Keith Sutton, fotógrafo de Ayrton Senna, volta ao Estoril: “É muito emocionante que as pessoas tenham vindo ver o carro”
O Lotus 97T com que Ayrton Senna venceu o primeiro Grande Prémio da carreira esteve em exposição no Circuito do Estoril. A TSF fez uma viagem a 21 de abril de 1985
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As nuvens cinzentas e carregadas de águas, que iam caindo em aguaceiros, foram o toque final perfeito para compor o regresso do Lotus 97T ao Circuito do Estoril. Tal como no dia 21 de abril de 1985, estava a chover no Estoril, mas nem isso afastou as milhares de pessoas que fizeram questão de ir ver ao vivo o mítico carro.
Entre os vários entusiastas, famílias, crianças e até algumas réplicas de Senna, havia um que se destacava. De boné azul, um pin com o capacete do brasileiro ao peito, óculos de sol e uma câmara fotográfica ao peito, Keith Sutton, amigo e fotógrafo oficial do brasileiro, passeava-se entre a box 1 e 2.
“Lembro-me como se fosse hoje e como está hoje: com muita chuva. Com chuva torrencial. Foi um dia especial, porque trabalho com o Ayrton desde que ele veio de Inglaterra, em 1981, para correr na Fórmula Ford. Trabalhei com ele durante três anos na Fórmula Ford e Fóruma 3 e ambos tínhamos um sonho. E esse sonho era chegar à Fórmula 1. Ele como piloto e eu como fotógrafo, e tudo isso se tornou realidade em 1984, quando ele fez o seu primeiro Grande Prémio no Rio de Janeiro, no Brasil. Fez uma época com a Toleman e depois, em 1985, mudou-se para a Lotus”, começa por descrever Keith Sutton à TSF.
A expressão do britânico denunciou uma viagem ao tempo até ao dia 21 de abril de 1985. O fotógrafo tinha 20 anos, apenas menos um que Senna, e dava os primeiros passos na Fórmula 1. Lado a lado, os dois estavam a viver o sonho. E viveram também juntos a primeira vitória do brasileiro.
“Tudo estava a correr bem. Ele estava na pole position para a corrida. Depois, a chuva começou e tornou-se torrencial. E foi muito difícil. Não só para ele como piloto, obviamente, por não conseguir ver para onde se vai com todos os salpicos. Mas para mim, como fotógrafo, foi particularmente difícil, porque tinha de estar sempre a limpar a lente, pois não faz sentido tirar fotografias se não tivermos uma lente limpa”, conta, apontando para o circuito à medida que visualizava cada curva.
“Comecei por fotografar a partida, como normalmente fazia. E depois comecei a deslocar-me para a curva 2, 3, 4. E depois a chuva não parava. Continuava a cair. E ele continuava a andar cada vez mais depressa à chuva e, no final da corrida, eu estava completamente saturado, precisava de ir para um sítio seco antes da chegada, antes de ele ganhar. Por isso, escolhi a bancada central, porque estava coberta e assim podia limpar as lentes e secar-me um pouco antes de ele cruzar a linha com a mão no ar para a vitória, explica.
A fotografia de Senna com o punho no ar, de luva vermelha calçada, enquanto celebrava a primeira conquista da carreira é uma relíquia do automobilismo e foi Keith quem capturou o momento. Agora, regressou à bancada central para recriar a memória, com o Lotus 97T de novo no alcatrão. “Passámos a manhã a passear pela pista e a fotografar o carro. E estando nas esquinas onde eu estava, a tirar fotografias há 40 anos, era altura de refletir aqui neste fim de semana”, revela.
Keith Sutton passou a carreira ao lado de Senna. Depois da morte do brasileiro, continuou a fotografar corridas de Fórmula 1 e acumula mais de 700 Grandes Prémios desde que começou. A sua experiência permite-lhe ter um pass vitalício que lhe garante acesso a qualquer corrida até ao fim da sua vida. Um presente que recebeu da FIA - Federação Internacional do Automóvel - quando completou os 500 Grandes Prémios.
Ainda assim, e apesar do mundo de experiências, deixou-se surpreender pela adesão à homenagem a Senna em Portugal: “É emocionante, porque muitas pessoas vieram aqui para ver o carro e ver o seu sobrinho Bruno. E, claro, muita da equipa da Lotus, que estava lá há 40 anos, também está aqui. Portanto, é fantástico, é maravilhoso tudo isto.”
“Portugal era-lhe muito querido. Comprou uma casa na Quinta do Lago, no Algarve, que adorava porque acho que lhe era permitido ser ele próprio quando vivia aqui. Ninguém o incomodava. Estava sempre a correr na praia, a comer nos restaurantes locais, mas as pessoas deixavam-no em paz. Ele sentia-se confortável aqui e, obviamente, a língua também era ótima. Era um ótimo lugar para se instalar durante a época europeia de verão”, acrescentou.
