Aos 86 anos, Pinto da Costa, o sócio número 587 do FC Porto, candidata-se àquele que, garante, será o último mandato. Fá-lo, sublinha, com um objetivo: impedir que o clube saia das mãos dos sócios. Leia a entrevista TSF-O Jogo.
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Há 42 anos, quando se candidatou pela primeira vez à presidência do FC Porto tinha o objetivo de ver o clube ganhar uma competição europeia. Se for reeleito, ainda é possível conduzir o FC Porto a mais conquistas internacionais?
Em 1982, no meu programa, não dizia vencer uma Taça dos Campeões. Dizia estar presente numa final europeia. E lembro-me, quando apresentei o programa, fi-lo com o falecido e querido engenheiro Armando Pimentel, ele dizia-me: ‘Oh Jorge, tira isso daí, que isso é impossível’. Eu disse-lhe: ‘Não, não é impossível. Vamos conseguir, com calma e com trabalho seguro, vamos conseguir’. E quando, em 84, ele, abraçado a mim, me disse: ‘Realmente tinhas razão, conseguimos’. Eu disse: ‘Mas ainda não conseguimos tudo, agora temos de ganhar uma’. E em 87, felizmente, ganhámos. Na altura, parecia impossível. Hoje, também parece impossível. Mas se tivéssemos tido aquela sorte que é sempre precisa na marcação dos penáltis, se tivéssemos eliminado o Arsenal, acho que podíamos, este ano, ter estado na final. Não conseguimos ultrapassar esse pormenor e ficámos pelo caminho. Mas o meu objetivo, o nosso objetivo, é voltar a estar numa final europeia. E depois, quando se está numa final, é sempre para tentar ganhar, porque, seja qual for o adversário, é sempre 50-50 de probabilidades.
Considerando as dificuldades financeiras que a própria candidatura admite que existem, de que forma é possível criar uma equipa suficientemente competitiva para um objetivo como aquele que descreveu agora?
A primeira coisa é tentar segurar todos os jogadores que pretendemos manter. E a segunda é puxar alguns jovens talentos que estão nos escalões de baixo, que já deram mostras de que podem ser uma garantia para as nossas equipas, e também, depois, dar um retoque com jogadores de categoria que venham acrescentar algo mais à nossa equipa.
E esses jogadores já estão identificados?
Já, já.
É possível o FC Porto voltar àquele mercado em que contratava jogadores como Lucho González, Hulk, Benny McCarthy, Jardel…
É difícil, porque, hoje, aquilo que nós fazíamos já todos fazem. Portanto, é mais difícil, há maior concorrência e os chamados tubarões estão lá. Mas chamo-lhe a atenção que, por exemplo, este ano conseguimos contratar um jovem de 22 anos, que é o Varela, que vai ser um jogador de classe internacional e será um futuro jogador da seleção da Argentina. Assim como conseguimos o Nico González e hoje ninguém põe a mínima dúvida de que vai ser um grande jogador, já está como um valor firmado na nossa equipa. Ainda é possível arranjá-los. Agora, é preciso ter mais atenção, mais cuidado, mais prospeção, mas não vamos abdicar de reforçar a equipa com bons jogadores.
Não reconhece, portanto, que os plantéis do FC Porto têm vindo a perder qualidade?
Eu pergunto uma coisa: o plantel do FC do Porto, recentemente, teve três jogadores na seleção do Brasil. Não foi na seleção do Gana, foi na seleção do Brasil. Teve quatro na seleção de Portugal, teve um na seleção da Argentin [n.dr. nos sub-23]a, teve um nos sub-21 de Espanha... Se isto é perder a qualidade, não sei o que será ganhar qualidade. Queremos manter esses jogadores e, depois, reforçar, dar o tal retoque para aprimorar o valor da equipa.
Considerando a cada vez mais provável ausência da Liga dos Campeões, será possível manter essas pérolas no plantel?
Penso que sim. Vamos fazer tudo para que assim seja. Falam muito da perda dos campeões europeus... Não é uma perda total, porque indo à Liga Europa... é evidente que a Liga Europa também dá algum. E esquecem-se que temos uma receita suplementar, devido ao trabalho das nossas equipas, que são 50 milhões por irmos ao Mundial de Clubes. Isso é uma receita para nós extraordinária, porque nunca houve esse campeonato e nunca lá estivemos. Digamos assim: podemos perder 50 milhões dali, é verdade, mas também temos garantido 50 milhões de uma prova que não existia, que nunca tivemos. Acho que, de imediato, está contrabalançado a perda com o ganho.
