Juntos no atletismo e na vida, Salomé e Isaac querem continuar a colecionar medalhas para Portugal
Depois dos três pódios nos Europeus de Atletismo de Pista Curta, a dupla aponta a novos feitos nos Mundiais da China
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Salomé Afonso confessa que só teve "noção" do feito inédito que alcançou quando lhe disseram. Nunca um atleta de Portugal, masculino ou feminino, tinha conseguido duas medalhas na mesma edição do Europeu de Atletismo de Pista Curta. Também com o pódio assegurado nos Países Baixos, o colega e namorado, Isaac Nader, quer continuar "o sonho, alimentado pelos dois", nos Mundiais, que se realizam no final do mês.
Aos 27 anos, Salomé alcançou as primeiras medalhas numa grande competição, após "vários anos sem ver o trabalho correspondido".
"Acreditava que tinha o potencial para chegar a este nível, mas nem sempre se concretizou (...) A emoção que senti é quase uma representação do facto de finalmente ter conseguido pôr em prática tudo aquilo para o qual tenho trabalhado", vinca em entrevista à TSF.
Depois de "algumas pedras pelo caminho", surgiu a prata nos 1500 metros, na sexta-feira, na cidade neerlandesa de Apeldoorn.
"À entrada para a curva final, pensei que ia ser mesmo a ferros porque estava tudo muito próximo. Foquei-me apenas na minha corrida, quase como se estivesse numa bolha, e o meu objetivo foi correr o mais rápido possível. E isso significou a prata", conta.
Sem acompanhar estas incidências porque se preparava para correr logo a seguir, Isaac só teve conhecimento que a companheira tinha alcançado a prata através de Enrique Pascual, treinador de ambos na seleção e no Benfica. "Soube que a Salomé ficou no pódio porque o meu treinador estava perto da câmara da chamada e começou a gritar. Depois aproximei-me e o Enrique disse que ela tinha terminado em segundo", recorda o atleta de 25 anos à TSF.
Dez minutos separaram duas medalhas.... que vão para a mesma vitrine
Foi tudo muito rápido. Dez minutos depois de terminar a prova feminina, começou a corrida masculina dos 1500 metros. Agora foi vez de Isaac ser protagonista. "Fui logo ter com o nosso treinador às bancadas e, depois, sofri muito durante a prova", confidencia Salomé.
À imagem da namorada, Isaac aponta os 150 metros finais como decisivos. "O quarto classificado, o britânico Neil Gourley, levava cinco metros de desvantagem e eu ainda tinha energia. A partir desse momento, soube que ia acabar com uma medalha", descreve, enaltecendo que o vencedor, o norueguês Jakob Ingebrigtsen, é "o melhor atleta europeu de sempre nas provas de meia distância".
Se Isaac se ficou pelos 1500 metros, Salomé, no dia a seguir, disputou as eliminatórias dos 3000, conseguindo o apuramento para a final, que se realizou no domingo. "O Isaac e o Enrique disseram-me: «Se conseguiste a medalha, achamos que ainda é mais provável nos 3000»", refere, explicando que a sua "capacidade terminal em termos de velocidade era uma vantagem". E assim foi: Salomé juntou o bronze à prata, um feito "indescritível".
Quase sem tempo para festejar, Salomé e Isaac sonham com medalhas nos Mundiais
Seguem-se os Mundiais de Atletismo de Pista Curta, em Nanjing, na China, entre os dias 28 e 30 de março. A agora dupla medalhada europeia está confiante que vai chegar à prova de 1.500 metros - desta vez prescinde dos 3.000 metros por causa do desgaste associado - no "topo da forma" e "preparada" para bater o recorde nacional, fixado em 4.04,11 minutos, de Carla Sacramento, a sua maior referência.
Já Isaac aponta a mais pódios. "Realmente acredito que eu e a Salomé podemos trazer mais duas medalhas para Portugal", vinca, além de considerar que Auriol Dongmo e Jéssica Inchude têm possibilidades de alcançar o mesmo no lançamento do peso.
Entre uma competição e outra, este tem sido também um tempo de "reflexão" para Salomé. "Melhor do que a nossa felicidade individual, é ver as pessoas que gostamos serem também felizes. Estamos 24 [horas] por 7 [dias] juntos [ambos vivem em Soria, em Espanha] e partilhamos um sonho comum".
