabalho fantástico, ao nível da espetacularidade do jogo. Agora, falta-lhe uma estrutura por trás que possa dar suporte ao seu trabalho. E a comunicação em vez de ser popular, atirando areia para os olhos dos sócios, deve dizer a verdade».
José Veiga aponta o dedo ao presidente do Benfica, esta época, sobretudo «quando achou que seria muito mais importante ir passear para o Brasil», num momento em que deveria estar preocupado com o jogo do Estoril.
«Quando se está a lutar por um objetivo tão importante quanto o título, toda a gente deve estar concentrada, a começar pelo presidente. Toda a gente percebeu que o balneário ficou completamente esfarrapado depois do jogo com o FC Porto. Houve uma reação na final da Liga Europa, mas aí os jogadores transformam-se, porque é uma montra, há o ego e o orgulho, está o mundo todo a ver».
Mas, havia ainda a final da Taça. «O que vimos? O presidente do Benfica foi para a 'feira de vaidades' em Londres em vez de ficar a controlar de que forma estava a ser preparado esse jogo».