Depois de ganhar tanta coisa, não tem medo de perder estas eleições?
Não, nunca. Disse, recentemente, numa conversa que tive num programa da SIC, que não tenho medo de nada. Só havia uma coisa de que eu tinha medo, era que o clube viesse a sair da mão dos sócios, com a venda de ações como aconteceu no Braga, porque são os mesmos que trataram desse negócio que estão por trás dessa candidatura. Então eu teria, não é medo, teria um peso enorme da consciência se não me tivesse candidatado quando isso acontecesse. Candidato-me, não tenho medo nenhum de ganhar, nem de perder. É como diz o João Pinto, o prognóstico só no fim. Mas ficaria de mal com a minha consciência se, sabendo o que estão a preparar, não me tivesse candidatado para tentar evitá-lo. Se a opção dos sócios for ir atrás desse projeto de desbaratar o clube, o problema é dos sócios eu ficarei com a consciência tranquila.
A idade é um aspeto importante para ser presidente do FC Porto?
Acho que não. Pode haver burros aos 20 e pode haver burros aos 60, aos 70, pode haver gente capaz aos 20, aos 60, aos 80... O Presidente dos Estados Unidos, aliás ambos os candidatos, andam um para baixo, outro para cima, mas andam os dois à volta dos 80 anos. Não é pela idade, é pela capacidade que tiverem, pela vontade que tiverem de servir a causa a que se vão entregar.
André Vilas Boas disse-nos que tem sondagens que lhe dão uma vitória por números confortáveis e que o senhor Pinto da Costa também deverá ter essas sondagens com esses números. Tem?
Não. Não tenho sondagem nenhuma, porque se há uma coisa que não acredito é em sondagens. Basta ver nas últimas quanto tinha o Chega e quanto na realidade teve. Portanto, as sondagens são encomendadas e, naturalmente, são sempre a favor de quem as encomenda. Eu não encomendei nenhuma, nem estou preocupado com isso. As minhas sondagens são na boca das urnas, é no voto que se lá deposita. Isso é que são as sondagens. O resto, para mim, é tudo conversa.
Em caso de derrota, admite falar com o vencedor para suavizar a transição para a presidência?
Estarei sempre ao serviço do FC Porto para ajudar. Em 1980, deixei a direção do FC Porto e a primeira coisa que fiz foi passar todas as indicações ao meu sucessor, que foi o saudoso Luís Teles Roxo. Eu dirijo o FC Porto não para mim, dirijo o FC Porto para os sócios. Naturalmente, quando cá não estiver, estarei disponível para ajudar em tudo o que quiserem. Quando saí a primeira vez de diretor do FC Porto, tinha sido diretor três anos com o Sr. Afonso Pinto Magalhães a presidente e o Dr. Américo de Sá queria que eu continuasse. Não continuei e, na altura, ele compreendeu. Havia, na Direção que ia entrar, uma certa hostilidade com o Sr. Afonso Pinto Magalhães e eu disse que era para me incomodar e que não estaria bem, porque à minha frente ninguém poderia atacar um homem daqueles. E saí. Mas a primeira coisa que me convidaram, e que fiz, foi para fazer parte de uma comissão para construir o pavilhão, que teve o nome do Dr. Américo Sá. Depois, quando ele foi concluído, o Dr. Américo Sá deu-me até uma medalha e uma carta de agradecimento, muito admirado por ter sido o motor daquele pavilhão. Portanto, não tem nada a ver. Sirvo o FC Porto, estando ou não estando, sempre que o FC Porto precise.
É sua intenção no caso de vitória, cumprir todo o mandato?
Sim. Caso contrário não me candidatava.
Porque muita gente está convencida que, se ganhar, a meio abdica em favor, por exemplo, de António Oliveira...
Isso são disparates que se dizem. Sabe, das poucas coisas que não paga IVA é o disparate. Por isso é que ouvimos tantos na televisão. Se um dia puserem a IVA no disparate, metade dos comentadores são despedidos.
António Oliveira disse há poucos dias que, se perder estas eleições, em 2028 candidata-se ele à presidência para ganhar. O que é que sentiu ao ouvir isso?
