Outrora desfrutámos de Van Basten, Ronaldo, Batistuta e Baggio. Hoje, com todos os grandes clubes bem vestidos, os avançados cheios de pinta e golo prometem levantar a Serie A.
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No verão de 2013 havia na equipa do Palermo dois rapazinhos que tinham a fome de 100 bestas. O clube, que até começou a época treinado por Gennaro Gattuso mas que terminaria com Giuseppe Iachini, garantiria a promoção para o lago dos tubarões. Os dois rapazinhos nem sequer figuraram nos dez melhores marcadores, mas quatro anos depois estamos perante o talento mais próximo de Messi na seleção argentina e um tal de Andrea Belotti, que marcou o golo em baixo este fim de semana, por quem o Torino pede 100 milhões de euros. Os dois voltam a fazer estragos na mesma cidade, mas com escudos diferentes...
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Foi precisamente contra o seu antigo Palermo que Belotti fez história em março, superando Andriy Shevchenko. O Palermo até vencia desde os 30', mas, entre os 73' e 81', o senhor Belotti assinou o hat-trick mais rápido da Serie A. É fácil falar deste avançado italiano de 23 anos, natural de Calcinate, agarrando os números que às vezes não falam verdade: Torino terminou em 9º, Belotti marcou 26 golos. Não é brincadeira.
Paolo Dybala, tantas vezes associado aos clubes de fábula como Real e Barcelona, ficou na Juventus e recebeu a camisola 10, a tal que foi vestida por Platini, Roberto Baggio e Del Piero. O craque de 23 anos falou em responsabilidade, mas também avisou que estava pronto. E estava: leva quatro dos sete golos da Juve em duas jornadas (+2 na Supertaça de Itália). Mesmo que não soubesse o caminho para o bailarico das redes, tem um pé esquerdo divino e cada vez que tropeça na bola ameaça um suspiro do céu.
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Esta Serie A está a fazer lembrar os idos anos 90. Ora vejamos o que se passou na lista de melhores marcadores na época passada: Dzeko-29 (Roma), Mertens-28 (Nápoles), Belotti-26 (Torino), Icardi-24 (Inter), Higuaín-24 (Juventus), Immobile-23 (Lazio), Insigne-18 (Nápoles), Borrielo-16 (Cagliari), Keita Baldé-16 (Lazio) e Alejandro Gómez (16).
O Milan procura este ano regressar do deserto seco, sem classe nem glória, e gastou muito dinheiro. Para o ataque foi buscar André Silva ao FC Porto, por quase 40 milhões de euros. O português ainda não está, por enquanto, no lote em cima. Tem que pedalar num campeonato implacável. A concorrência na equipa é forte, com o surpreendente surgimento de Patrick Cutrone (19 anos) e a chegada de Kalinic (Fiorentina). A equipa de Florença foi buscar o filho de Simeone para substituir o croata.
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Este exercício não ficaria completo sem uma viagem na máquina do tempo. Moedinha, se faz favor: 1990. A Sampdoria foi campeã, com aquela dupla maravilha: Roberto Mancini e Gianluca Vialli. O Milan tinha Van Basten, Marco Simone e um garoto que daria na vistas no Bayern -- Élber; Klinsmann estava no Inter, enquanto um jovem Brolin ia aparecendo no Parma. A Juve, que desiludiu muito em 90, contava com Roberto Baggio e Casiraghi. A Fiorentina já desfrutava da potência e disparos de Gabriel Batistuta, um dos bombardeiros mais respeitados daquele campeonato.
Outra moeda, se faz favor: 1995. O vencedor do scudetto foi o Milan de Baggio, Weah e... Paulo Futre. A Juve já tinha aquele ataque que seria campeão europeu poucos meses depois: Ravanelli, Vialli e Del Piero. Na Lazio Boksic, Signori e Casiraghi tratavam dos golos. A Roma contava com Abel Balbo, Delvecchio, Daniel Fonseca e Francesco Totti, com 19 anos. O Parma tinha meninos como Pippo Inzaghi, Zola, Asprilla e Stoichkov. Apesar destas bazucas todas apontadas às balizas, os três melhores marcadores foram mais ou menos surpresas: Signori-24, Protti-24 (Bari) e Enrico Chiesa-22 (Sampdoria).
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Pelo meio, entre 1990 e 2017, tivemos direito a outros espetáculos de alto gabarito com Ronaldo, Crespo, Trezeguet, Vieri, Ibrahimovic, Shevchenko e tantos outros. Aquele país sempre foi um ninho de bombardeiros, pelo que a forma da bota no mapa não deva ser por acaso.
Mais de 20 anos depois, estamos perante um campeonato renovado, com todos os grandes clubes bem apetrechados no ataque. E, pelo que vimos, até os mais pequenos têm poder fogo. Resta saber se esta vaga de talento no ataque intoxica os génios e bons jogadores espalhados pela Europa. É que há muita gente com saudades da verdadeira Serie A...