Sente-se indesejado em Portugal, mas não desiste de treinar. Queria estar no País, mas a vida levou-o para a Tailândia, onde, longe dos holofotes da fama garante estar feliz. Saber ensinar é uma virtude da qual não abdica. Recusa implorar um lugar no futebol português.
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Manuel Cajuda matou saudades da língua portuguesa, através de um longo contacto estabelecido pela TSF. Agradeceu terem-se lembrado dele. Diz-se grato ao futebol português e a tudo o que lhe proporcionou, mas também tem a certeza de que é um indesejado por cá.
"Tenho que aceitar que sim. Dá-me vontade de rir, porque sou um otimista por natureza, mas claramente tenho de admitir que sim", afirmou em entrevista à TSF.
Sente-se como um tio deste novo Sporting de Braga, que orientou durante a presidência de João Gomes Oliveira. Afirmou-se feliz por constatar que António Salvador soube manter o sonho de pé e dar outra dimensão ao mesmo. Recordou a fantástica época em que levou o Vitória de Guimarães à Liga dos Campeões. Não esquece os sucessos, que após o Euro-2004 foi forçado a procurar no Egito, Emirados Árabes e China. Sente que está a cumprir com o que lhe foi pedido na Tailândia, pelos dirigentes do BEC Tero Sasana. Por isso, é com naturalidade que recusa que se pense que é apenas mais um treinador.
"Eu não sou um treinador daqueles que saiu na farinha amparo, no futebol português. Eu sou um treinador com prestigio, com uma carreira construída ao longo dos anos, com classificações importantes, com qualificações constantes para a Europa, com resultados, com êxitos em equipas de menores dimensões".
São mérito que ninguém lhe pode retirar, nem sequer na Tailândia, onde o futebol local praticamente não tem expressão no mundo. Manuel Cajuda sabe que não pode aplicar a cartilha habitual no planeamento e no treino. Teve de se adaptar às condições que tem, e que na grande maioria dos casos, são de pouca qualidade. Contudo, mesmo em cenários de algum caos, soube encontrar aspetos positivos.
"É evidente que eu sei que estou num futebol menor, mas estou a fazer uma coisa muito importante, que é conseguir ensinar aos outros. Isso talvez seja mais importante que estar num futebol maior, onde a degradação do estatuto de treinador tem sido impressionante, e isto tem acontecido em Portugal"
Manuel Cajuda afirmou que para isso, muito contribui a pouca consulta a treinadores sobre os meios que deseja ter, para atingir um determinado objetivo, e a quem apenas são exigidos resultados. Esse é um dos motivos que não lhe permite implorar por um emprego em Portugal.
"Se para treinar no futebol português eu tiver de mendigar, então nunca mais vou treinar em Portugal. Isso não me incomoda nada, porque a bola é redonda em qualquer um dos países onde ando a treinar. Curiosamente, ainda não encontrei em nenhum desses países uma bola quadrada", sublinhou.
Em final de conversa, pediu para não terem pena dele, porque está a trabalhar e a ser pago para estar num local onde muitos apenas podem sonhar em passar férias.