Senti que foi uma coisa que disse no entusiasmo. Estava um ambiente realmente fantástico, empolgante, e saiu-lhe aquilo. Devo já dizer que não influenciarei de modo nenhum, no caso de vencer estas eleições, no fim do mandato, para que seja este ou aquele. Os sócios é que terão de escolher. Se ele se candidatar, é um problema dele e dos sócios. Será certamente um bom candidato, mas espero que, se ele se candidatar, não seja por termos perdido as eleições, mas por termos ganho e termos posto o clube muito melhor e mais fácil de governar.
Pensa que com António Oliveira, nessa altura, o FC Porto ficará bem entregue?
Não faço ideia. Daqui a quatro anos... O Mundo muda tanto de um dia para o outro. Portanto, é impossível pensar se é ou não é. Neste momento, teria sido, mas não quis. Agora, no futuro, não sei, nem quero saber, nem vou intrometer-me. Estou preocupado nestes quatro.
Fez uma profunda alteração e renovação nas listas a estas eleições. Porquê agora?
Porque é agora que há eleições. Não podia remodelar a meio. Estou muito grato a toda a gente que colaborou comigo, todos deram o seu melhor, todos fizeram boas coisas, muitas vezes ignoradas, todos foram muitas vezes injustamente criticados e até insultados, que é uma coisa que agora já existe, infelizmente, na comunicação social. Já não é crítica, é insulto. Entendi que era preciso renovar, com novas ideias. Quem entra traz sempre mais entusiasmo, traz sempre mais vontade e disponibilidade de se sacrificar ao serviço do clube. Procurei pessoas com grande capacidade e que sentissem o clube. Não é por acaso que tenho na minha direção gente que foi uma glória com a camisola do FC Porto vestida, como o Vítor Baía, como o António Oliveira, como o Vítor Hugo, o supercampeão do hóquei em patins, gente competente que serve o FC Porto com paixão. E acho que quando há dificuldades num clube, se não houver paixão, as pessoas vão lá dar o recado. Se não têm história, como ninguém tem história na Lista B, penso que não poderá haver capacidade para disponibilizar-se totalmente para viver o FC Porto.
Recentemente vieram ao público rumores que davam conta de uma ligação entre Adelino Caldeira e André Villas-Boas. Tem alguma informação nesse sentido? Isto tem algo a ver com a saída dele?
Não, não tenho nada e não tem ligação. Ter ligação não é motivo... Também tive ligação até há bem pouco tempo com pessoas que estão por trás da candidatura e que algumas até têm feito muito mal ao FC Porto. Portanto, se tinha qualquer ligação, ou até profissional, é evidente que ninguém pode criticar isso, nem de um lado, nem do outro. Se um advogado é requisitado para prestar um serviço, se o cliente confia nele, não pode estar a ligar as ligações ou às conotações desportivas. Isso não me diz absolutamente nada.
João Koehler disse há uns dias que há informação interna do clube a ser passada para fora por funcionários afetos à lista B. Acha que é preciso fazer uma limpeza do balneário no FC Porto?
Não. É preciso fazer uma limpeza no balneário, não de balneário, porque os balneários ficam sempre sujos depois dos jogos. Não comungo dessa ideia. Qualquer pessoa, funcionário ou não, tem direito de ter as suas opções. Sei que há aqui gente dentro que tem muita ligação, não é ao Villas-Boas, que ao Villas-Boas ninguém tinha, mas ao Antero [Henrique], que é o promotor da candidatura. Portanto, é natural que tenha uma certa simpatia. Agora, que isso esteja a prejudicar o bom andamento dos serviços e do FC Porto, creio que não.
Antes das últimas eleições, disse que não se candidatava se António Oliveira, Rui Moreira ou Villas-Boas avançassem. O que é que o fez mudar de ideias?
Em relação a António Oliveira, não me fez mudar nada porque o convidei para se candidatar e ele disse-me que não, que achava que eu ainda era necessário e devia candidatar-me. Disponibilizou-se para estar ao meu lado para o que quisesse e, portanto, não mudei de opinião.,Ele é que continuou a manter. Disse até publicamente que nem que soubesse que ganharia as eleições, que era incapaz de concorrer contra mim. E, de facto, foi essa a atitude dele. O Rui Moreira, por quem tenho muita estima, acho que há quatro anos podia ter sido um bom candidato. Neste momento, acho que não seria, porque conseguiu separar-se do mais importante que o clube tem, que é a sua equipa de futebol, quando teve aquelas intervenções, infelizes para mim, a atacar o Sérgio Conceição e quando veio dizer, na contratação do Francisco Conceição, que tínhamos comprado um mini, depreciando o valor do jogador. Erradamente, como se está a comprovar jogo a jogo. Acho que isso criou um fosso entre ele e o departamento de futebol, porque os outros jogadores também se solidarizaram com o Francisco. Em relação a Villas-Boas, como em qualquer altura, eu apoiaria candidatos se os visse bem acompanhados com o projeto. Quando vi na apresentação quem lá estava, só vi pessoas que são inimigas do FC do Porto, só vi ressabiados, só vi pessoas que nunca fizeram nada pelo FC Porto, que são totalmente desconhecidas. É evidente que não podia apoiar. Recordo-lhe que só me candidatei depois do Villas-Boas. Não foi antes, foi depois. Porque ainda admitia, e estava na esperança, que ele se rodeasse de gente do FC Porto, capaz de continuar as vitórias e a gestão destes 42 anos. Quando vi que não era assim, resolvi candidatar-me, sacrificando a minha vida, a minha família, que era contra a minha candidatura, porque não confiava de maneira nenhuma no que estava a ver. E tive razão. Quando vi o tal Zubizarreta numa fotografia ao lado do Carlos Gonçalves e do Raul Costa, que são os empresários do Villas-Boas, percebi, de facto, que eram eles que vão comandar. E não só por perceção minha, mas porque o Carlos Gonçalves disse a várias pessoas e até jogadores que ele é que iria mandar no futuro. E o Raul Costa fez pressão sobre os jogadores com quem tínhamos de renovar para que não renovassem, porque no futuro ele é que ia mandar no FC Porto. Perante estas situações, não tinha outra solução que não fosse candidatar-me.
É verdade que o Antero Henrique foi a casa da sua filha procurando convencê-la a influenciá-lo a não se candidatar?
É verdade que foi lá muito preocupado se me ia candidatar ou não, que achava que eu não o devia fazer. Curiosamente, depois ouvimos essa conversa na apresentação do candidato Villas-Boas, que eu ia ser o presidente dos presidentes, que ia ter todas as benesses, que não me devia candidatar, até porque em janeiro iam desferir ataques contra o clube, embora não fosse diretamente a mim, a aconselhar-me a saber e a dar ideia de que não me devia candidatar. A minha filha disse-lhe que não se metia nisso, que estava tão poucas vezes comigo por causa de futebol, que quando estava comigo não era para falar de futebol. Ela contou-me isso imediatamente. Já previa, e já sabia, que essa candidatura estava a ser preparada por ele e pelo Dr. Raul Costa. Há mais de um ano que os sogros do Dr. Raul Costa, que são amigos do Vitor Baía, não tendo nada a ver com o futebol, o aconselharam a afastar-se de nós, porque no futuro estavam a prepará-lo para que o Villas-Boas fosse o presidente do FC Porto. E o Vitor disse: “Não. Estou com o presidente, é com o presidente que vou continuar”. Depois, os envolvimentos, aquela apresentação, achei aquilo tão mau, tão ridículo... Desde um apresentador, que acho que até é um artista... é ator. Ver um ator dizer que está apaixonado, fazer uma declaração de amor, estou apaixonado, não sei se se lembra, mas estou apaixonado por o Villas-Boas e lhe dar um beijo publicamente. Achei aquilo tudo de um ridículo, de uma montagem tão pirosa. E depois, repito, aqueles que eu vi... olhe, vi ex-jogadores que não são sócios, nem nunca foram do FC Porto. O [Nuno] Valente, que foi um defesa-esquerdo excelente, que foi muito importante, mas sempre, mesmo quando aqui jogava, se assumiu como sportinguista. Sempre. Achei tudo aquilo de um ridículo que... olhe, levou-me a candidatar. Contra os conselhos da família, que queria mais a minha presença, que sabe como eu sou, que quando meto nas coisas é 100%.
Ficou desiludido quando viu que na primeira fila estava a família Pedroto, que apoiava o candidato André Villas-Boas?
Não, já calculava, porque sabia, pelas informações que tinha, que o filho do Zé Maria Pedroto ia ser diretor do FC Porto. Que ia ser usado como um trunfo por ser filho de... aliás, quando se fala desse senhor, ninguém diz o nome, é o filho do Pedroto. Quando se diz que um indivíduo é o filho do Pedroto, é porque ele não tem realmente motivo para que se refira. Ele nunca foi nada no FC Porto, nunca teve nenhuma ligação ao FC Porto, foi apenas usado pelo nome de Pedroto. E como sabia que isso estava nos planos, e como tanto a mãe do Rui Pedroto e irmã entraram para sócias no fim do ano passado, percebi logo que estariam do outro lado. Não sei porquê, se será pela promessa que tinha de ser diretor. Dizem que foi porque a filha foi para um hospital que é da Misericórdia, que foi o António Tavares... Mas isso a mim não me interessa. Cada um faz as suas opções. A mim já nada me admira.
Mas não houve nenhum desentendimento?
Nunca, nunca... Nunca houve. Tenho aqui mensagens dela a justificar-se quando não veio aqui à sessão em homenagem ao pai que o professor José Neto faz sempre no dia 7 de janeiro. Tudo cordial. Apenas ia sabendo. É estranho que uma família que estava ligada a um grande treinador do FC Porto e só aos 80 anos é que se lembra de entrar para sócio, era fácil de prever que, de facto, o filho iria ser alguma coisa no FC Porto. Foi candidato a vice-presidente.
Não tem dúvidas que Sérgio Conceição é o treinador certo para esse projeto?
Não, não tenho.
E tem garantias de que se for eleito, continua mesmo como treinador?
Não posso dar essa garantia, até pelas conversas que tivemos. Agora, o que digo é que estou convencido que o Sérgio Conceição, se for eleito, será o treinador do FC Porto.
E se ele lhe disser, como disse no outro dia, que se sente cansado?
A mim nunca me disse.
Se ele não quiser continuar, tem um nome na cabeça?
Não, não tenho, nem preciso ter.
Ficou surpreendido com a presença e aquele abraço na apresentação da sua candidatura?
Fiquei surpreendido, não com a presença do Sérgio Conceição. Fiquei surpreendido com o Coliseu cheio com pessoas que nunca pensei que estariam presentes a dar o apoio naquela altura. Pessoas que têm vida pública, que não tiveram receio de se expor, pessoas que foram aconselhadas a não ir, mas que, pelo coração, pelo FC Porto e pelo reconhecimento ao meu trabalho, resolveram ir. De modo que, tudo aquilo que se passou no Coliseu do Porto me surpreendeu e me emocionou até. A presença do Sérgio Conceição foi um momento alto, porque toda a gente compreendeu o que significava.
Dos treinadores que o FC Porto teve consigo, há algum daqueles que estão vivos que gostasse de fazer um dia regressar ao Porto?
Não gostava de fazer regressar nenhum, porque quero manter o que tenho. Agora, todos os treinadores que por aqui passaram deixaram marca, até laços de amizade grande comigo, a maioria. Portanto, seriam sempre bem-vindos. Dou-lhe um exemplo, que é onde deve querer chegar: o José Mourinho. Gostava muito que o José Mourinho viesse, mas não preciso, sendo um grande treinador e sendo muito amigo dele, porque tenho aquele que quero, que é o Sérgio Conceição.
E não tem receio que o José Mourinho venha a ser treinador do Benfica?
O José Mourinho é um treinador que pode treinar qualquer equipa do Mundo porque tem valor para isso. Se ele for treinador do Benfica, desejo-lhe muitas felicidades, menos nos jogos com o FC Porto. Não vamos deixar de ser amigos por isso.
Dividindo a presidência por décadas: de 1982 a 1992, o FC Porto, ganhou cinco campeonatos; de 1992 a 2002 ganhou seis; de 2002 a 2012 ganhou oito, foi a melhor década. De 2012 a 2024, mais que uma década, 12 anos, ganhou quatro campeonatos, é o pior registo. Isto preocupa-o?
Isto posto assim mostra a sua tendência perante os factos. Mas não é bem visto, porque nos últimos quatro anos o FC Porto venceu mais títulos do que os outros dois juntos. Não foi igual, ganhou mais. Estou a falar de campeonatos. O FC Porto ganhou mais que os outros dois. Acho que tem havido uma regularidade de vitórias. Hoje reconheço que é mais difícil, as vitórias internacionais são mais difíceis, mas naquele tempo também eram difíceis. Quando jogamos com o Bayern Munique, em 1887, na caixa das apostas tínhamos 5%, e mesmo assim eram os mais otimistas. Ser difícil não nos assusta, temos é ter um objetivo, lutar por ele, ir em frente e pensar que é isso que os sócios querem.
Tem sido acusado também pela lista B de decisões estruturantes, nomeadamente em relação à Academia já sabia que ou o negócio com a Ithaka, que influenciam para lá do mandato. Entende essas críticas, era possível esperar pelas eleições?
Entendo todas as críticas na estratégia traçada pela outra equipa, que é a política da terra queimada. Vi isso quando, na Assembleia Geral das contas em que o candidato Nuno Lobo se absteve, o candidato Villas-Boas votou contra. E não votou contra porque as contas estivessem mal, porque ele achava que estavam bem, sabe porquê? É que ele teve uma intervenção em que foi dizer que se ‘retirarem os prémios [da Administração] que receberam, eu aprovo as contas’. Então, o que estava mal não eram as contas, eram os prémios. E em relação aos prémios, eu devo dizer que também não achava que estivesse bem, mas não fui eu que os decidi. O estatuto da SAD diz, para responsabilizar a Administração, que os seus elementos têm de ser remunerados. Não sou eu que digo, são os estatutos, porque assim é que podem ser responsabilizados, e há uma comissão de vencimentos que é quem estabelece os vencimentos. Essa comissão, curiosamente, era formada por três indivíduos: o Sr. doutor Alípio Dias, que toda a gente conhece, que foi membro de um governo do PSD, o professor Emílio Macedo, o reitor da Universidade de Vila Real, e o doutor Fernando de Sousa, que é o cabeça de lista da lista B. Esse indivíduo é que decidiu que havia prémios, porque as atas todas estão votadas por unanimidade e ele assinou-as todas. Então, o indivíduo que é que determina, ninguém lhe foi pedir para pôr lá isso, os vencimentos e os prémios depois vem criticar que se ganhava demais e que não devia haver prémios. Não vai haver mais prémios, mas quem decidiu que havia prémios foi quem está na lista do Villas-Boas. É uma coisa impensável.
André Villas-Boas diz que vai ser um presidente não remunerado, não vai ter um ordenado para ser presidente do FC Porto. Acha bem?
Luís Filipe Vieira também não era.
O que é que quer dizer com isso?
Quer dizer que às vezes dá mau resultado. Se calhar, estará suficientemente rico, e é natural, porque recebeu pequenas fortunas em vários despedimentos, e naturalmente se, não sei se tem, mas se por exemplo tivesse o dinheiro no Uruguai, ganhava muito dinheiro, poupava muito dinheiro em impostos.
O FC Porto ainda arrisca uma das piores classificações dos seus 42 anos como presidente no campeonato. Que explicações tem para este comportamento da equipa na prova?
Há fatores externos que os vossos especialistas em arbitragem têm referido, têm noticiado e têm mostrado que prejudicaram em muitos jogos o FC Porto. Portanto, se somar esses pontos - não sou eu que digo, são os vossos especialistas -, que foram sonegados ao FC Porto, a classificação seria totalmente diferente. Agora, isso não quer dizer que a equipa não tenha valor. Provou-o nos jogos internacionais com o Arsenal, que andava a golear toda a gente, e em dois jogos com prolongamento só sofreu um golo, perdendo nos penáltis e saindo de cabeça bem erguida. A Europa reconheceu que tínhamos uma grande equipa. Depois, com o Benfica, mostrámos valor. Vulgarizámos uma equipa boa como é a do Benfica. Portanto, são fatores externos que explicam esta classificação.
Caso se confirme, considera o Sporting um vencedor justo do campeonato?
Se se confirmar, tenho de considerar. Agora, tenho de lembrar que o arranque do Sporting foi com cinco pontos que não devia ter tido, porque ganhou no Casa Pia com um golo fora de jogo, que foi provado e até o VAR foi suspenso; ganhou em Faro com uma arbitragem que toda a gente reconheceu que deu a vitória ao Sporting e, depois, sabe que correndo bem o princípio, depois de se embalar é mais fácil. Agora, tirando esses dois casos, que são anormais, que não deviam ter sido assim, o Sporting tem sido o mais regular, sem dúvida.
O candidato da lista C, Nuno Lobo, disse que alertou os restantes candidatos para o facto de o ato eleitoral, nesta altura, poder influenciar o rendimento da equipa. Também acredita que influenciou?
Acho que sim. Acho que ninguém tem dúvidas. Os próprios jogadores reconhecem. Antes, os jogadores estavam alheios a tudo. Agora, todos os jogadores têm redes sociais, leem tudo, sabem tudo. Sabem mais do que eu, que não tenho, não vejo e nem quero ver. Alguns, já há muito tempo, a começar pelo Pepe, me demonstraram a preocupação que a forma como o ato eleitoral estava a decorrer estava a influenciar o rendimento da equipa.
Teria feito sentido realizar as eleições apenas após o final da época desportiva?
Acho que sim. Era a nossa proposta. Como fazia sentido que os sócios pudessem votar nas casas, pudessem ter o voto digital, que era a nossa proposta.
Disse também que as arbitragens pioraram desde que André Villa-Boas oficializou a candidatura. O candidato da Lista B influencia as arbitragens ou as arbitragens querem influenciar as eleições?
Não faço ideia. Eu só posso falar do que vejo. Que elas pioraram, ainda se viu com o Casa Pia, onde foi anulado um golo completamente legal, não há falta nenhuma. Tive o cuidado à noite de ver o jogo, ainda vi o jogo todo quando cheguei a casa, repeti, e até os comentadores são unânimes em dizer que não há falta nenhuma. Portanto, que tem havido infelicidade nas arbitragens, nem lhe vou pôr outro nome sequer, vou pôr infelicidade, é uma realidade. Porquê é ou porquê não é, isso já não sei.
André Villas-Boas disse que, se ganhar as eleições, vai passar todos os negócios do FC Porto a pente fino e garante que será implacável com pessoas que se tenham governado à custa do clube. Pode garantir que isso nunca aconteceu?
Podem procurar à vontade e estou disposto para ajudar nessa luta, porque há coisas que não sei se serão legais ou não, mas vou-lhe dar um exemplo que a mim me chocou muito. Nós vendemos o Luis Díaz ao Liverpool. O empresário foi o dr. Raul Costa, recebeu cerca de quatro milhões de comissões e quando as foi receber pediu para distribuir por três. Não sei porquê, talvez por questões de impostos. Então, o que tínhamos a pagar foi pago em três terços a ele e a duas entidades que ele indicou. Sabe o que aconteceu? Uma dessas entidades pôs o FC Porto em tribunal já em período eleitoral, por nos termos atrasado no pagamento da comissão. Comissão que devíamos ao dr. Raul, mas que por indicação dele pagámos a outro. E o outro pôs-nos em tribunal já na campanha eleitoral. Já está pago, porque até 31 de março não podíamos ter questões dessas e temos autorização da UEFA para nos podermos inscrever nas provas europeias. Está tudo em ordem e não devemos nada a ninguém. Mas tivemos de fazer um esforço suplementar para pagar a esses senhores, porque em período eleitoral puseram uma ação. Acho também estranho que na lista B, na Assembleia Geral, esteja um advogado que é patrono em várias queixas de empresários contra o FC Porto. Acho que o FC Porto não precisa de quem esteja contra nós nos tribunais, precisa daqueles que nos defendem.
A propósito do fair-play da UEFA, é verdade que o FC Porto entrou em incumprimento? E o administrador financeiro Fernando Gomes foi à Suíça negociar com a UEFA uma pena mais suave?
O FC Porto teve incumprimentos, como lhe disse, de empresários ligados ao dr. Raul Costa. E esteve em incumprimento determinado período, porque apareceu de repente, como apareceu agora também o empresário Israel [Oliveira], a pôr uma ação por causa do Otávio. Aparecem certos empresários que depois da campanha eleitoral nos põem ações. O FC Porto atrasou-se, e reconheceu, num pagamento que tinha de ser feito até determinada data e creio que o fez 15 dias depois. Está tudo em ordem. E a prova é que a UEFA, em 31 de março, considerou que estava tudo legalizado. Temos, por escrito, autorização para nos inscrevermos nas provas europeias. Agora, nós não estamos dentro do UEFA, não sei se nos vai dar uma coima. Até hoje, ou antes até ontem, pode ter chegado de manhã, garanto-lhe que não tivemos coima nenhuma.
Desde 2004, o FC Porto encaixou muito dinheiro na venda de passes e recebeu dinheiro também pelas participações na Liga dos Campeões. Como é que explica que o clube não tenha uma situação financeira boa?
Porque o FC Porto recebeu muito dinheiro, mas também investiu muito dinheiro. Os jogadores que chegam ao nível de uma seleção do Brasil ou da Argentina não são de borla, também custam muito dinheiro. O FC Porto fez infraestruturas muito grandes. O FC Porto tem uma máquina grande para sustentar, um pavilhão, um estádio, um museu, tudo isso custa muito dinheiro, além de manter as equipas. Agora, relembro que no último semestre nós tivemos um lucro de 20 milhões e os capitais próprios, que estavam altamente negativos, estão praticamente positivos e ficarão positivos de imediato com esta operação que fizemos. Aqueles que falavam, e a razão de deitar abaixo a direção eram os capitais próprios negativos que a maioria não sabe o que isso é, mas ouviu dizer que os capitais próprios eram negativos, passou a ser o chavão... A partir do momento em que as contas estão controladas, em que tivemos um lucro de 20 milhões e em que temos os capitais próprios positivos, deixou de ser assunto, nunca mais ouviu falar nisso. O que se ouve falar é em disparates.
Apesar dessa situação financeira, pode comprometer-se com os portistas de que a vertente desportiva será sempre a prioridade?
É evidente. Toda a gente que me conhece sabe que a parte desportiva e o ganhar títulos é a minha primeira obsessão. Poderíamos até estar melhor financeiramente se tivéssemos vendido jogadores que eu não quis vender para ganhar títulos. Acho engraçado... Nesta semana ouvi que as modalidades perderam competitividade. Nós estamos em primeiro lugar no hóquei patins, em primeiro lugar no basquetebol, em primeiro lugar no andebol [n.d.r. está em segundo], em primeiro lugar a disputar a final do campeonato de vólei. Perdemos competitividade? Não sei o que isso quer dizer. Onde é que está a falta de competitividade? Na natação continuamos a ganhar títulos, a bater recordes, a ter já uma atleta para os Jogos Olímpicos. O que é que querem? Mais que o primeiro? Mais que o primeiro não existe.
Mas também quer mais modalidades?
Quero o futebol feminino e há propostas para mais. Até há propostas de sócios que querem abrir uma modalidade de padel. Parece que é uma coisa que está muito em voga e tem aparecido muitos sócios a querer que tenhamos padel. Iremos analisar se realmente justifica a quantidade de pessoas que querem e se vêm depois praticar, porque ter padel para não praticarem não vale a pena.
João Koehler falou na necessidade de reestruturação do Grupo FC Porto e em cortes no Porto Canal. Está em estudo um emagrecimento da estrutura empresarial do FC Porto?
Está em termos de mudança de sistema. Consideram, as pessoas que fizeram estudos, e é um estudo internacional, que o FC Porto tem empresas a mais, que às vezes é uma confusão da Porto Comercial e a Porto Estádio e a Porto Seguro. Então, vamos racionalizar. E, naturalmente, isso dará possibilidade de cortes. Por exemplo, os vencimentos das pessoas do Porto Comercial vão passar a ser responsabilidade da empresa com que fizemos aquele acordo. Em termos de clube, já baixa custos. Agora, não quer dizer que não vamos manter a estrutura ou não dar condições para que o FC Porto melhore muito.
No sábado espera que corra tudo bem, que não haja problemas no ato eleitoral?
Não percebo a pergunta.
Que não haja desacatos, que não haja confrontos entre elementos das duas listas?
Porque é que há de haver?
Porque houve recentemente uma Assembleia Geral em que as coisas descambaram...
Descambaram, mas eu espero que desta vez não haja apelos, como houve em relação à Assembleia, que correu muito mal, da candidatura da lista B de que vão todos, filmem tudo, falem com os jornalistas, chamem a polícia... Já viu nalguma AG do Mundo alguém a pedir aos sócios para irem filmar tudo e irem à polícia? Isto é a preparação de um clima de violência. Como ainda não vi nenhum apelo para filmarem e chamarem a polícia estou tranquilo que correrá tudo como na última AG.
Villas-Boas mostrou-se preocupado com o facto de uma fatia de associados não ter as quotas em dia. É uma preocupação que partilha?
Os sócios que não têm as quotas em dia têm a oportunidade de as pagar. Não somos nós os culpados de pagarem ou não. Tem havido muitos a colocar as quotas em dia, num sinal de que querem votar. Ninguém pode ser acusado de os sócios não terem as quotas em dia. Se quiserem pagar, está lá a caixa aberta.
Mas é um apelo que faz, a que regularizem as quotas para poderem votar?
O apelo que faço é este: votem. Mas antes de votar leiam o Correio da Manhã, o Record, ouçam a CMTV, leiam A Bola, façam o vosso juízo e depois votem. Se acharem que o CM não quer o mal do FC Porto, se acharem que a CMTV quer o bem do FC Porto... peço que ouçam os programas e vejam o que eles querem e votem no que acharem, que é melhor para o FC Porto.